Arquivo do mês: janeiro 2010

Bela Lugosi está morto

Misture glam rock, baixo regueiro, apresentações altamente teatrais e estética expressionista. O resultado é Bauhaus. A banda cuja influência é diametralmente oposta às suas vendas de discos entre 1979 e 1983, curto período de sua primeira existência.

Sua música soturna e estética sombria foram, juntamente com Siouxsie and the Banshees e o primeiro The Cure (entre 1979 com Seventeen Seconds e 1982 com Pornography) definiram o que nos anos 80 veio a ser conhecido como gótico.

Depois de uns quinze anos de separação os membros originais, Peter Murphy (de carreira solo bastante elogiada mas de poucos sucessos comerciais), Daniel Ash (cuja banda Tones on Tail fez relativo sucesso ainda nas barbas do Bauhaus), David J e Kevin Haskins (irmãos e parceiros de Ash na banda Love and Rockets) voltaram a se reunir para uma turnê, registrada no álbum Gotham. Voltaram novamente para o último álbum de inéditas, mas sem o mesmo impacto de seus anos de início.

Todos os gols da Copa do Mundo – 1986

Depois da Copa que viu nascer e morrer o sonho do futebol arte, 1986 foi a chance de redenção, impedida pela contusão de Zico, força da França e genialidade de Maradona.

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6

Parte 7

Parte 8

Parte 9

Um poema às quartas

As I walked out one evening,
Walking down Bristol Street,
The crowds upon the pavement
Were fields of harvest wheat.

And down by the brimming river
I heard a lover sing
Under an arch of the railway:
‘Love has no ending.

‘I’ll love you, dear, I’ll love you
Till China and Africa meet,
And the river jumps over the mountain
And the salmon sing in the street,

‘I’ll love you till the ocean
Is folded and hung up to dry
And the seven stars go squawking
Like geese about the sky.

‘The years shall run like rabbits,
For in my arms I hold
The Flower of the Ages,
And the first love of the world.’

But all the clocks in the city
Began to whirr and chime:
‘O let not Time deceive you,
You cannot conquer Time.

‘In the burrows of the Nightmare
Where Justice naked is,
Time watches from the shadow
And coughs when you would kiss.

‘In headaches and in worry
Vaguely life leaks away,
And Time will have his fancy
To-morrow or to-day.

‘Into many a green valley
Drifts the appalling snow;
Time breaks the threaded dances
And the diver’s brilliant bow.

‘O plunge your hands in water,
Plunge them in up to the wrist;
Stare, stare in the basin
And wonder what you’ve missed.

‘The glacier knocks in the cupboard,
The desert sighs in the bed,
And the crack in the tea-cup opens
A lane to the land of the dead.

‘Where the beggars raffle the banknotes
And the Giant is enchanting to Jack,
And the Lily-white Boy is a Roarer,
And Jill goes down on her back.

‘O look, look in the mirror,
O look in your distress:
Life remains a blessing
Although you cannot bless.

‘O stand, stand at the window
As the tears scald and start;
You shall love your crooked neighbour
With your crooked heart.’

It was late, late in the evening,
The lovers they were gone;
The clocks had ceased their chiming,
And the deep river ran on.

Ao descer a rua Bristol
uma tarde, eu vi os demais
que eram como, antes da ceifa,
os já maduros trigais.

E ouvi junto ao rio, debaixo
da ponte da ferrovia,
um namorado cantando
como ele sempre amaria:

“Vou te amar, meu bem, até
que a África se junte à China,
que o rio salte a montanha
e salmões cantem na esquina.

Vou te amar até que o oceano
seque pendurado ao léu,
até que as Plêiades grasnem
quem nem os gansos no céu.

Anos fujam como lebres,
pois, nos braços, eu estreito
a Flor de Todas as Eras
e, entre amores, o perfeito.”

Mas, nas ruas, mil relógios
badalaram com alarde:
“Não confies nunca no Tempo,
Ele triunfa cedo ou tarde.

Nos desvãos do pesadelo,
onde a justiça está nua,
o Tempo espreita das trevas
e em teu beijo se insinua.

Em transtornos e ansiedade,
nossa vida esvai-se a esmo
e o Tempo há de impor-se a todos
amanhã ou hoje mesmo.

Neva em muitos vales verdes
e o Tempo reduz a nada
o arco que o mergulhador
descreve e a dança ensaiada.

Põe a mão até o pulso
dentro da água, na bacia,
pondera, ao fitar-lhe o fundo,
que tua vida foi vazia.

Desertos gemem na cama,
o armário acolhe o glaciar,
e a chávena leva à Terra
dos Mortos, ao se rachar.

Lá mendigo é perdulário
e o Gigante agrada a João,
anjinhos rugem ferozes,
Mariazinha dá no chão.

Olha bem, olha no espelho,
olha cheio de pesar:
viver é uma bênção, mesmo
que não possas abençoar.

Fica à janela conforme
ferve o choro assustador;
ama o próximo traiçoeiro
com teu coração traidor.”

Caía a noite, o casal
fora embora, a litania
dos mil relógios cessara
e, profundo, o rio corria.

(Tradução: Nelson Ascher)

A vida é chata, mas a morte, um tédio

Will Self é um dos escritores mais celebrados da nova safra inglesa. Midiático, foi uma espécie de sex symbol cult do início dos anos 90. Talentoso com as palavras, também fez carreira como jornalista, embora seu episódio mais famoso na área tenha sido ter sido demitido do jornal “The Observer” porque, enquanto cobria a eleição para primeiro ministro em 1997, cheirou heroína no jato de campanha de John Major.

Mas Self tem talento com as palavras. E um certo pendor para a sátira grotesca, tanto que em seu primeiro romance, Cock and Bull, um homem e uma mulher desenvolvem órgãos sexuais opostos, em Great Apes (Grandes Símios) um artista acorda em um mundo onde os chimpanzés são racionais e os humanos não (hum… já vi isso antes) e neste How the Dead Live (Como vivem os mortos) a personagem principal, Lily Bloom, vive (quer dizer, morre) em um subúrbio de Londres após sucumbir ao câncer com um feto abortado e calcificado, seu filho de nove anos morto décadas atrás e três criaturas nojentas feitas de sua própria gordura, enquanto observa a não muito diferente vida dos vivos.

Se a imagética do livro é riquíssima, cheia de alusões literárias e culturais, metáforas criativas, o enredo e a construção dos personagens carece de cuidados.

Após morrer, Lily Bloom (Bloom, sacou? Maneiro, esse Self) passa a flanar pelas ruas de Londres, principalmente em seu subúrbio Dulston (Dulston, mistura de dull com Dalston), de onde a velha morta tece seus ácidos comentários anti-semitas (ela é judia americana, como a mãe de Self), criticando a peruíce emergente de sua filha Charlotte, a auto-destruição junkie de sua filha mais nova Natasha, o insuportável peso do ser classe média consumista e vazio nessa virada de século, enfim.

Mas se o mote é excelente, a realização, principalmente da personagem, poderia ter recebido melhor tratamento. A acidez, a falta de envolvimento emocional, a distância em relação às próprias filhas e os comentários em relação à vida sexual (ou falta de) dela e das próprias filhas parecem deslocados na boca da velha judia sexagenária.

De qualquer forma é uma leitura engraçadíssima e tem suas qualidades. Principalmente o retrato da atual vida londrina, perdida entre a falta de significado e o consumismo (e auto-consumismo) desbragado.

Todos os gols da Copa do Mundo – 1982

Faz tempo que não falo de futebol (o fracasso alvi-verde tirou o pique), mas 2010 é ano de Copa do Mundo. E Copa, apesar de tudo, é Copa.

Então para comemorar e fazer uma contagem regressiva, vamos relembrar os gols da Copa de 1982. Todos.

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6

Parte 7

Parte 8

Parte 9

Parte 10

Lei de direitos humanos

Depois de grande pressão, principalmente da Rede Globo (quem mais seria?) o governo decide retirar a expressão “repressão política”, por entender que os militantes de esquerda também merecem ser julgados por seus crimes.

Além a anulação da lei de anistia, promulgada, claro, pelos próprios militares anistiando-se a si mesmos…

Cartum extraído do site da Igreja Anglicana – Paróquia da SSa.Trindade.

Um poema às quartas

Minha nossa

As férias se aproximam do fim. Mas a sessão-abacaxi no canal de filmes da TV a cabo não. Engraçado, mas quando não estou de férias é mais fácil atualizar o blog, há mais assunto para ser tratado, enfim… com as férias o ritmo diminui, o ânimo (de escrever e de pensar) também.

Agora, o que dizer desse filme? Elenco: estelar (Meryl Streep, Colin Firth, Pierce Brosnan). Cenário: um dos mais belos do mundo (as ilhas gregas). Música: divertidíssima (Abba). Mas o conjunto… ah, como é fraco.

A história da menininha que quer conhecer o pai e manda carta convidando os três possíveis para seu casamento até que seria razoável. Boa até. Mas a mocinha em questão, a bonitinha Amanda Seyfried, quando tenta fazer cara de angustiada consegue no máximo parecer que sofre de constipação intestinal. As cenas de canto e dança (afinal, isto é um musical) são até que bem coreografadas e tudo mais, mas cansa. Tá bom, confesso. A culpa é minha. Sempre odiei musicais. Mas a cena de “The Winner Takes it All”, uma das melhores canções do Abba, parece um dueto da antiga dupla argentina Pimpinella, ou de Jane e Herondy, tamanha a forçação de barra no sentimentalismo à flor da pele.

O final, piegas até, que tenta trazer um ar de modernice com a mocinha casadoira desistindo das bodas para viajar com o namorado, um dos ex-amantes da Donna (o personagem do Colin Firth) tendo um relacionamento gay com um dos ilhéus, mas com a sempre sofredora Donna achando por fim o amor de sua vida, a mensagem final é de conformidade. E é isso aí. Filme bom pra sessão da tarde, vale a pena pela música.

Thank God it’s Friday – Colorado Demoiselle e Steenbrugge Dubbel Bruin

Ainda repercutindo minha brevíssima estada em Monte Verde, agradável surpresa no sul de MG. A localidade (nem é um município, mas um distrito de Camanducaia) conta com apenas 4.000 habitantes, todos trabalhando no ramo do turismo. O povo é simpático, hospitaleiro e muito atencioso com os turistas. E mesmo com a semelhança geográfica com Campos do Jordão, Monte Verde tem um perfil totalmente diferente da cidade paulista. Enquanto Campos do Jordão é programa pra mauricinho e patricinha, com suas danceterias badaladas, desfile de carros importados, filas nas portas das boates e longos e insuportáveis congestionamentos, Monte Verde é programa para casais enamorados que sobem a serra para curtir o friozinho numa aprazível pousada com lareira ou para famílias. E o charme da cidade é sua opção de trilhas, caminhadas e escaladas.

Mas mesmo sendo uma vila de apenas uma rua, Monte Verde tem boas opções de restaurantes e uma boa oferta de cervejas especiais. Letreiros da Erdinger e da Paulaner são comuns e encontra-se facilmente nos bares, restaurantes e lojas da cidade as boas cervejas nacionais, como as Baden Baden ou Colorado e importadas, principalmente as distribuídas pela BUW.

Num desses bares eu tomei uma das minhas favoritas, a Colorado Demoiselle, uma Porter com adição de café, que lhe confere um aroma pronunciado de café e um sabor tostado bastante intenso. Eu pedi para tomá-la junto de um interessante sanduíche feito de rosbife de javali, de sabor bastante suave, lembrando um pouco pernil, com cebolas caramelizadas, queijo e ketchup de boa qualidade.

A Demoiselle tem coloração preta, espuma densa marrom e um aroma maravilhoso, contando ainda com graduação alcoólica de 6º e, embora não fosse exatamente uma “harmonização”, ficou bastante agradável com o sanduba de javali.

Saíndo do restaurante, passei numa lojinha, misto de mercadinho e farmácia, típico de cidadezinhas do interior, que em meio a Dorflex e Eparema, salgadinhos Elma-Chips e docinhos de bar, havia uma boa prateleira de cervejas especiais. Como havia comprado um pacotinho de “queijo de lareira”, uma mussarela especial (natural, defumada, temperada e com alho) que não derrete ao fogo, mas fica macia e tostadinha por fora, escolhi uma cerveja de preço honesto para tomar à noite: a Steenbrugge Dubbel Bruin.

Em matéria de dubbel, a brasileira (e mineiríssima) Wäls se sai melhor, com mais sabor e mais personalidade. Mas a Steenbrugge não se sai mal não. Ao contrário, uma cerveja bonita, coloração vermelho-amarronzada, espuma bege de curta duração mas um aroma bastante agradável de frutas, principalmente uvas. O sabor também é agradável, acompanhando o aroma, com amargor suave e sabor levemente torrado, leve na boca e os 6,5º de graduação alcoólica se integram bem.

Mais uma boa lembrança trazida da agradável Monte Verde.

Um poema às quartas

 

Roteiro de Avatar

Estou numa temporada de férias do cão em matéria de filmes na TV. Ou é azar demais ou então meu padrão de diversão está meio fora do mercado. Mas de “Paranóia” a “Controle Absoluto“, cheguei no fundo do poço em matéria de bosta cinematográfica:  “Pagando bem, que mal tem“. Lixo dos lixos.

E eu penso com meus botões… eu ainda pago pra assistir essas porcarias todas! Há dinheiro mais mal gasto que canal de filmes na TV por assinatura? Difícil.

Mas, o que falar de uma hiper-ultra-mega-bosta, que tem o maior orçamento da história e arrasta multidões para as salas como se fosse um deslocamento de refugiados de uma área em guerra!  E que pra assistir essa hiper-ultra-mega-bosta fosse preciso pagar quase trinta paus para ir numa sala IMAX para poder ter o mínimo de qualidade de efeitos especiais (afinal, há outro atrativo para essa hiperbosta?). Como diria Bartleby, prefiro não.

Mas, seus problemas acabaram. Não quer ficar de fora do hype da estação, então tá. Vazou o roteiro de Avatar na internet. Curta, cortesia do LLL.

Nas núvens

Eu e Marisa praticamente nas núvens. No topo das montanhas da Serra da Mantiqueira. De um lado, o Vale do Paraíba. Do outro, as serras mineiras. Nós na aprazível Monte Verde.

Do aeroporto, a vista para toda a cidade, com a serra ao fundo.

Embora nossa estada tenha sido extremamente curta, o que nos impediu de conhecer mais a fundo a rica gastronomia do pequeno vilarejo, além das inúmeras opções de trilhas, caminhadas e escaladas, pudemos percorrer algumas trilhas que nos levaram ao topo da Pedra Redonda (primeira foto) e do Platô (segunda foto), cuja caminhada de 2000 metros no meio da mata em uma trilha pedregosa e íngreme rumo ao topo da serra, terminada em meio à chuva e à neblina, foi escoltada pelo simpático cachorro da foto, que nos acompanhou desde o início da subida até quase o final da descida (já que a chuva apertou, ao invés de nos acompanhar o canino se mandou correndo pra casa). Quer dizer… simpático, mas o cachorro (digo, o cão) tentou algumas vezes abocanhar minha canela. Não sei se o cadarço da bota balançava e atraia a atenção do animal (digo, do cão) ou a barra da calça cargo, especial para caminhadas, parecia especialmente apetitosa.

Enfim. Três dias de terapia anti-estresse. Post típico de férias, né? Falta clima para escrever algo diferente. Na segunda quinzena de janeiro o ritmo do blog volta ao normal, com postagens sobre música, livros, filmes, cerveja, política, futebol, cristianismo e o que mais der na telha.

Fairy Tales

O ano foi 1988. Naquela época não existia internet, nem a tecnologia barata de reprodução de CDs, ferramentas que facilitaram imensamente a divulgação e propagação de tudo quanto é informação e novidades no mundo da música. Para se antenar com as novidades, só recorrendo a revistas importadas (Melody Maker, New Musical Express), fanzines, alguns esparsos programas de rádio que davam espaço para a música independente (na 89 fm – Rádio Rock, Brasil 2000). Para divulgar os novos sons, as bandas recorriam às famigeradas “demo tapes”, fitas cassete gravadas artesanalmente, geralmente em estúdio alugado pela própria banda (com poucos recursos), com capa tosca e qualidade de áudio sofrível. Alguns lugares davam espaço para a música independente, algumas poucas gravadoras independentes. Em São Paulo existia a Woodstock Discos, especializada em heavy metal. Na galeria do Rock existia a Baratos Afins, que lançou a fina flor do rock independente paulista dos anos 80 além da MPB experimental de gente como Itamar Assunção. Outro selo independente paulistano, este localizado numa galeria da Rua Barão de Itapetininga, era a Wop Bop. Um dos lançamentos da Wop Bop daquele ano foi o álbum Fairy Tales, da banda santista Harry. O som da banda, da época em que para se fazer música eletrônica era preciso investir uma boa grana em equipamentos caros e de difícil manuseio, transitava entre o tecnopop do New Order e o EBM do Front 242, mas como as informações circulavam em uma velocidade muitíssimo mais lenta naquela época e o isolamento era muito maior, quem enveredasse por aqueles caminhos acabava por desenvolver um som particular, descolado de “movimentos” coordenado. A banda era então formada por Hansen, Di Giácomo, Verta e Johnsson e eles gravaram o álbum Fairy Tales que continha letras em inglês, barulhinhos eletrônicos, baixo, guitarra, bateria, teclados, programação eletrônica e samples de discursos de Getúlio Vargas, gaitas de foles e ruídos de guerras. Um clássico do rock brasileiro dos anos 80, versão independente. Eu tinha em versão cassete.

Sky Will Be Grey

Genebra

Joseph in the Mirror

You Have Gone Wrong

Lycanthropia

Depois de Fairy Tales (que pode ser baixado na íntegra aqui), a banda lançou Vessels Town, produzido pela lendária gravadora Stiletto e depois entrou em um longo período de inatividade. Retornou aos palcos recentemente, numa época mais propícia para a produção artística independente, onde a internet e as tecnologias de reprodução permitem que mais artistas lançem suas obras publicamente.

Um poema às quartas

This be the verse

They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another’s throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don’t have any kids yourself.

Este seja o poema

Teu pai e mãe fodem contigo.
Que não o queiram, tanto faz.
Legam-te cada podre antigo,
além de uns novos, especiais.

Mas de cartola e fraque, outrora,
fodera-os já do mesmo modo,
gente ora austero-piegas,
ora se engalfinhando cega de ódio.

Passa-se a dor adiante: fossas
num mar que só fica mais fundo.
Dá o fora, pois, tão logo possas
sem pôr nenhum filho no mundo.

(tradução de Nelson Ascher)

Outros Tiros

Vocês já devem ter percebido a imagem ao lado, atualmente a que tem um jumento com chapeuzinho de Papai Noel, né? Pois é. É uma parceria do meu blog com o site Os Viralata. Os Viralata é um site de venda de literatura independente. Não é uma editora. É um site de vendas. E é de literatura independente. Isto é, o cara (o autor) financia de seu próprio bolso uma tiragem de seu livro e o site vende. Dá lucro? Sei lá. Mas pra quem tem talento (ou acha que tem) e não encontra espaço, nossa época de tecnologias cada vez mais acessíveis permite que, com um esforço pessoal não necessariamente sobrenatural, consiga se fazer ouvir em um mercado consumidor capaz de absorver essa produção. O site inclusive ensina como publicar, imprimir, registrar, produzir a capa e tudo. Quem não tiver a manha de fazer por conta própria pode contratar o site, que pertence a um produtor gráfico, para fazer o trabalho sujo por ele. Ou então, pode produzir o livro como e-book, o que facilita a distribuição e barateia os custos.

E como o site é independente, os autores são independentes (Os Viralata não aceita vender livros produzidos por editoras, por menor que sejam, apenas livros produzidos por autores, por conta própria), a divulgação também é independente. O dono do site, o Albano Martins Ribeiro, pede que blogs coloquem seu banner com link para o site dOs Viralata e em troca o blogueiro recebe um livro de presente. Um jabazinho básico…

E o livro que eu recebi de presente foi Outros Tiros – Contos e Mentiras de Matos Mangusto.

Embora a categoria da obra seja a de “contos”, difícil classificar o que Matos Mangusto escreve na mesma categoria do que  comumente conhecemos por “conto”. Afinal, um conto varia de uma a cerca de quarenta páginas. A concisão de Mangusto lhe permitiu escrever micro contos de uma a três linhas. E não há nada que seja mais extenso que duas páginas.

Se na pós-modernidade a fronteira dos gêneros começou a ser cada vez menos definida, a dificuldade em classificar o que Mangusto escreve é compreensível. Varia do aforismo à crônica. Um dos exemplos de micro-conto é o que está na página 32

“Soturno

Um sorriso poderia ter mudado tudo, mas agora é tarde.”

Enfim… certamente algo que não se encontra facilmente nas prateleiras de auto-ajuda, de romance de vampiros ou de história com cachorrinhos ou gatinhos. Mas que também vale a pena.

Outros autores que comercializam seus livros pelos Viralata são os blogueiros Alex Castro, que tem seu romance “Mulher de um homem só” vendido pelo site e Luiz Biajoni, que tem três livros já publicados e comercializados.