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Termina lá, começa aqui

A temporada está terminando na Europa. A Inglaterra já conhece seu campeão, o Chelsea, em uma temporada surpreendentemente emocionante. Emocionante não pelo fato de ter sido decidida na última rodada entre Chelsea e Manchester United, afinal esses dois times ganharam os últimos seis campeonatos. Mas pelo fato de ter sido finalmente quebrado o chatíssimo clube do Big Four. Tottenham e Manchester City disputaram até a penúltima rodada a vaga na próxima UEFA Champions League, e até o Aston Villa aspirou tal feito. A entrada do Tottenham no Top 4 é auspiciosa por dois motivos: primeiro, porque o time ganhará cacife financeiro para continuar evoluíndo e até quem sabe galgar mais um degrauzinho na tábua de classificação. Segundo porque inevitavelmente o City fará parte desse clubinho em uma ou duas temporadas, já que os árabes não pouparão petrodólares para turbinar seu brinquedo. Portanto, isso garante pelo menos seis clubes brigando, não apenas quatro.

Na Alemanha também terminou. O Bayern Munique levou na última rodada e o Shalke 04 terminou como vice (grande novidade). A UCL verá além dos dois rivais o Werder Bremen, que bateu um Bayer Leverkusen que foi do céu ao inferno em dois meses, passando de líder para quarto colocado em uma sequência incrível de maus resultados.

Itália e Espanha conhecem seus campeões neste fim de semana, com Inter e Barcelona favoritos, enquanto Roma e Real Madrid correm por fora. França também já tem o Olympique Marseille como novo campeão (algo que não ocorria a 18 anos). A primeira edição da Europa League conheceu seu primeiro campeão, o Atletico de Madri que batera o Fulham. Agora algumas copas nacionais serão definidas, além da grande final da UCL no Santiago Bernabeu.

Pois bem. Enquanto a temporada da Europa termina em clímax, com finais, campeões, coroações e todos os torcedores de futebol se preparando para a Copa do Mundo que iniciará em apenas 27 dias, no Brasil começou o Brasileirão.

Brasileirão que começa auspicioso. As duas partidas que assisti, Flamengo 1 x 1 São Paulo e Botafogo 3 x 3 Santos foram excelentes. Além disso outros times mostraram boa capacidade de fazerem boas campanhas, como o Atlético Mineiro e o Corinthians. Palmeiras venceu, mas mostrou muitas falhas e certamente lutará pelas posições intermediárias. Ou como disse o comentarista Paulo Vinícius Coelho, o time espera apenas o ano terminar. Isso no início da temporada.

Mais anticlimático, impossível. Enquanto lá a temporada termina no auge apenas aguardando a cereja no bolo futebolístico, lá na África do Sul, aqui o nosso estúpido calendário conseguiu a proeza de quebrar a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, que terão a semifinal antes da Copa do Mundo e a final depois. Separadas por incríveis quarenta dias. O pior não é isso. O pior é ver o campeonato brasileiro interrompido após sete rodadas. Depois, quarenta dias para desmontar os elencos, saír às compras atrás dos refugos da Europa, trocar de técnico, treinar (coisa que nossa imbecil pré-temporada de doze dias não permite) e começar tudo do zero.

O compasso de espera é tamanho que os dois últimos campeões brasileiros entraram em campo com times mistos, um dos maiores clássicos do Brasil formado por duas fortes equipes que disputam a Libertadores também teve uma profusão de reservas (Inter x Cruzeiro) e até times que teoricamente jogam para não cair, ou no máximo para ficar em situação intermediária, como o Atlético GO ou o Vitória pouparam jogadores. O Grêmio enfrentou o Atlético GO também com time misto e empatou em zero a zero.

Após um primeiro semestre extremamente congestionado de datas, com estaduais hiperinchados, Copa Libertadores, Copa do Brasil e sete rodadas do brasileirão, haverá uma maratona de jogos após a copa, com dez rodadas em 32 dias, e aí começa a Sul Americana, para prejudicar a temporada de alguns times, que abandonarão a disputa do continental ora porque lutam por vaga no G4, ora porque não querem cair para a segunda divisão.

Calendário racional com uma confederação formada por bandidos e desonestos, com uma televisão que consegue dobrar até a prefeitura e a câmara de vereadores de São Paulo para impor o horário das partidas para que elas não prejudiquem suas novelas, com clubes covardes e subservientes e cartolas vendidos e corruptos, infelizmente nunca veremos.

Se antes eu julgava não necessário a adequação do calendário brasileiro ao europeu, hoje eu penso diferente. Acho necessário essa harmonização por vários motivos. Primeiro, porque permiria que os clubes brasileiros participassem do rico mercado de torneios e amistosos de pré-temporada na Europa, Ásia, América do Norte e África. Este expediente permite que Manchester United, Chelsea, Barcelona e Milan ampliem cada vez mais sua base de torcedores/consumidores e eles faturam cada vez mais alto com venda de produtos. Segundo porque permitiria a harmonização do calendário de clubes com o de seleções. Nós não mais teríamos nossos campeonatos prejudicados por Copa América, Copa das Confederações, Copa do Mundo. Também os melhores clubes não seriam mais penalizados por terem seus jogadores convocados pela seleção, coisa que acontecerá agora, com Flamengo perdendo o Kleberson e o Fierro, o Santos perdendo o Robinho e outros.

Infelizmente, nós torcedores de futebol somos obrigados a termos um produto meia-boca graças à incompetência gerencial, pois potencial há para ser um dos três ou quatro melhores e mais rentáveis futebol do mundo, junto de Inglaterra, Itália, Alemanha e Espanha. Mas os medíocres matam a galinha dos ovos de ouro (sempre) por pura ganância.

P.S. Aqui há uma série de textos escritos sobre o tema do calendário brasileiro de futebol.

P.P.S. Aqui há uma proposta fictícia de calendário, criada por mim em uma tarde. Isso mostra que se gente séria fizesse isso, haveria grande possibilidade de termos um calendário decente. Mas não há gente séria administrando o futebol brasileiro.

O país do futebol?

Na semana passada me indignei com um absurdo sintoma do doente e combalido futebol brasileiro: o aluguel de times de futebol. E nem estava me referindo aos novíssimos times de prefeituras, de agentes e empresários (embora estes sejam a metástase do fenômeno do aluguel de times de futebol), mas dos times do interior que, por disputarem um calendário quebrado e desconexo, não possuiam mais elenco, montando um time a cada quatro ou seis meses, abandonando categorias de base e servindo de vitrines de empresários.

Mas há outros aspectos que me intrigam nessa nossa cultura futebolística, na cultura do auto-intitulado “país do futebol”.

Um fenômeno interessante atual é a torcida por times estrangeiros.  Fenômeno impulsionado pela internet, tvs por assinatura e video-games, além de uma estratégia de marketing excelente que transforma os clubes europeus em marcas globais que competem num mercado mundial ávido por futebol e que nossos clubes, graças a nosso calendário imbecil , não podem participar. Mas o interessante é que essa torcida “virtual”, torcida por um time que não faz parte do espaço geográfico do torcedor (portanto, só podendo ser exercida “virtualmente”, através dos meios de comunicação), é um fenômeno bastante anterior no futebol brasileiro.

Afinal, na década de 50, com a expansão do rádio e dos programas de integração nacional, o futebol carioca se transformou num fenômeno de massas. Sobretudo no nordeste. Em muitas cidades do nordeste existem mais torcedores de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo que de seus clubes locais. Há também o fenômeno do “torcedor de dois times”, o gajo que torce pelo time de sua cidade e também pelo time do “sul”. E há os engraçadíssimos “filhotes”, como o Botafogo da Paraíba, o Flamengo do Piauí e o Fluminense da Bahia. Esquecendo-se que Flamengo e Botafogo são nomes dos bairros onde tais clubes foram fundados e que Fluminense é o nome que se dá ao nascido ou habitante do Estado do Rio de Janeiro.

Mas isso não se restringe ao Nordeste. No interior de São Paulo há mais torcedores dos clubes da capital que dos clubes das cidades interioranas. No norte do Paraná há muitos torcedores de Palmeiras e Corinthians, enquanto no sul do Paraná e em Santa Catarina há muitos torcedores de Grêmio e Internacional.

Ora, sem torcida, como esperar que o futebol do interior do Brasil sobreviva? Não há time que se mantenha sem torcedores que comprem seus ingressos, suas camisas, seus produtos licenciados. Mas muitas vezes o interiorano prefere a experiência de se torcer por um grande e vitorioso time da capital a se ligar ao clube de sua cidade.

Portanto, clubes como Cardiff City, Watford, Middlesbrough e Leicester City, todos da segunda divisão inglesa, conseguem levar público médio em torno dos 20.000 por partida, enquanto Santos, Santo André, Botafogo e Goiás, todos times de grandes e populosos centros e disputando a primeira divisão, não chegam nem nos 15.000 pagantes.

Ora, se a cereja do bolo, a primeira divisão, não atrai um público decente, o que dizer dos times pequenos do interior do Brasil?

Tanto que 17 dos 20 clubes da série B do Brasileirão tiveram média de público inferior aos 10.000 torcedores.

Sim, é verdade que o processo de “virtualização” da torcida não é um fenômeno unicamente brasileiro. Tanto que a Juventus de Turin tem, estimadamente, cerca de um terço dos torcedores italianos como seus simpatizantes, e Manchester United e Liverpool tem mais torcedores na Inglaterra que moradores em suas cidades. Mas o fenômeno do abandono dos times locais pelos times mais glamourosos é bem mais evidente no Brasil.

Portanto, embora atraiam a antipatia geral, há de se dar ouvidos a jornalistas esportivos que não consideram o Brasil como O país do futebol. É o país onde se joga o melhor futebol, mas argentinos, italianos, ingleses e alemães gostam mais do esporte que a maioria de nós, brasileiros. Tanto que na mais recente pesquisa sobre torcidas no Brasil, 25% da população se declarou não torcedora de nenhum clube e que não gostam de futebol. Brasileiro, na verdade, não gosta de futebol. Gosta do seu time. E brasileiro não gosta de esporte. Gosta de torcer pelo vencedor. E esse fenômeno explica a “febre” do tênis durante o auge do Guga Kuerten e depois seu abandono, a “febre” da ginástica olímpica na época de Daiane dos Santos, para depois espezinhá-la e debochar dela ao não conseguir uma medalha olímpica, da “febre” da Fórmula Um na época de Senna e Piquet, seguida do deboche que beira o mau-caratismo em relação ao Barichello (outros países tiveram pilotos que ganharam menos, como o italiano Ricardo Patrese ou o austríaco Gerhard Berger, sem que eles fossem tão vitimados pela própria população).

Aluguel Futebol Clube

O especialista em calendário esportivo no Brasil Luis Felipe Chateaubriand afirma constantemente que uma temporada de futebol de sucesso deve ser racionalmente construída de maneira que seja otimizada nos seus aspectos técnico, comercial e sistêmico. Um calendário que privilegie o aspecto técnico é aquele que permite que os atletas tenham férias, pré-temporada (uma ilusão no Brasil) e tempo para treinar sem comprometer sua saúde. O calendário comercial ideal é o que garante aos cerca de 700 clubes profissionais jogos oficiais em cerca de dez dos doze meses do ano (os outros dois meses são o de férias e o de pré-temporada). E o aspecto sistêmico é o que é alinhado ao calendário mundial, sem conflito de datas com as datas de seleções e que permita que a competição principal (no caso, o Campeonato Brasileiro em suas séries A, B, C e D) seja disputado preferencialmente aos fins de semana enquanto os dias de semana são reservados às competições continentais (Libertadores e Sulamericana), regionais e à Copa do Brasil.

Não precisa ser lá tão astuto assim para perceber que o calendário brasileiro está longe, bem longe  de ser bom. Quanto mais ideal.

Enquanto um time europeu de um grande centro (Itália, Alemanha, Inglaterra, Espanha) joga cerca de 65 partidas por ano disputando três ou quatro competições (uma ou duas copas, a liga nacional e um torneio continental), um clube brasileiro disputará dez partidas a mais, caso chegue nas fases finais dos torneios. É uma carga bem maior para o atleta, ainda mais em um país ainda não habituado a rotação de elenco como são os europeus. E a coisa é pior, pois em geral há um excesso de jogos no primeiro semestre, com o estadual, a Copa do Brasil ou Libertadores e o início do Brasileiro colidindo e impedindo que um time se dedique integralmente às competições, e uma falta de jogos no segundo semestre. E os times que jogam a Sulamericana geralmente a abandonam, pois em geral disputam posições importantes no Campeonato Brasileiro e não possuem elenco para duas competições simultâneas. Um trabalho de asno, esse calendário da CBF.

Porém, o péssimo calendário gera uma distorção ainda maior. Como o Brasileirão começa a pegar fogo só por volta de junho, muitos empresários colocam seus atletas em times do interior de SP, MG e RJ para disputarem o estadual e depois os colocam em algum outro time para disputar o Brasileiro. Com isso, muitos times do interior não tem mais elenco. Esses times alugam alguns jogadores por alguns meses, depois desmancham o elenco, buscam outros atletas e disputam as séries inferiores (isso se disputarem) do Brasileirão. E o atleta passa a ser uma espécie de “trabalhador por contrato temporário”, jogando neste ou naquele time em época de pico, como os temporários contratados pelas lojas na época do natal.

Como esperar que o torcedor do interior tenha o mínimo de identificação com o clube de sua cidade ou com o atleta que veste a camisa de seu time, sabendo que o cara não irá ficar no time por mais de quatro meses? E que o time, na verdade, não existe, mas é uma espécie de camisa alugada por alguns empresários apenas para manterem sua mercadoria (os jogadores) se movimentando para não perder valor de mercado? Não dá, né.

Não por acaso, times tradicionais do interior do Brasil, como o Botafogo de Ribeirão Preto,  o Noroeste de Bauru, a Ferroviária de Araraquara e centenas de outros começam a perder espaço para times artificiais sustentados por empresários como o Atlético Sorocaba do Reverendo Moon, o Guaratinguetá, o Desportivo Brasil e o Grêmio Itinerante (já foi Barueri, agora é Prudente e o que será, ninguém sabe). São times que não tem e não terão torcida. São apenas criadouros de jogadores para serem negociados.

Enquanto seus donos saem por aí dizendo serem uma evolução esportiva, na verdade são o sintoma do sucateamento promovido pela CBF e pelas federações. Pois diferentemente dos clubes que são empresas na Europa ou mesmo as franquias esportivas nos EUA, esses clubes ganham dinheiro com aquilo que seria uma atividade-meio do futebol, a venda de jogadores , e não com a atividade-fim dos clubes de futebol, que é a disputa esportiva (e o eventual lucro que se obtem de patrocínios, transmissões, vendas de produtos e ingressos).

A CBF, enquanto sucateia o futebol brasileiro, ainda enche seus bolsos (e o do Ricardo Teixeira e de seus comparsas) com ele. Uns vampiros, por assim dizer.

A propósito. O Luis Felipe Chateaubriand já escreveu diversos livros sobre o calendário de futebol, entre eles “Futebol Brasileiro: Uma Proposta de Calendário“. Um livro de fácil leitura, claro e com propostas bastante factíveis. Uma leitura agradabilíssima para qualquer fã de futebol. Embora mesmo em sua simplicidade, os asnos que dirigem a CBF não foram capazes de absorver.

P.S. Aqui, mais uma série de postagens sobre o calendário (ou a falta de) do futebol brasileiro.

Os clubes mais ricos do mundo

Saiu a última edição do Deloitte Football Money League.

O relatório que aponta quais são os clubes mais ricos da Europa mostrou algumas modificações no ranking em relação ao ano anterior. Barcelona utrapassa o Manchester United e os dois espanhóis fazem a dobradinha na ponta. Na equipe inglesa o Arsenal ultrapassa o Chelsea, ocupando a quinta posição. E o clube fica mais restrito, só com participantes ingleses, espanhóis, italianos, alemães e franceses, já que o Fenerbaçe, único time de fora desse Top 5, não está mais na relação.

(gráfico retirado do site Olhar Crônico Esportivo – especializado em gestão e finanças do futebol)

Breves comentários:

  • O Manchester United teve aumento do faturamento, mas perdeu sua posição graças à desvalorização da Libra Esterlina frente ao Euro.
  • Há sete clubes ingleses no ranking, contra cinco alemães, quatro italianos, dois franceses e dois espanhóis.

Para efeito de comparação, aqui está o ranking do faturamento dos clubes brasileiros no ano de 2008 (os resultados de 2009 ainda não saíram).

Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo

Com mais um campeonato brasileiro às vésperas do término, campeonato emocionante, equilibrado e totalmente imprevisível, quase que desapareceram os rumores levantados pela Rede Globo (que deveria ser cliente, não gestora do futebol brasileiro – mas isso é outra história) sobre a volta dos campeonatos disputados na fórmula do mata-mata.

Não há como defender o mata-mata utilizando o  argumento da “emoção”, pois tanto esse campeonato quanto o anterior empurraram até a reta final todas as definições, mantendo a torcida, a imprensa e os que acompanham a disputa em suspense. Também não há como dizer que o campeonato em pontos corridos não seja interessante para a torcida, com publicos crescentes e audiências (baixas em média durante todo o ano) também em ascensão.

Apenas para exemplificar, a média de público atual está na faixa de 18.196 pagantes (até a 36ª rodada), enquanto em 2008 foi de 16.992, em  2007 foi 17.461 e em 2006 foi de 12.401 (fonte:  site da CBF). Segundo matéria do Globo Esporte, campeonato atual tem a melhor média dos últimos 22 anos (aqui). E a tendência de crescimento foi comprovada pelo Emerson Gonçalves, do blog Olhar Crônico Esportivo, ao analisar uma pesquisa feita entre os torcedores do estado de São Paulo, que se mostraram favoráveis à atual fórmula:

“A pergunta seguinte já entrou no gosto do torcedor pelo sistema empregado: Qual sistema de disputas prefere? Pontos corridos ou mata-mata?

Entre os que acompanham o campeonato, 64% declararam-se a favor dos pontos corridos, enquanto 26% optaram pelo sistema mata-mata, 3% declararam-se indiferentes e 7% não responderam.

Na divisão por sexo, 70% dos homens optaram pelos pontos corridos, contra 55% das mulheres.

Por faixa etária, 69% da rapaziada dos 16 aos 24 optou por esse formato, contra 61% do pessoal dos 25 aos 44 e 66% de quem tem acima de 45 anos de idade.

Considerando escolaridade, pontos corridos foi a escolha de 52% de quem cursou até a 4ª série, 62% de quem ficou entre a 5ª e 8ª séries do ensino básico, 69% de quem tem o ensino médio e 64% de quem tem curso superior.

Por faixas de renda os resultados foram também favoráveis a esse formato: 58% entre os que ganham até 2 salários-mínimos por mês, 61% entre os que ganham de 2 a 5 SM, 68% entre o pessoal de 5 a 10 SM e nada menos que 87% de preferência entre a turma de 10 ou mais salários-mínimos mensais.

Nessa altura da entrevista, o pesquisador colocou as seguintes frases:

– O campeonato de pontos corridos é melhor pois premia os times mais regulares e que investem melhor e também mantém a emoção até o final da disputa.

– O mata-mata é melhor pois permite que um time se destaque no final do campeonato e seja campeão, mesmo que não tenha tido uma campanha melhor que os outros.

Entre os que acompanham o Campeonato Brasileiro, 69% concordaram com a primeira frase e 26% com a segunda.” Texto completo, aqui.

Por um lado, a consolidação de uma fórmula, que é positiva pois premia por mérito não por sorte e permite que o clube continue auferindo renda até o final da temporada, traz mais credibilidade para o torneio junto à opinião pública. Por outro, não dá para se contentar com estes avanços, que sim, são importantes, mas insuficientes para garantir ao futebol brasileiro a modernidade necessária.

Ainda há a necessidade de um calendário racional, que segundo o Luis Filipe Chateaubriand é o calendário que atenda princípios orgânicos (integração com o calendário do futebol mundial), esportivo (mantém a competitividade e a atividade dos atletas de maneira equilibrada) e financeiro (permite que os clubes maximizem as receitas com o futebol).

E, para mim, um calendário racional passa pela adoção do ano europeu e uma completa reformulação das competições atuais, possibilitando aos clubes que disputam a Libertadores disputerem também a Copa do Brasil, racionalizando e integrando os campeonatos regionais no calendário, permitindo que os clubes brasileiros participem do extremamente lucrativo mercado de torneios e amistosos de pré-temporada (como já falara sobre isso aqui)  e minimizando os problemas de evasão de jogadores no meio do campeonato (falei sobre isso aqui). Até eu, a exemplo da Revista Trivela e da Revista Four Four Two elaborei uma proposta de calendário que permite essa racionalização (aqui).

Esta racionalização do calendário acabaria com a falsa oposição de pontos corridos x mata-mata, pois permitiria a realização de campeonatos nos dois sistemas (sendo a verdadeira questão termos campeonatos em pontos corridos E em mata-mata), com o Campeonato Brasileiro em pontos corridos, mas com Copa do Brasil, Libertadores, Copa Sulameircana e Campeonatos Estaduais disputados no sistema de play-offs, com suas finais realizadas no final da temporada, aumentando o clímax futebolístico do ano.

Resta vontade política, ação dos clubes (os verdadeiros donos do negócio) e o mínimo de seriedade para tirarmos o futebol brasileiro da era mezozóica e encararmo-lo como um negócio e um setor da economia, não como o quintal da casa de dirigentes corruptos.

P.S. O já mencionado Luis Filipe Chateaubriand escreveu um artigo na Universidade do Futebol comentando os “sofismas” utilizados pelos defensores do mata-mata.

A implosão de um time

Eu queria escrever alguma coisa sobre a implosão do Palmeiras, de um time que abrira 5 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, tinha defesa sólida e ataque eficaz para se transformar hoje numa patética caricatura de si mesmo. Mas a parte tática do time foi excelentemente bem analisada pelo Eduardo Cecconi, do blog Preleção.

Qual será o futuro do “Muricybol”?

Diagrama tático do Palmeiras no primeiro tempo contra o Sport

Rodada a rodada o Palmeiras demonstra que esgotaram-se as forças do seu 3-5-2 brasileiro. E, para minha incredulidade, o técnico Muricy Ramalho resiste a qualquer alternativa tática. Parece-me – não quero cometer injustiça, portanto aceito opiniões contrárias a esta observação – que Muricy está bitolado pelo “Muricybol”, este esporte diferente que ele inventou, baseado no futebol.Contra o Sport Recife, ontem, o Palmeiras tentou disfarçar-se em um 4-4-2, mas não conseguiu. Na teoria, a equipe tinha uma linha defensiva de quatro jogadores (os laterais Figueroa e Armero, mais os zagueiros Danilo e Maurício) e um losango no meio-campo (Edmílson no primeiro vértice, dois volantes pelos lados – Souza e Sandro Silva – e Diego Souza de ponta-de-lança). Na frente, Ortigoza e Obina.

Mas, na prática, Edmilson logo se posicionou como um “zagueiro pela direita”, obstinado na cobertura de Figueroa. Ele saiu do posicionamento inicial (representado no diagrama tático pelo número 1 circulado) e passou a jogar como um guardião da lateral. Em dez minutos, o Sport marcou um gol – e, pasmem, por aquele setor ultra-protegido. Qual foi a primeira decisão de Muricy? Imediatamente, admitir o 3-5-2, levando Edmílson para a “sobra” (posição 2 no diagrama tático), escancarando seu predileto sistema tático. O falso 4-4-2 durou 10min.

Continua aqui.

O post analisa com bastante competência a tática utilizada nas últimas partidas. Utilizada não. Insistida, mesmo tendo sido provado sua fragilidade e defeitos, a despeito da falta de peças de reposição para as ausências dos jogadores-chave.

Mas o post analisa a tática de maneira isolada, sem o contexto do campeonato todo. Se isso for feito, a coisa fica ainda pior.

Com o Jorginho o time era armado num insinuante 4-4-2 (4-2-2-2) com Pierre e Edmílson (ou Souza) à frente da linha de zaga, Cleiton Xavier e Diego Souza armando para Obina e William ou Ortigoza. O time era ofensivo e ainda tinha uma defesa sólida. E alternativas táticas, pois contra o Flamengo no primeiro turno o time entrou com um 4-2-3-1 com Diego Souza, Cleiton Xavier e Deyvid Sacconi de armadores se alternando no apoio a Ortigoza.

Com Muricy as alternativas táticas sumiram.

Mas não foi o único problema. Um elenco mal montado, sem peças de reposição à altura para as ausências na zaga e meio-campo. Mas ainda assim sub-utilizado pelo técnico. Com a ausência de Diego Souza, Cleiton Xavier mostrou-se incapaz de liderar o time e fazer a aproximação ao ataque. Com a ausência de Cleiton Xavier, Diego Souza ficou sobrecarregado. Em ambos os casos Deyvid Sacconi poderia ter sido útil como havia sido provado ser na gestão do Jorginho.

Portanto táticas equivocadas, excesso de contusões, contratações que não vingaram solaparam as chances do Palmeiras ser campeão. Mas a inabilidade do treinador e a falta de reação e atitude do elenco  enterraram definitivamente as pretensões do Palmeiras. E nesse aspecto o menos a ser cobrado seria o presidente do clube. Bancou a contratação do técnico mais caro do Brasil no momento, aquele que havia sido três vezes seguidas campeão (sendo vice no controvertido campeonato de 2005  das anulações do Zveiter e a arbitragem do Márcio Resende de Freitas), bancou a manutenção de todo o elenco, mesmo recebendo propostas por Pierre e Maurício Ramos (além das sondagens a Diego Souza e Cleiton Xavier) e contratou um jogador top de linha para os padrões do Brasileirão. Mas isto é futebol. Sem atitude em campo, nada sobrevive.

Tem certeza que este campeonato está bom?

Resultados das últimas duas rodadas:
28ª: Palmeiras 2 x 2 Avaí (primeiro contra nono colocado). Cruzeiro 3 x 0 Goiás (11º contra 4º), Botafogo 3 x 1 Atlético MG (17º contra 3º), São Paulo 2 x 2 Coritiba (2º contra 15º).

atletico botafogo

29ª: Náutico 3 x 0 Palmeiras (18º contra 1º), Flamengo 2 x 1 São Paulo (6º contra 2º), Atlético MG 0 x 1 Cruzeiro (4º contra 9º), Goiás 1 x 1 Sport (5º contra 19º), Inter 1 x 1 Atlético PR (3º contra 14º).

são paulo coritiba

Isto mostra a incrível superioridade do campeonato brasileiro frente a outros campeonatos de futebol ao redor do mundo, afinal de contas é o campeonato mais equilibrado e imprevisível, todos os times brasileiros tem muita qualidade e nós somos o único país do mundo que tem 12 ou 13 postulantes ao título. Certo? Mais ou menos…

É verdade que o campeonato brasileiro é um dos mais equilibrados e que ocorrem  resultados inesperados com maior frequência que em terras estrangeiras. Mas a que custo?

Não custa lembrar que o mesmo Náutico que bateu o Palmeiras seja o pior mandante do campeonato brasileiro. O mesmo Botafogo que bateu o Atlético MG, quase perde para o Avaí, time com elenco e pretensões bem mais modestas que seu colega mineiro. O mesmo Coritiba que empatou com o São Paulo no Morumbi, perdeu em casa para o fraquíssimo Barueri. E o mesmo Sport que arrancou um ponto contra o Goiás fora de casa, perdera em casa para o irregularíssimo Santos.

Ou seja, o equilíbrio e os resultados inesperados se dão mais por falhas e erros dos times de cima que por força dos times de baixo. Não há um equilíbrio de forças. Há um equilíbrio de fraquezas.

Ainda que pesem as ausências de Miranda (SPFC), Diego Souza (Palmeiras) e Diego Tardelli (Atlético MG) é quase inadmissível que no futebol moderno existam ainda times que dependam de um único atleta. Pior, que não contem com um único substituto para determinado jogador.

Este é o caso do Palmeiras. Líder pela complacência de seus perseguidores. O elenco do líder não conta com um único reserva à altura para seus meias (Diego Souza e Cleiton Xavier) e o reserva de seu lateral direito é um volante improvisado (Wendel). O Palmeiras tem de contar com a polivalência de Marcão para cobrir as ausências dos titulares da lateral esquerda ou da zaga, sendo que o  Marcão é um jogador lento, de idade bastante avançada e sem condições físicas para apoiar e voltar com velocidade para recompor a defesa.

E o principal destaque do campeonato é um jogador que já estava aposentado e voltou para seu clube como parte do acordo de quitação de dívida, o Petkovich. Não cabe comparação com Ryan Giggs, que está jogando um futebol de primeira categoria primeiro porque Giggs não é o principal jogador do campeonato, como também não o é do seu time. Ele não joga todos os jogos, portanto tem tempo para se recuperar fisicamente para poder exibir seus dotes. Nem isso o Petkovich tem. Ele joga de quarta e domingo, portanto sendo destaque mesmo estando fisicamente desgastado.

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Falta de regularidade, de padrão de jogo, elencos limitados e pouco preparados para um campeonato longo e com muitas rodadas no meio de semana. Eis a tônica dos times, mesmo os líderes, do atual campeonato brasileiro. Nenhum dos times demonstrou ter força ou pinta de campeão. O Palmeiras é líder por ser o time que menos tropeços levou, não por ser o time que mais imponha seu jogo aos adversários.

E eis que voltamos à velha discussão: o que vale mais, campeonatos de alta qualidade técnica, com craques em praticamente todas as equipes, porém com resultados e posições previsíveis ou campeonatos equilibrados, nem que seja à base do nivelamento por baixo? Pois se duas semanas atrás comentei sobre a fraqueza dos campeonatos inglês e espanhol, agora a fraqueza do brasileirão salta aos olhos implacavelmente.

Despírito Desportivo

Desde a decadência do Calcio como principal campeonato de futebol do mundo, Inglaterra e Espanha brigam cabeça a cabeça pelo posto de principal centro futebolístico atual. Depois de grande predominância inglesa, a Espanha contra-ataca e reúne os principais atletas do mundo em suas equipes.

E enquanto acompanhava os jogos do fim de semana, me surpreendi com dois resultados especificamente: Liverpool 6 x 1 Hull City e Tottenham Hotspur 5 x 0 Burnley. Espantei-me, mas não deveria, pois o campeonato já tivera  outros resultados elásticos como Arsenal 4 x 0 Wigan, Liverpool 4 x 0 Burnley, Sunderland 4 x 1 Hull City, Arsenal 4 x 1 Portsmouth, Wigan 0 x 5 Manchester United, Liverpool 4 x 0 Stoke, Hull 1 x 5 Tottenham, Everton 1 x 6 Arsenal e ainda veria o Sunderland enfiar 5 x 2 no Wolverhampton.

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Enquanto isso na Espanha, Barcelona e Real Madrid dividem a ponta com 100% de aproveitamento e profusas goleadas. Ah, no começo do texto disse que neste ano a Espanha levara os melhores atletas para seus clubes. Corrigindo, levara para o Real Madrid (Benzema, Ronaldo, Kaká, Xabi Alonso, Arbeloa) e para o Barcelona (Ibrahimovich, Maxwell – além da manutenção da base que ganhara a tríplice coroa). O Ubiratan Leal, nesta semana, escreveu uma interessantíssima coluna falando sobre a concentração de renda e o desequilíbrio financeiro no futebol espanhol nesta temporada.

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Eis o fato. Não se produzem goleadas com tanta facilidade no Brasil como na Inglaterra e na Espanha. E não dá apenas para dizer que isso é o resultado de um nivelamento por baixo do campeonato nacional por causa do êxodo de atletas. Não é apenas isso.

No ranking de faturamento dos clubes brasileiros, o quinto clube com maior faturamento em 2008, o Corinthians, teve uma receita de R$ 117,5 mi, enquanto o clube com maior faturamento, o São Paulo, arrecadou R$ 160,5 mi, 36,6% a mais. Enquanto isso na Inglaterra, o quinto maior faturamento fora do Tottenham Hotspur, de 145 mi de Euros, contra 325 mi de Euros do primeiro, o Manchester United. Uma diferença de 124%. Na Espanha a diferença é ainda mais gritante.

A FIFA e a UEFA tentam brecar a influência cada vez maior do dinheiro nos resultados esportivos, ora tentando brecar transferências de menores aliciados pelos clubes maiores, ora tentando impor de alguma forma uma espécie de fair play financeiro. Até agora não tem sido possível, pois o sucesso comercial do próprio futebol acaba por alimentar o desnível, com cotas de patrocínio e premiações cada vez maiores pagas aos participantes da UEFA Champions League em relação aos demais clubes, criando um abismo entre eles, uma casta de “superclubes”, intocáveis, inatingíveis.

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Enquanto no passado era possível um clube pequeno ser campeão com a revelação de uma geração de atletas brilhantes (vide os títulos europeus de Celtic, Aston Villa, Nottingham Forest, Steua Bucareste e Estrela Vermelha), tal fato se torna cada vez mais difícil nos dias de hoje por causa do abismo financeiro. Para os torcedores e atuais dirigentes destes superclubes, tudo ótimo, pois o que importa são os resultados e a rivalidade. Mais ainda, tal fato pode solapar a atratividade do futebol como um todo, pois quem se interessará por um campeonato onde as quatro (ou duas, dependendo do país) primeiras posições já são conhecidas de antemão, inclusive por quais clubes e em qual ordem?

Download do Deloitte Football Club Money League aqui.

Futebol Finance – Receita dos clubes brasileiros.

Futebol Finance – Deloitte Football Money League.

P.S. O título é quase uma homenagem à banda Super-Simetria, já contemplada neste blog aqui.

Mudança de calendário do futebol brasileiro – uma entrevista

Já publiquei neste blog diversos textos sobre o calendário brasileiro, inclusive com links para diversos outros sites e blogs, além de artigos de autoria de Luis Felipe Chateaubriand, recebidos através de e-mail.

Pois bem, o Luis Felipe escreveu um livro (estou quase no final) sobre o tema e foi entrevistado pelo Juca Kfouri e pelo Wanderlei Nogueira.

Agora sua entrevista à rádio Jovem Pan foi disponibilizada em vídeo.

Aproveitem:

http://mais.uol.com.br/view/314008Outras

Outros artigos do Luis Felipe sobre calendário:

Construindo um calendário racional para o futebol brasileiro

Adaptando o calendário do futebol brasileiro ao calendário mundial 

Ainda a adaptação do calendário brasileiro de futebol ao calendário mundial… 

Outros argumentos para a adaptação do calendário brasileiro ao calendário do futebol mundial 
 

Outras postagens sobre o assunto:

https://sinosdobram.wordpress.com/2009/08/13/ainda-o-calendario-do-futebol/

https://sinosdobram.wordpress.com/2009/08/06/drops-calendario-do-futebol-brasileiro/

https://sinosdobram.wordpress.com/2009/07/25/revoada-e-descompaso/

https://sinosdobram.wordpress.com/2009/07/20/futebol-globalizado-aqui-nao/

O amor é verde

Palmeiras acerta retorno do atacante Vagner Love
Agência Palmeiras
Jairo Giovenardi
28/08/2009 10h32
O atacante Vagner Love, de 25 anos, é o novo reforço do Palmeiras.

Vagner chega por empréstimo até o fim do mês de julho de 2010 e nenhum atleta do atual elenco palmeirense foi envolvido na negociação.

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Essa informação foi confirmada pelo vice-presidente do Palmeiras, Gilberto Cipullo, em entrevista exclusiva concedida ao site oficial.

O jogador, revelado nas categorias de base do clube, retorna ao futebol brasileiro depois de cinco anos no CSKA, da Rússia.

Pelo Palmeiras, Vagner foi campeão brasileiro da série-B, em 2003, conquista que recolocou o time alviverde na elite do futebol nacional. Naquele ano, ele foi artilheiro da competição, com 19 gols e ajudou a equipe a alcançar a marca dos 80 no campeonato [melhor ataque do Brasileiro-2003].

Em 2004, Vagner foi artilheiro do Campeonato Paulista, com 12 gols marcados.

O atacante já fez 66 jogos com a camisa alviverde e marcou 49 gols, entre os anos de 2002 e 2004.

Fonte: site do Palmeiras.

Ainda sobre público de futebol

Ecoando com o post que escrevi a alguns dias, sobre o baixo público nas partidas de futebol em São Paulo, eu colo aqui um texto do Mauro Cezar Pereira sobre o mesmo tema.

“Torcedor troca a arquibancada pela poltrona. E isso poderá matar o futebol

por Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br

A morte de Eduardo Vianna, o Caixa D’Água, vai completar três anos nesta sexta-feira, dia 21 de agosto. Ele presidia a Federação de Futebol do Rio de Janeiro no final dos anos 80, quando a TV Manchete adquiriu os direitos de transmissão dos jogos do campeonato carioca, e passou a mostrar, às 18 horas, os jogos que tradicionalmente começavam às 17 horas sem TV ao vivo.

Obviamente houve impacto na presença do público nos clássicos dominicais do Maracanã. E críticas. Foi então que o famigerado cartola disse que se a televisão estava pagando, não o incomodava ver as arquibancadas vazias. Em suma, público? Não importa. Nunca achei que o cartola fosse um visionário, mas de certa forma ele estava prevendo o futuro.” Continua aqui.

Ecoando com este post: https://sinosdobram.wordpress.com/2009/08/10/o-tumulo-do-futebol/

O túmulo do futebol

Ontem estava retornando para casa com o rádio do carro sintonizado na Eldorado/ESPN, para as tradicionais discussões pós-rodada, quando o jornalista Paulo Vinícius Coelho soltou algo parecido com: “a vários anos o estado de São Paulo só tem média de público maior que Goiás, Paraná e Santa Catarina. Os times de São Paulo não conseguem levar público aos estádios senão em jogos importantes da Libertadores, finais de copas ou se o time está muito bem em uma reta final de campeonato”. Para finalizar o jornalista disse que se não fosse o fato dos times de São Paulo estarem ganhando tudo, o estado poderia ser considerado também o túmulo do futebol.

Resolvi buscar as estatísticas do Brasileirão na internet e encontrei a média de público por estado a partir de 2004:

2004

PA 13.143
GO 9.133
SC 8.532
MG 8.306
SP 8.276
PR 8.140
RS 7.278
RJ 6.921
BA 5.936

2005

CE 23.731
MG 18.816
RJ 15.110
PR 14.175
DF 13.479
PA 13.325
GO 12.980
RS 11.273
SP 11.246
SC 9.279

2006

RS 16.775
MG 15.239
RJ 12.620
CE 11.786
SP 11.481
SC 10.703
PR 10.532
GO 10.305
PE 9.876

2007

MG 23.352
RJ 22.363
PE 19.491
SP 18.520
RS 15.435
GO 14.051
PR 10.637
RN 9.370
SC 8.903

2008

RS 25.183
RJ 20.977
PE 18.300
PR 18.140
BA 15.745
MG 15.495
SP 13.275
SC 9.003
GO 8.558

2009

MG 27.365
RJ 19.592
RS 17.066
PE 15.325
PR 13.616
BA 12.821
GO 11.968
SP 11.367
SC 9.587

Fonte: Site da CBF.

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Na discussão que se seguiu entre o PVC e o Flávio Gomes, âncora do pós-jogo na rádio Eldorado/ESPN, a conclusão é de que já passou da hora de superar os argumentos do tipo “torcida A não vai em estádio”, “torcida B só vai no estádio quando o time está ganhando” e assim por diante, porque todas as torcidas do estado levam menos pagantes ao estádio que poderiam. Se o Morumbi é o maior exemplo de estádio subaproveitado, o que dizer do Palestra Itália que neste campeonato só lotou em jogos de Libertadores e no campeonato tem média de pouco menos de 15.000 espectadores, ou do Pacaembu, que mesmo contando com 33.000 lugares, tem como média de ocupação pouco menos de 19.000 pagantes?

O pior não é apenas a constatação do fato de que o maior estado do Brasil, com os clubes detentores da maior parte dos títulos nacionais, tendo o atual campeão da Copa do Brasil e o atual tri-campeão brasileiro, e com a maior renda per capita do país não consegue levar público. É perceber que clubes, federação, empresas e autoridades não tem a menor idéia do que pode, deve ou precisa ser feito. A coisa está feia. Estamos no meio da escuridão e ninguém sabe acender o fogo.

Os clubes são inábeis no trato do torcedor. Ainda não se conscientizaram sobre a necessidade de se tratar o frequentador de estádio como o consumidor de um produto que está longe de ser barato. Afinal de contas, se o torcedor for ao estádio quatro vezes por mês, terá deixado na bilheteria do estádio algo em torno de R$ 100,00. Portanto, não há fidelização do consumidor, benefício àquele consumidor contumaz dos serviços dos clubes, estratégia de marketing e novos produtos para serem oferecidos a outras faixas etárias e classes sociais e, consequentemente, nenhum crescimento em um mercado potencialmente enorme.

A falta de oferta é flagrante, mas quando ela acontece, nem sempre há a participação que se imaginaria, quer por incompetência na hora de anunciar o novo produto, quer na falta de percepção de um público mais qualificado no real benefício desse produto, quer na não exploração do produto de forma eficaz, como no Setor Visa do Palestra Italia ou do Estádio do Morumbi.

Se os clubes tem sua imensa parcela de culpa no péssimo número de pagantes que comparecem aos estádios de futebol, as autoridades policiais e judiciárias tem outra parcela igualmente importante. Os conflitos entre torcedores organizados, que espantam um grande número de pessoas das arquibancadas de futebol, são eventos não apenas previsíveis como perfeitamente evitáveis, caso houvesse o mínimo de vontade e competência. A revista Veja São Paulo, por ocasião do conflito entre torcedores do Vasco da Gama e Corinthians, elaborou uma matéria onde procuram explicar os motivos dos conflitos como também sugerem medidas que  diminuiriam a violência nos estádios e no seu entorno (veja aqui).

Entre medidas acertadas, como a punição dos responsáveis por brigas de torcidas com prisão e banimento dos estádios pela vida toda, o monitoramento efetivo dos estádios de futebol e a criação de polícias específicas para lidar com esse tipo de evento (a Polícia Militar é altamente incompetente para lidar com esse tipo de conflito, como a recente confusão no último jogo da Ponte Preta atesta), há a proposta de medidas totalmente ineficazes e inócuas, como a proibição do consumo de bebida alcoólica no entono do estádio, jogos de torcida única e o cadastramento do torcedor no Ministério Público.

Mas percebe-se que Ministério Público, Polícia, Federação, clubes, autoridades de trânsito e outros simplesmente não fazem a menor idéia de como combater o problema da violência e da falta de público. Estão dando tiros aleatórios no escuro, sem ter a menor noção de quais os alvos a serem atingidos.

Enquanto não houver um desastre de grandes proporções nos estádios de São Paulo, ou enquanto o futebol brasileiro não se apequenar de forma inimaginável no cenário internacional (só não aconteceu por causa da imensa capacidade de revelação de jogadores que o Brasil possui, aliado ao sucateamente do futebol de nossos vizinhos), nenhuma medida será tomada. E o pior é que o estudo para tais medidas poderia ser feito, nos moldes do Relatório Taylor, que poderia servir de pontapé e auxiliar um estudo apropriado à realidade brasileira.

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Enquanto isso, lá vem o Brasil, descendo a ladeira…

P.S. O jornalista Mauro Cézar Pereira, em seu blog, publica a lista da média de público de times brasileiros disputando as séries A, B, C e D. O clube que ocupa a segunda posição no ranking é o Santa Cruz, com a média de 38.245 pagantes por partida. Isso disputando a série D, da qual acaba de ser desclassificado. Somados os públicos dos três times de Recife (Sport, Santa Cruz e Náutico), temos a presença de 68.559 torcedores por rodada em casa. Somados os públicos dos quatro clubes de São Paulo (Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Portuguesa de Desportos) temos a presença de 53.867. Vergonhoso, não? Matéria completa aqui.

A tabela do Brasileirão já faz suas vítimas

Faltam quatro rodadas para terminar o primeiro turno do Brasileirão, segundo a CBF. Mas de acordo com o Emerson Gonçalves, ainda estamos no meio do segundo turno (Janela de Verão) e ao mesmo tempo num restinho do terceiro turno (Jogos sem Descanso). E essa sobreposição de fatores de complicação faz suas vítimas.

A primeira e mais óbvia é o Corinthians. Perder em uma semana Cristian, André Santos e Douglas é um golpe forte na espinha dorsal do time. E não adianta a diretoria lançar factóides como a possível contratação de Riquelme ou trazer possíveis peças de reposição como Paulo André que o estrago já está feito. Ainda mais com as perdas de Otacílio Neto, Wellington Saci e Fabinho. Se num primeiro momento pareciam sensatas o empréstimo desses atletas, já que diminuiriam os jogos que o Corinthians faria no segundo semestre (alguns times disputariam a Copa Sul Americana, enquanto o Corinthians havia acabado de se sagrar campeão da Copa do Brasil) e aliviaria a folha de pagamento do clube, por outro a perda de dois meio-campistas e um lateral titular mostrou que tais empréstimos não foram tão bem planejados assim. E a perda de pegada do meio-campo corinthiano e a falta de alternativa pela esquerda ficou mais que evidente na partida contra o Palmeiras.

Outro time vitimado pela tabela, mas por outra razão, é o Atlético Mineiro. O Galo tem um bom time. Mas não um bom elenco. Se o time titular faz frente a qualquer clube brasileiro no momento, o cansaço do elenco e a falta de alternativas para que Celso Roth altere o andamento da partida, a configuração tática ou mesmo um atleta contundido enfraquece consideravelmente o Galo. A falta de alternativas táticas impediu que o Atlético furasse a forte retranca do Goiás. Seus jogadores rápidos são talhados para o jogo de transição, de velocidade e de verticalidade. Mas não para o jogo de paciência, cerebral e de troca de passes. Por mais que o Júnior esteja desempenhando bem o papel de meia, ele o faz como um meia-externo (winger), que atua verticalmente conduzindo a bola rumo à área adversária, não como um meia-armador que inverte jogadas, que distribui o jogo e cadencia a partida. E a virada sofrida contra o Flamengo explicita ainda mais a falta de alternativas que o Celso Roth tem.

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Isto posto, cai no colo do Palmeiras  a chance histórica de ser campeão brasileiro sem grandes adversários. Se Corinthians e Atlético Mineiro perdem fôlego graças à janela de transferências ou ao acúmulo de jogos, Internacional, Cruzeiro, Grêmio e São Paulo não decolaram no campeonato, seja por contarem com um elenco rachado, pela ressaca da eliminação de uma competição importante ou por estarem implantando uma nova filosofia de trabalho. Basta o Palmeiras não rifar esse bilhete premiado vendendo seus maiores responsáveis pela boa fase: Pierre, Cleiton Xavier e (principalmente) Diego Souza.

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O pânico dos torcedores em relação à saída de seus principais atletas durará até 31 de agosto, quando termina a janela de transferências internacionais. A Traffic já emitiu uma nota dizendo não vender Cleiton Xavier e Pierre neste ano, o que deixou a torcida do Palmeiras ouriçada, já que Diego Souza continua sendo assediado e não tendo seu futuro garantido pela dona de seu passe (sim… isso existe – nem que seja de fato mas não de direito). O Corinthians pode (deve) perder o Felipe, grande responsável pelo empate contra o Santo André e certamente alguns clubes brasileiros serão vítimas de mutilação.

A vir, daqui a quinze dias, a nova temporada européia que realmente promete. E antes dela começar vamos tentar brincar com os amistosos e torneios de pré-temporada…

Revoada e descompasso

Em meu post anterior sobre futebol, chamado “Futebol globalizado? Aqui não“, eu comentei, com a ajuda de outros blogs, sobre o dano que o calendário brasileiro mal feito e descompassado traz aos próprios clubes pelo fato de impedi-los de disputarem os amistosos e torneios de pré-temporada que acontecem na Europa, América do Norte, Ásia, África e Austrália. Esse dano é financeiro e mercadológico.

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Agora vamos falar do dano esportivo que esse descompasso traz ao nosso campeonato. O já citado nesse blog Emerson Gonçalves faz uma interessante análise da tabela do campeonato brasileiro (aqui) e conclui que existem quatro períodos distintos no campeonato brasileiro: “1º turno: 9 de maio a 8 de julho  – Fase “das Copas-”; “2º turno: 1º de julho a 31 de agosto – Fase “Janela de Verão”; “3º turno: 11 de julho a 23 de agosto – Fase “Jogos Sem Descanso”; “4º turno: 29 de agosto a 6 de dezembro – Fase “Reta Final”.

Pois bem. O calendário trôpego prejudica no início do campeonato justamente os times mais qualificados, pois junta reta final de Copa Libertadores e Copa do Brasil com o início do Brasileirão. Depois, com a janela de verão européia, há a saída de jogadores de inúmeros times, ao mesmo tempo em que ocorre a intensificação das partidas, com rodadas duas vezes por semana

Ou seja: bem no momento quando os times terão seus elencos mais exigidos, com maior incidência de contusões, suspensões e maior cansaço, os clubes tem seus elencos reduzidos com as vendas para o exterior. Claro que alguns clubes aproveitam essa janela para poderem reforçar seus elencos. Mas em geral a “balança comercial da bola” é superavitária para o mercado brasileiro. Resumidamente, exportamos mais que importamos.

Os grandes times já começam a se movimentar: O Atlético MG repatriou Rentería. o Flamengo o David (zagueiro ex-Palmeiras), o Cruzeiro o Gilberto (Tottenham) e o Corinthians o Edu. Mas as saídas de André Santos e Cristian tiram bastante força do Corinthians (que ainda pode perder o Douglas e o Felipe – quatro titulares em um mês) e o Inter perde grande parte de seu já combalido ataque com a saída do Nilmar. O Cruzeiro contratou o Guerrón, mas perdeu Ramires. Enquanto isso o Flamengo perde para o futebol russo seu principal articulador, Ibson.

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Após o período de janela de transferências, os times voltam a ter um calendário menos apertado, quando o campeonato entra em seu terço final, coincidindo também com o início da Copa Sulamericana. E muitos times que disputam a Copa estão lutando ou contra o rebaixamento, ou por uma classificação na Libertadores, consequentemente entrando na competição internacional com times reservas e sem prioridade.

E mais uma vez times brasileiros perdem a chance de se internacionalizarem, de lutar por um título, de aumentarem seu faturamento graças a um calendário esdrúxulo e mal-formatado.

Porém não há a menor previsão de que a Copa do Brasil, Copa Libertadores e Copa Sulamericana venham a ser disputadas simultaneamente em um prazo mais estendido. Para os clubes brasileiros seria altamente positivo, pois os clubes que disputam  a Libertadores poderiam disputar a Copa do Brasil também e os clubes que disputam a Sulamericana poderiam dar maior prioridade a ela. Mas a AFA e a Fox Sport se oporiam, pois o atual calendário permite que Boca Junior e River Plate possam disputar dois campeonatos internacionais por ano (aliás, justamente a interferência da Fox Sport e do Banco Santander fizeram que os times mexicanos “voltassem atrás” em sua decisão de abandonarem os torneios da Conmebol). E o futebol brasileiro vai se mediocrizando, perdendo jogadores por preços irrisórios (leia aqui um outro artigo do Emerson Gonçalves falando sobre o valor dos jogadores brasileiros no mercado europeu).

A movimentação do mercado aparentemente beneficia Palmeiras e Atlético MG, enquanto enfraquece Flamengo, Corinthians e Inter. O Palmeiras receberá o lateral Figueroa e promete trazer mais um atacante, isso sem perder Pierre e Diego Souza, sua espinha dorsal. O Atlético reforça seu ataque o que poderá dar-lhe um pouco mais de força, pois seu elenco é acanhado. O Inter já começa a ter seu desempenho prejudicado e o Corinthians, embora já tenha garantido seus títulos  e a vaga na Libertadores, deve ter menos profundidade no elenco para chegar junto no campeonato (embora eu não seja louco de desconsiderar Ronaldo).

Como exigir dos técnicos um planejamento de partidas, de elenco, que possa fazer com que seu time dispute com chances reais todos os torneios e campeonatos utilizando ao máximo seu elenco? Apenas para exemplificar: na temporada 2008/2009 o Manchester United disputou 64 partidas, conquistando 3 títulos (Mundial, Inglês e a Carling Cup) e perdendo dois (a final da UCL e a FA Cup na semi-final). O Cruzeiro disputará em 2009 69 partidas, mas teria disputado apenas três torneios: mineiro, Libertadores e brasileiro. Se o São Paulo ou Palmeiras tivessem chegado à final da Libertadores, disputariam 75 partidas no ano pelos mesmos três campeonatos. Isso mostra como os clubes brasileiros disputam mais partidas e menos torneios, ainda sem a oportunidade de terem uma pré-temporada rentável financeiramente e positiva esportivamente.

Enfim. Mais um post para falar de bastidores de futebol, não de bola rolando. Mas os jogos do brasileirão não me animaram nesta semana e na Europa os amistosos não significam grande coisa para prever a temporada.

P.S. O jornalista Erich Beting, do blog Negócios do Esporte e do site e revista Máquina do Esporte escreveu um post que fala sobre os prejuízos financeiros causados pelo descompasso entre os calendários brasileiro e europeu. O texto se chama “O calendário invertido e a receita perdida no futebol” e pode ser lido aqui.

P.P.S. No blog do Juca Kfouri tomei ciência da existência do seguinte livro: Futebol Brasileiro: Um Projeto de Calendário. O livro “tem como objetivo mostrar que o calendário do futebol brasileiro – principal problema de nosso futebol – continua sendo extremamente irracional, apesar das melhorias pontuias que aconteceram nos últimos anos. O autor acredita que a melhoria do calendário de nosso futebol é condição imprescindível para a melhoria da gestão dos clubes e, por decorrência, da gestão do próprio futebol brasileiro e, neste sentido, propõe uma metodologia de organização do calendário considerada eficaz.” Ver mais aqui.

E não é que era o técnico…

A novela que envolveu a tentativa de contratação do Muricy Ramalho pelo Palmeiras se arrastou como um dramalhão mexicano. E como um dramalhão mexicano, teve final patético. E, claro, repercutiu na mídia por essas duas longas e arrastadas semanas. E suscitou interpretações diferentes em diferentes profissionais do jornalismo esportivo. O Paulinho, em seu impagável blog, elogiou a postura do dirigente palmeirense (aqui). Segundo ele, foi uma negociação absolutamente transparente e honesta, que chegou a um final não satisfatório por diferenças de propostas. O Caio Maia, da revista Trivela, por outro lado, considerou trapalhona e equivocada a tentativa de contratação (aqui). Segundo ele a declaração da diretoria do Palmeiras demonstrando interesse no Muricy foi equivocada, e a esperança de que o clube o conseguisse contratar por um valor menor que o pago pelo Luxemburgo, ilusória. Afinal, Luxemburgo não ganha nada desde 2004 enquanto o Muricy é o atual tri-campeão brasileiro.

Isto posto, vamos ao que interessa que é o futebol dentro de campo. Primeiro, totalmente atrapalhada a decisão de termos rodada de campeonato no mesmo dia de uma final de Libertadores. Passassem todos os jogos para quinta-feira, oras! E minha tentativa de assistir às duas partidas (Flamengo x Palmeiras e Cruzeiro x Estudiantes) estava revelando que eu na verdade não conseguia assistir a nenhuma. Tive de optar, e optei pelo meu… fiquei com o jogo do Maracanã.

Após 20 minutos assistindo a partida, algumas questões começaram a surgir: como que essa defesa, tão inconstante e falha anteriormente, consegue se mostrar segura contra o Flamengo no Maracanã? Afinal, são os mesmos jogadores. Como um time que antes variava de formações e escalações, sem nunca demonstrar firmeza em nenhuma, consegue jogar de maneira convincente e sólida em quatro partidas consecutivas?

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A resposta é uma só. Técnico. E não dá para ser explicada apenas com base na natural empolgação do elenco com a troca de comando. Primeiro, porque os resultados foram conseguidos não na base da raça, mas na base da organização da equipe.

Como jogaria sem Obina e Williams, Ortigoza entrou como centro-avante e Diego Souza entraria como segundo atacante. Isso de acordo com a mídia esportiva. Sim, porque nenhum jornalista esportivo da grande mídia sabe fugir do 4-4-2, mesmo que o jogo mostre outra coisa. Diego Souza voltava até quase a linha do meio-campo, puxando seu marcador e abrindo espaços para as penetrações alternadas de Deyvid Sacconi e Cleiton Xavier. Na verdade o Palmeiras se organizou como um 4-2-3-1, com Diego Souza aberto pela esquerda, mas sempre voltando ao meio-campo para recompor a marcação e buscar o jogo, Deyvid Sacconi aberto pela direita e Cleiton Xavier articulando pelo meio, com Ortigoza de atacante único. Ortigoza demonstrou ter presença física suficiente para encarar tal função, embora nunca tenha ficado isolado na partida, já que quando a bola estava com um dos meias-externos, o outro encostava no atacante, dando-lhe sempre uma opção.

Aliás, Ortigoza, Diego Souza e Cleiton Xavier foram os principais responsáveis pelo sufoco que o Palmeiras impôs ao Flamengo. Eles marcavam a saída de bola não dando espaço algum para que o time carioca pudesse organizar suas descidas ao ataque, geralmente abortando as tentativas na intermediária. Tanto que em duas pressões na intermediária surgiram os gols palestrinos, um em uma roubada de Ortigoza, e o outro numa roubada do soberano Pierre, abrindo para Sacconi penetrar na área pela direita e dar a assistência ao paraguaio.

E finalmente, a defesa do Palmeiras teve uma atuação impecável. Nenhum atacante do Flamengo recebia bolas em condições de levar perigo a Marcos. A sobra e a cobertura funcionou quase à perfeição. Adriano foi uma figura patética e apagada em campo.

No segundo tempo os três jogadores alvi-verdes que não eram titulares, cansaram. Primeiro sai o Edmilson (de atuação segura) e entra Sandro Silva, não havendo nenhuma alteração na forma do Palmeiras jogar. Para a saída do Deyvid Sacconi entra Capixaba, com Wendel passando a compor um trio de volantes e Diego Souza passa a se alternar pelas duas alas, continuando a levar perigo ao Flamengo. E com Ortigoza saindo, entra Marcão, para garantir o resultado. O gol do Flamengo motivou o time a procurar o gol, forçando o Marcos a efetuar duas boas defesas. Porém o Bruno também deu sua contribuição, no primeiro tempo ao evitar o gol em um chute forte de Cleiton Xavier e no segundo ao defender uma bola de Ortigoza.

A organização defensiva, o posicionamento dos três meias ofensivos, a variação de jogadas e esquemas no decorrer da partida, a opção de sufocar o adversário em seu campo de defesa. Nenhum desses fatores pode ser atribuído a ninguem senão ao técnico. E certamente não a um técnico motivador, mas a um técnico que entende de tática e sabe organizar seu time em campo. Jorginho 1 x 0 Luxemburgo. Uma outra análise do técnico Jorginho e de sua possível efetivação no site Terceira Via Verdão.

Enquanto isso:

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O Cruzeiro sai na frente. Vi o gol. Logo depois, o empate. Por fim o Mineirazzo. E eu perdi essa partida histórica… I hate Rede Globo…