Mas em 1990 dois garotos desconhecidos pegara a voz e puseram uma classuda batida a lá Soul 2 Soul (o que de melhor já foi feito em matéria de dance e r&b) e fizeram essa versão. Desta vez não apenas a voz. Mas ainda assim uma canção poderosa.
Um desses álbuns fundamentais é L’Eau Rouge, segundo disco da banda suíça The Young Gods. O combo suíço apresentou a ouvidos brasileiros o verdadeiro significado de “rock industrial”, numa época em que industrial muitas vezes era confundido com EBM (electronic body music – dos também históricos belgas do Front 242) ou New Beat (do também belga Tragic Error).
Samples, colagens, mixagens de guitarras barulhentas, música clássica, polca em uma música ao mesmo tempo lírica e furiosa. Mas o que na época fez dos suíços únicos foi o fato de cantarem em francês.
Long Route
Rue des Tempetes
L’Eau Rouge
La Fille de la Mort
L’Amourir
Posteriormente eles começaram a cantar em inglês, visando a entrada no mercado norte-americano. Com isso parte do charme e da originalidade da banda se perdeu, o que não impediu que eles ainda gravassem músicas poderosas.
Gasoline Man
Kissing the Sun
Salomon Song (Kurt Weil)
Seu último lançamento é o álbum acústico (????) Knock on the Wood, onde os suíços fazem versões com violões e outros instrumentos para suas canções anteriormente forjadas em computadores, sintetizadores e samplers.
The Young Gods in Venice (Knock on the Wood)
I’m the Drug (acústica)
Long Route (acústica)
Não estão mais tão jovens. Mas o The Young Gods ainda está anos-luz à frente da música atual, como estavam em 1989.
A Copa da África do Sul está sendo uma bela celebração. Embora ainda haja terríveis desigualdades e desmandos, é emocionante ver um povo que foi tão horrendamente oprimido manifestar sua alegria, seu contentamento e sua cultura como os sul-africanos tem feito.
E não há como falar em cultura sul-africana sem lembrar da Mama Africa, Miriam Makeba, que além de grande cantora foi importante ativista anti-apartheid. Exilada, impedida de entrar em sua terra natal e por fim tendo sua cidadania revogada, Makeba representou na música o que Mandela e Desmond Tutu representaram no ativismo político.
Sua canção símbolo, Pata Pata, foi cantada pela linda cantora Lira na festa de abertura da Copa.
Portanto, discordo do (esteticamente belo) comercial da ESPN narrado pelo Bono, que diz que isso (a copa) não tem nada a ver com política, com direitos. Tem sim tudo a ver. Tem a ver sim. Tem a ver com o resgate da cidadania de um povo inteiro.
Bertold Brecht é um dos nomes fundamentais do teatro do século XX. Criador do chamado “teatro épico”. Segundo Brecht, o drama burguês, com sua técnica realista, procura a identificação emocional e o enlevo. Seu objetivo era outro. Ao invés de mostrar, narrar. Ao invés de identificar, estranhar. Através do estranhamento e do distanciamento, o espectador conseguiria analisar e aprender, ao invés de se enlevar e se emocionar. A busca era sempre a da análise crítica.
Uma das principais ferramentas de estranhamento utilizadas por Brecht era a música. Seus principais colaboradores musicais foram Hans Eisler e Kurt Weil.
Só que a obra de Weil foi tão excelente que alçou vôo próprio. O próprio Brecht temia que as canções de suas peças mais belas como “The Rise and Fall of the City of Mahagonny” e “The Three Penny Opera” encantariam tanto o público que eles seriam levador por elas, ao invés de as utilizarem como elemento de estranhamento.
Bem, havia o risco.
Em 1997 uma série de importantes artistas como Lou Reed, Nick Cave, P.J.Harvey e outros lançaram September Songs, uma coletânea com algumas das principais canções de Weil e Brecht.
Alguns tostões:
Nick Cave – Mack the Knife
P.J. Harvey – Ballad of the Soldier’s Wife
David Johansen – Alabama Song
William Burroughs – What Keeps Mankind Alive
Lou Reed – September Song
Lotte Lenya – Jenny the Pirate
Um exemplo de peça teatral e musical em estilo brechtiano foi “A Ópera do Malandro”, com “O Malandro” sendo uma versão de “Mack the Knife” e “Genni e o Zepelin” uma adaptação de “The Pirate Jenny”.
Não. Este epíteto nunca foi utilizado para qualificar o The Police. Mas não seria nenhum absurdo se fosse. Primeiro, porque todos eles eram músicos virtuosos. Na época em que a simplicidade do punk e da new wave combatiam os excessos virtuosísticos, operísticos e pseudo-eruditos de um rock progressivo já em estado de decomposição, os três rapazes eram quase que uma exceção á regra, pois sabiam tocar e muito. Em segundo lugar, porque eles venderam milhões e milhões, chegando no ano de 1984 a serem realmente a mais popular banda de rock de então, antes da ascensão do U2 ao posto (assumido em 1987 com Joshua Tree). Por fim porque… ora, porque a música deles era simplesmente sensacional.
Melodias pop extremamente bem executadas. Reggae, rock, ska, um toquezinho de funk aqui e acolá, sofisticado (os três eram músicos com formação jazzística) mas sem soar pretensioso. Dançante. Enfim… Eu tive minha chance na turnê de reunião em 2008. Mas não deu. Assisti pela televisão mesmo. E digo, melhor seria se nem tivesse, pois basta a memória das melhores músicas compostas no final dos anos 70 e início dos 80.
Poucas bandas conseguiram ser tão influentes em tão pouco tempo. Um álbum lançado durante sua atividade. Um póstumo. Algumas coletâneas de singles, faixas ao vivo e sobras de gravação. Tudo isso foi suficiente para que o Joy Division fosse alçado às alturas míticas da música.
Injustamente chamado de “último romântico” do rock, graças às letras desesperançadas e seu suicídio, Ian Curtis na verdade cantava com mais lirismo que seus antecessores e seus contemporâneos a angústia, a falta de perspectiva e a crise econômica da Inglaterra do final dos anos 70.
Sua performance ao vivo era poderosa e agressiva, enquanto sua música soava mais esparsa, etérea e árida em estúdi, graças à contribuição de Martin Hannett.
Nunca antes na história da música deste país se viu tamanha revolução. E nem depois. Em plena efervescência da década de 70, ainda bebendo da fonte da tropicália, surge o grupo Secos e Molhados.
Misturando glam rock, rock progressivo e MPB, o som da banda era definitivamente inovador, ao mesmo tempo brasileiro e cosmopolita. João Ricardo, o líder, era talentosíssimo compositor. Mas nada disso seria coisa alguma não fosse pela entrada de Ney Matogrosso. Por mais que João Ricardo fosse o cérebro, Ney era o rosto e a alma.
Ney tinha a voz. Mas não apenas. Tinha (e tem) uma presença de palco que pouquíssimos artistas tem. Seu jeito de dançar, ainda mais nos repressivos e militares anos 70, era ao mesmo tempo libertário e ofensivo, pois chocava a moral de então, sem nunca parecer grosseiro ou forçado.
E tinha o visual. A adoção de maquiagem, que muitos atribuiram como fonte de inspiração para que os americanos do Kiss também adotassem (nunca confirmado – aliás, o Kiss é outra banda que também se inpirou no glam rock e no glitter de Gary Glitter, T-Rex, Slade e Alice Cooper) criou uma identidade instantânea. E o grupo virou um sucesso instantâneo.
Vendeu muito. Lotava ginásios por onde passavam. E tão rápido quanto ascenderam, saíram da cena. Com a saída de Ney Matogrosso, por mais que muitos digam ser João Ricardo o responsável pelo SM, a banda virou apenas pálida lembrança daquele turbilhão que varreu o Brasil em 1973/1974.
Nada antes chegou perto do impacto que o SM teve na música brasileira. Nem a Tropicália. E muito menos depois, com o roquinho comportadinho e mauricinho dos anos 80 e com o rock infantilóide e comercial dos anos 90/2000.
Paixão. Sofrimento. Morte. O passo necessário pra redenção.
Mas, depois de Baudelaire, quem há de negar que o horrível, que o terrível não pode ser sublime?
E Johann Sebastian Bach foi o que mais sublimemente tratou a paixão. Entre a sanguinolência sensacionalista do neocon Mel Gibson e a beleza inefável de Bach, fico sem pestanejar com a segunda opção.
O Sugarcubes é uma banda que se equilibra entre os polos de Bjork Guðmundsdóttir (entenderam porque ela é conhecida só pelo primeiro nome?) e Einar Örn, com uma música simples, mas climática, vibrante e energética. A musicalidade ao mesmo tempo anacrônica e idiossincrática, talvez fruto do isolamento de se viver na Islândia (em época pré-imediatismo internético) é deliciosa, fresca e bela. Como era fresca e bela Bjork aos 19 anos de idade.
O disco abre com a sorumbática Traitor, prenunciando o clima do que viria a seguir. Depois das pops e dançantes Motorcrash e Delicious Demon, somos apresentados ao núcleo da obra da banda. Birthday, Coldsweat, Deus e Blue Eyed Pop.
Essas canções apresentam a expressão vocal de Bjork no seu auge, oscilando entre a delicadeza de Deus à dissonância rasgada de Birthday. A contribuição contida de Örn acrescenta o toque necessário de dramaticidade às canções pop, perfeitas, bem acabadas do álbum. Depois há a divertida Sick for Toys e o impagável rockabilly de Fucking in Rythm & Sorrow.
O álbum representou a estréia, o auge e o canto do cisne dos Sugarcubes. O segundo álbum não manteve o mesmo nível, até pelo desequilíbrio, já que Einar Örn passou a assumir um papel mais presente nas canções, berrando feito um louco e abafando a voz da Bjork. Aliás, nem em carreira solo (embora fosse por décadas a musa dos moderninhos de butique) Bjork chegou perto do que mostrou neste álbum. Pois é. A vida é boa demais. Pena que é curta.
O Cocteau Twins surgiu no final dos anos 70 a reboque da efervescência punk/pós-punk que tomava de assalto o Reino Unido. Mas o que a princípio parecia mais um desdobramento da musicalidade de bandas como Siouxsie & The Banshees ou Joy Division acabou se expandindo e se sofisticando de uma maneira inigualável no cenário musical dos anos 80 e 90.
A banda (surgida na Escócia formada por Robin Guthrie, Will Regie – substituído posteriormente por Simon Raymonde, Elizabeth Fraser e uma bateria eletrônica) começou com uma música fortemente inspirada no punk, com guitarras distorcidas e microfonias, conforme registrado no álbum Garlands e no EP Lullabies viu seu som evoluir para uma série de camadas de guitarras, violões e efeitos sonoros, aliado ao vocal cada vez mais etéreo e initeligível de Liz.
A segunda fase do grupo, mais etérea e climática, viu o lançamento de álbuns como Head Over Heels, Treasure, Victorialand (um álbum inteiramente acústico – contranstando com o som da banda fortemente calcado nos efeitos eletrônicos sobre a guitarra) e Blue Bell Knoll, além de um álbum em conjunto com o compositor de ambient music Harold Budd, The Moon and The Melodies e um sem número de EPs e singles.
Em 1991 o Cocteau Twins tocou no Brasil, em São Paulo no já desativado Projeto SP, na turnê do álbum Heaven or Las Vegas. E eu estive lá. Em 1997 a banda se desfaz, deixando para trás uma longa discografia e um vácuo que nenhum outro artista foi capaz de ocupar.
Há entre mim e Portugal uma relação de afeição improvável. Improvável porque nunca estive em Portugal. E também porque nós, brasileiros, não costumamos buscar o que vem do outro lado do Atlântico. Claro, há as influências mais óbvias e claras, na arquitetura, na culinária, enfim. Mas nós não buscamos voluntariamente conhecer ou usufruir o que a cultura portuguesa contemporânea nos oferece.
E eu sou, talvez, um dos poucos brasileiros jovens (ainda me considero jovem, não sei por quanto tempo) que se interessa por música portuguesa. E entre os destaques, há Mísia, Maria de Medeiros e Dulce Pontes.
Mísia é filha de portugueses e catalães e faz parte da nova geração que moderniza a música tradicional portuguesa, cantando também em francês, catalão e espanhol.
Maria de Medeiros é mais conhecida como atriz, tendo atuado em Pulp Fiction, O Xangô de Baker Street e mais recentemente em O Contador de Histórias, entre dezenas de outros. Depois de décadas na carreira cinematográfica, a atriz portuguesa passa a se dedicar à música, não revisitando a tradição, mas fazendo uma intersecção com a música brasileira ao gravar Caetano Veloso, Chico Buarque e Ivan Lins.
Por fim Dulce Pontes. A mais “velha guarda” das três, também a mais conhecida no Brasil, principalmente por “Canção do Mar”, trilha sonora de vários filmes, inclusive da novela As Pupilas do Senhor Reitor, novela do SBT baseada no romance de Julio Diniz.
Ah, Portugal. Tua música pode não ser do gosto geral aqui no Brasil, mas quem a aprecia se deliciará.
Jorge Camargo é da quase “velha guarda” da música evangélica. Quando começou sua carreira, nos já quarentões Vencedores Por Cristo, foi considerado um virtuose precoce, que cantava, tocava, compunha antes dos vinte anos de idade.
O tempo passou e o talento amadureceu.
Hoje, dado o estado quase comatoso da música evangélica (apesar da aparente pujança mercadológica e da profusão de novos lançamentos), onde de um lado há a indigência musical, de outro, a pobreza absoluta lírica e de outro a deturpação do evangelho, ouvi-lo é praticamente um oásis no meio do deserto da mediocridade.
Mas além de compor e cantar, Jorge tem se dedicado a escrever, a traduzir e a se aprimorar intelectualmente. Ultimamente, além de seus álbuns, livros traduzidos e outros, tem escrito na revista Ultimato, de onde eu retirei a meditação abaixo:
Um sonho de igreja Jorge Camargo
Em 2001 passei aproximadamente um mês na África, especificamente em Angola, na cidade do Lubango.
Na época o país ainda estava em guerra (que terminou em abril de 2002). A cidade, como o restante da nação, sofria as mais variadas consequências do conflito que se iniciara: primeiro em busca da independência de Portugal, depois descambou num confronto fratricida.
Em meio a tantas dificuldades, observei que havia muitas igrejas de origem protestante na cidade representando várias denominações. Na comunidade onde o grupo que eu liderava trabalhou, muitas eram as atividades desenvolvidas em prol da comunidade como um todo. E em uma cidade sem qualquer tipo de opção de lazer e de cultura, a igreja se tornara um ponto de encontro, um pólo produtor de atividades culturais em suas mais variadas formas: música, dança, teatro, artesanato etc. Um autêntico oásis num deserto de opções e de carências.
No meio daquele caos social, tive um vislumbre do que entendo ser a contribuição da igreja ao mundo. Sonhei uma igreja. O que seria de nós sem a possibilidade de sonhar?
Vamos ao sonho:
Uma igreja cujo templo está localizado no centro da cidade, de fácil acesso e muita visibilidade.
Suas portas estão abertas diariamente (ao contrário de muitos edifícios religiosos que funcionam somente nos dias de culto e que no restante do tempo permanecem trancafiados). Além dos cursos profissionalizantes, do atendimento aos necessitados, das parcerias com a prefeitura, o estado, o governo federal e a iniciativa privada, a igreja também possui um intenso calendário cultural que, diferente de outras que utilizam somente as datas cristãs para promover seus musicais, abre o espaço de seu imenso palco a uma programação intensa que contempla todos os estilos de música. Às quintas, por exemplo, uma camerata se apresenta no templo com repertório barroco e entrada franca, de modo que os moradores da cidade que apreciam música erudita têm oportunidade de assistir um concerto gratuito, além de apreciar os vitrais da velha catedral protestante, e tomar um delicioso café no salão, servido pelos membros da comunidade, que usam esse tempo como oportunidade para servir e estabelecer amizades. Sem proselitismo. Sem forçar a barra. Amizade genuína e desinteressada.
Às sextas as noites são de rock pesado. Os adolescentes e jovens da igreja, instruídos que são a cultivarem amizades fora dos muros de seu templo, veem na programação mensal, que inclui o concerto de rock, uma oportunidade de convidar seus amigos a conhecer o espaço e ouvir a música que ambos apreciam. E assim estarem mais perto. Curtirem a oportunidade de ser gente no meio de gente. Bem ao estilo de Jesus, que amava as festas e a possibilidade de estar cercado de pessoas.
No rodízio de programação incluem-se shows de MPB, música alternativa, música instrumental de estilos variados, palestras sobre música e cultura, musicoterapia etc.
Algumas manhãs e tardes são reservadas às exposições: pintura, escultura, gravura, fotografia.
Há também as mini-temporadas teatrais, os saraus, com leitura de poemas, os lançamentos de livros.
Quantas opções de difusão de arte e cultura forem concebidas e viabilizadas no espaço singelo de um templo! No espaço do coração e da mente arejada de uma comunidade que existe para servir o mundo e contagiá-lo com boas obras, serviço abnegado e amor sem limites.
Estou perto de despertar de meu sonho quando alguém toca em meu ombro e diz: “Quero agradecer ao pastor da igreja por abrir as portas do templo e do coração para me receber. Não imaginei que esse espaço pudesse servir a tantas possibilidades. Qual é mesmo o horário dos cultos aqui?”.
Acordo acreditando que a igreja ainda possa ser lugar de encontro, de acolhimento, de sorriso, de mentes e corações desarmados.
Mas tudo isso ainda é apenas um sonho.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. http://www.jorgecamargo.com.br
Misture glam rock, baixo regueiro, apresentações altamente teatrais e estética expressionista. O resultado é Bauhaus. A banda cuja influência é diametralmente oposta às suas vendas de discos entre 1979 e 1983, curto período de sua primeira existência.
Sua música soturna e estética sombria foram, juntamente com Siouxsie and the Banshees e o primeiro The Cure (entre 1979 com Seventeen Seconds e 1982 com Pornography) definiram o que nos anos 80 veio a ser conhecido como gótico.
Depois de uns quinze anos de separação os membros originais, Peter Murphy (de carreira solo bastante elogiada mas de poucos sucessos comerciais), Daniel Ash (cuja banda Tones on Tail fez relativo sucesso ainda nas barbas do Bauhaus), David J e Kevin Haskins (irmãos e parceiros de Ash na banda Love and Rockets) voltaram a se reunir para uma turnê, registrada no álbum Gotham. Voltaram novamente para o último álbum de inéditas, mas sem o mesmo impacto de seus anos de início.
O ano foi 1988. Naquela época não existia internet, nem a tecnologia barata de reprodução de CDs, ferramentas que facilitaram imensamente a divulgação e propagação de tudo quanto é informação e novidades no mundo da música. Para se antenar com as novidades, só recorrendo a revistas importadas (Melody Maker, New Musical Express), fanzines, alguns esparsos programas de rádio que davam espaço para a música independente (na 89 fm – Rádio Rock, Brasil 2000). Para divulgar os novos sons, as bandas recorriam às famigeradas “demo tapes”, fitas cassete gravadas artesanalmente, geralmente em estúdio alugado pela própria banda (com poucos recursos), com capa tosca e qualidade de áudio sofrível. Alguns lugares davam espaço para a música independente, algumas poucas gravadoras independentes. Em São Paulo existia a Woodstock Discos, especializada em heavy metal. Na galeria do Rock existia a Baratos Afins, que lançou a fina flor do rock independente paulista dos anos 80 além da MPB experimental de gente como Itamar Assunção. Outro selo independente paulistano, este localizado numa galeria da Rua Barão de Itapetininga, era a Wop Bop. Um dos lançamentos da Wop Bop daquele ano foi o álbum Fairy Tales, da banda santista Harry. O som da banda, da época em que para se fazer música eletrônica era preciso investir uma boa grana em equipamentos caros e de difícil manuseio, transitava entre o tecnopop do New Order e o EBM do Front 242, mas como as informações circulavam em uma velocidade muitíssimo mais lenta naquela época e o isolamento era muito maior, quem enveredasse por aqueles caminhos acabava por desenvolver um som particular, descolado de “movimentos” coordenado. A banda era então formada por Hansen, Di Giácomo, Verta e Johnsson e eles gravaram o álbum Fairy Tales que continha letras em inglês, barulhinhos eletrônicos, baixo, guitarra, bateria, teclados, programação eletrônica e samples de discursos de Getúlio Vargas, gaitas de foles e ruídos de guerras. Um clássico do rock brasileiro dos anos 80, versão independente. Eu tinha em versão cassete.
Sky Will Be Grey
Genebra
Joseph in the Mirror
You Have Gone Wrong
Lycanthropia
Depois de Fairy Tales (que pode ser baixado na íntegra aqui), a banda lançou Vessels Town, produzido pela lendária gravadora Stiletto e depois entrou em um longo período de inatividade. Retornou aos palcos recentemente, numa época mais propícia para a produção artística independente, onde a internet e as tecnologias de reprodução permitem que mais artistas lançem suas obras publicamente.