Arquivo do mês: agosto 2010

Um poema às quartas

Boi Morto

Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Os Deuses no Exílio

O poeta no exílio, Heinrich Heine, produziu uma interessantíssima obra em prosa, cuja classificação é tão difícil quanto é saborosa sua leitura.

Tem pretensão ensaística, sabor romanesco, humor e ironia. Basicamente, trata da expulsão dos deuses olímpicos da Europa com o triunfo do cristianismo. O substrato sério do  texto (que foi publicado em duas versões, uma em francês, onde vivia o poeta, e outra em alemão, cuja publicação demorou por causa da severa censura que Heine recebia em sua terra por causa de suas posições políticas) conta como os deuses foram incorporados no folclore europeu, transmutados em fantasmas, gênios e demônios, opostos à religião cristã. Mas a forma como é narrada a passagem da religião pagã até sua incorporação pelo cristianismo é maravilhosa.

Na versão francesa, mais longa, o autor narra o episódio do acadêmico que busca escrever as “Magnificências do Cristianismo”, uma obra apologética que saiu da pena diretamente para a fogueira por força de um autor que de tão zeloso por rebater qualquer argumento contra suas palavras estuda tão a fundo o lado oposto da arena intelectual que passa a se convencer de sua correção e, por conseguinte, rejeita sua portentosa obra.

As lendas sobre Baco, Mercúrio, Júpiter e Apolo, emolduradas por episódios referentes às fontes que contaram ao autor as lendas, aparecem em ambas as versões. Uma versão da lenda de Venus e Tannhauser está apenas na versão francesa.

O livrinho, com as duas versões, mais o poema “Os Deuses da Grécia” e mais um ensaio crítico para cada uma das versões, é uma delícia de ser lido. Cada texto de Heine termina-se em uma sentada. O que espanta o leitor não é a obra. É o preço. Um livrequinho custa trinta e oito paus. O pessoal da Iluminuras perdeu o senso de realidade.

Plebiscito Pelo Limite Da Terra

PLEBISCITO PELO LIMITE DA TERRA

Vivem hoje na zona rural brasileira cerca de 30 milhões de pessoas, pouco mais de 16% da população do país. O Brasil apresenta um dos maiores índices de concentração fundiária do mundo: quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha

por Frei Betto

Entre 1 e 7 de setembro o Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo promoverá, em todo o Brasil, o plebiscito pelo limite da propriedade rural. Mais de 50 entidades que integram o Fórum farão da Semana da Pátria e do Grito dos Excluídos, celebrado todo 7 de setembro, um momento de clamor pela reforma fundiária em nosso país.

Vivem hoje na zona rural brasileira cerca de 30 milhões de pessoas, pouco mais de 16% da população do país. O Brasil apresenta um dos maiores índices de concentração fundiária do mundo: quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha (hectares) e ocupam apenas 2,36% da área do país. E menos de 1% das propriedades rurais (46.911) têm área acima de 1 mil ha cada e ocupam 44% do território (IBGE 2006).

As propriedades com mais de 2.500 ha são apenas 15.012 e ocupam 98,5 milhões de ha: 28 milhões de hectares a mais do que quase 4,5 milhões de propriedades rurais com menos de 100 ha.

Diante deste quadro de grave desigualdade, não se pode admitir que imensas propriedades rurais possam pertencer a um único dono, impedindo o acesso democrático à terra, que é um bem natural, coletivo, porém limitado.

O objetivo do plebiscito é demonstrar ao Congresso Nacional que o povo brasileiro deseja que se inclua na Constituição um novo inciso limitando a propriedade da terra – princípio adotado por vários países capitalistas – a 35 módulos fiscais. Áreas acima disso seriam incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.

O módulo fiscal serve de parâmetro para classificar o tamanho de uma propriedade rural, segundo a lei 8.629 de 25/02/93. Um módulo fiscal pode variar de 5 a 110 ha, dependendo do município e das condições de solo, relevo, acesso etc.. É considerada pequena propriedade o imóvel com o máximo de quatro módulos fiscais; média, 15; e grande, acima de 15 módulos fiscais.

Um limite de 35 módulos fiscais equivale a uma área entre 175 ha (caso de imóveis próximos a capitais) e 3.500 ha (como na região amazônica). Apenas 50 mil entre as cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil se enquadram neste limite. Ou seja, 4,950 milhões de propriedades têm menos de 35 módulos fiscais.

O tema foi enfatizado pela Campanha da Fraternidade 2010, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Todos os dados indicam que a concentração fundiária expulsa famílias do campo, multiplica o número de favelas e a violência nos centros urbanos. Mais de 11 milhões de famílias vivem, hoje, em favelas, cortiços ou áreas de risco.

Nos últimos 25 anos, 1.546 trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil; 422 presos; 2.709 famílias expulsas de suas terras; 13.815 famílias despejadas; e 92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra! Foram registradas ainda 2.438 ocorrências de trabalho escravo, com 163 mil trabalhadores escravizados.

Desde 1993, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertou 33.789 escravos. De 1.163 ocorrências de assassinatos, apenas 85 foram a julgamento, com a condenação de 20 mandantes e 71 executores. Dos mandantes, somente um se encontra preso, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos mandantes da eliminação da irmã Dorothy Stang, em 2005.

Tanto o plebiscito quanto o abaixo-assinado visam a aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC 438) que determina o confisco de propriedades onde se pratica trabalho escravo, bem como limites à propriedade rural. As propriedades confiscadas seriam destinadas à reforma agrária.

Embora o lobby do latifúndio apregoe as “maravilhas” do agronegócio, quase todo voltado à exportação e não ao mercado interno, a maior parte dos alimentos da mesa do brasileiro provém da agricultura familiar. Ela é responsável por toda a produção de verduras; 87% da mandioca; 70% do feijão; 59% dos suínos; 58% do leite; 50% das aves; 46% do milho; 38% do café; 21% do trigo.

A pequena propriedade rural emprega 74,4% das pessoas que trabalham no campo. O agronegócio, apenas 25,6%. Enquanto a pequena propriedade ocupa 15 pessoas por cada 100 ha, o agronegócio, que dispõe de tecnologia avançada, somente 1,7 pessoas.

Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org -Twitter:@freibetto

*Este artigo foi publicado na edição de 13 de agosto de 2010 do Correio Braziliense, na editoria Opinião, pág. 17

http://www.limitedaterra.org.br/index.php

A Paróquia da Trindade (Igreja Anglicana) oferecerá seu espaço, entre os dias 1-7 de setembro, para o Plebiscito pelo Limite da Propriedade da Terra. Participe assinando o abaixo assinado.

Endereço

Praça Olavo Bilac, nº 63. Campos Elíseos. CEP 01201-050. São Paulo-SP Tel/Fax: 11- 36678161
Próximo a Estação Metrô Marechal / início da Av.Angélica
Estacionamentos: Praça Olavo Bilac e na Rua Pirineus.

http://trindade.org/drupal/

Um poema às quartas

A Morte do Leiteiro

Há pouco leite no país
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas,
seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro.
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto
Com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma pequena mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro…
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este entrou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada.
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

Medos privados em lugares públicos

Ou seriam lugares privados mesmo?

Para quem achava que o máximo de mobilização política da classe média-alta era a passeata das dasluzetes pela liberação do bronzeamento artificial (o Discreto Charme da Burguesia).

Para quem achava que a sociedade organizada em seu ápice era o assédio moral àqueles que quisessem atuar contra a fome e a miséria nas ruas de São Paulo (Desmendigação).

Não. Agora chegamos à quintessência da inversão de valores de cidadania.

Higienópolis não quer metrô
Por FPS3000 às 9:28 PM Links para esta postagem

Higienópolis não quer uma estação de metrô dentro do bairro.

E é capaz de conseguir seu intento, mantendo o caráter de condomínio fechado que possui desde sua fundação, já que estações de metrô, se abrem os bairros à visitação pública, trazem também com isso a sensação de insegurança típica de quem não quer encarar o mundo à sua volta e tem muito medo de ver a realidade que o cerca.

Higienópolis não quer metrô, assim como a Vila das Belezas, que impediu a construção de uma estação na linha 5 pelo mesmo motivo (manter a característica fechada do bairro); e como a Chácara Klabin, dos condomínios fechados e segurança cada vez mais rígida, que inclusive melhora a Polícia de sua região com recursos próprios para poder isolar-se com mais dignidade do mundo que cerca a região.

Numa ironia que corrói, e fere, e destrói – como tanta coisa estúpida que só existe nessa selva de pedra chamada São Paulo.

Essa classe média alta, classe B, que não quer o populacho beirando sua piorta, nem os mendigos e ambulantes, prefere se mobilizar para isolar-se que correr atrás de soluções para os problemas que afligem a todos, sem exceção.

E o que é mais engraçado, tratam-se de pessoas que andam à vontade nas ruas parisienses, mas que não é capaz de perceber que desenvolvimento de verdade é deixar o carro em casa e usar os pés para ir a qualquer parte.

Ou as rodas, por exemplo, como a turma da bike tem mostrado cada vez mais, ainda que com os exageros típicos dos ativistas de plantão.

….

E eles ainda querem se defender de nós … oh, e agora, quem é que vai ME defender dessa gente que está tornando São Paulo uma cidade cada vez mais cretina?

Copiado do Trash ETC.

E

Movimento Nos Defenda de Higienópolis

Reportagem da Folha Online diz que moradores do chiquetérrimo Higienópolis estão se mobilizando CONTRA a possível presença de uma estação de metrô no seu bairro, famoso pela diversidade de cachorrinhos de raças exóticas (pugs, chow-chows, scottish terriers e french bulldogs) que esmerdeiam as calçadas e fodem com o nome do aprazível vilarejo.

É, você não leu errado: eles não querem metrô na porta de casa. Metrô tem de passar longe porque atrai muito pobre, camelô, drogado e vagabundo. Afinal, compramos nossos Mercedes, Azeras e BMWs justamente para não dependermos dessas latas de sardinha e nos misturarmos à choldra ignara e seus perfumes baratos.

Não é a primeira vez que isso acontece no planalto paulistano. No também chiquetérrimo Morumbi, as madames subiram em seus saltos sete-e-meio, empunharam suas bolsas Louis Vuitton e foram à luta, impedindo com uma mobilização altaneira a construção da Estação Três Poderes da linha 4. Com isso, ou o empregado doméstico deles desce na estação São Paulo – Morumbi (e toma um busão), ou desce na estação Butantã (e toma um busão), o que resultará num dos trechos mais longos (se não for o MAIS longo) entre estações de todo o metrô paulistano. Eles que acordem mais cedo, oras! Afinal, a Martaxa fez bilhete único e os serviçais podem tomar quantas conduções precisarem para saírem de suas aldeias primitivas e chegarem à civilização.

Alguns viram na mobilização dos quatrocentões do Movimento Defenda Higienópolis contra a horda de desocupados que o metrô traz em seus vagões apenas uma desculpa para a real preocupação dos bacanas: impedir o aumento do IPTU de suas taperas de 400 m² superpostas. Só quem não conhece SP poderia pensar nessa hipótese: quando se fala em imóvel aqui na Paulicéia, a palavra associada é “valorização”. E existe um movimento bastante peculiar por aqui: se uma estação é construída perto de um centro comercial ou bairro popular, os imóveis do entorno se valorizam. O mesmo não ocorre nos “redutos dos homens bons”. Portanto, o problema é que eles acham que transporte público degrada o entorno e, por consequência, desvalorizará suas residências. IPTU é o de menos, pode-se ajeitar isso com um bom vereador a propor uma desvalorização na PGV da região, baseado em estudos estatísticos confiáveis patrocinados pela Cyrella ou Adolpho Lindemberg.

Especificamente sobre Higienópolis/Pacaembu, é secular a guerra dos moradores contra o Estádio Paulo Machado de Carvalho, que para eles deveria ser fechado aos fétidos torcedores e destinado exclusivamente para suas caminhadas matinais e, vá lá, a tradicional feira livre da Praça Charles Miller, onde podem adquirir vegetais fresquinhos para o repasto. E, claro, comer pastel. Afinal, todo rico tem de ter umas manias de pobre pra se mostrar enturmado, solidário e galeroso.

É muito provável que a mobilização dos bacanas de Higienópolis seja bem sucedida, a julgar pela experiência exitosa dos colegas do Morumbi e à tradicional sensibilidade dos governantes paulistas às reivindicações dos homens bons da nação.

Roubando o genial Humberto Capellari, humildemente proponho a criação do Movimento nos Defenda de Higienópolis, antes que seja tarde.

Copiado do Com Fel e Limão.

E você ein, que estava até aumentando a fé na espécie humanus paulistanus…

Baader-Meinhof Blues

Minha atualização cinematográfica, nessas épocas de instantaneidade internética, beira o sinal de fumaça. Só bem recentemente cheguei a conhecer o filme “O Grupo Baader-Meinhof“, filme que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009.

O filme, óbvio, conta a história da Facção do Exército Vermelho, grupo guerrilheiro de esquerda que era conhecido pela mídia como “Baader-Meinhof”. Não vou mencionar a história do grupo, facilmente localizável na internet, mas a forma como o episódio da história recente alemã foi abordado em película é bastante interessante.

Há evidentemente uma certa romantização da atuação do grupo. O que não deixa de ser surpreendente numa época em que o aparato ideológico a partir de Reagan conseguiu demonizar a luta armada em todos os seus aspectos (claro que os terroristas islâmicos fanáticos foram os principais responsáveis por isso graças a seus ataques contra alvos civis), o que ignora o fato de que a grande maioria dos processos de independência ou de derrubada de governos opressivos e totalitários. Desde a guerra da independência dos EUA até o atentado contra o Hotel King David em Jerusalém, promovido pelo Haganá para expulsar as forças de ocupação britânicas, táticas de terrorismo e guerrilha tem sido largamente utilizadas por forças consideravelmente menos fortes.

E eis a questão (aliás, o título em alemão, “Der Baader Meinhof Komplex” evoca essa dubiedade, pois “komplex” pode significar tanto “grupo” quanto “questão”): poderiam os grupos terroristas de esquerda se enquadrarem nesta categoria, visto que, diferentemente de grupos como o IRA, que combatia um governo de ocupação, ou as guerrilhas do Araguaia que combatiam um governo ditatorial e repressivo, a maioria dos países europeus ocidentais seriam democracias liberais?

A primeira geração pós-nazismo combatia o que consideravam ser uma nova forma do fascismo: o imperialismo, propulsionado pelo governo e pelos principais banqueiros e empresários, todos saídos das fileiras nazistas, e pela mídia reacionária que desqualificava a luta da esquerda pacifista e incitava a violência e repressão policial contra os estudantes. E o estopim foi justamente a repressão policial brutal contra os estudantes, que na esteira das convulsões estudantis francesas que eclodiriam em 1968, protestavam contra a presença do Xá Reza Pahlavi e culminou na morte do estudante Benno Ohnesorg e o assassinato do líder de esquerda Rudi Dutschke por um estudante de extrema-direita, incitado pelo empresário Axel Springer (dono dos jornais Bild-Zeitung e Die Welt).

A partir daí dá-se o início de uma frenética sequência de ataques contra alvos norte-americanos e alemães, perseguições, prisões, julgamento, contra-ataques até culminar com o que foi conhecido como Outono Alemão, uma série de atentados terroristas que protestavam contra a situação da prisão dos principais líderes da Facção. Tudo ao som de muito rock’n’roll.

Os achados, além das excelentes atuações, é a beleza de duas de suas protagonistas. Johanna Wokalek, que fez o papel de Gudrum Ensslin (a despeito de Ulrike Meinhof aparecer na mídia no nome do grupo, o braço direito de Andreas Baader certamente era sua mulher Gudrum) e (principalmente) Nadja Uhl, interpretando Brigitte Mohnhauptm líder da violentíssima segunda geração da Facção do Exército Vermelho e responsável pela morte do banqueiro Ponto e do empresário Schleyer, durante o Outono Alemão.

Em uma época de revisionismo histórico lancinante, de contínuos ataques às conquistas obtidas nos anos 60, de desqualificação da luta política, o filme é um incentivo à reflexão sobre o período. Mas, se você não se interessar por história ou política, há aqui um motivo para se assistir ao filme.

Um poema às quartas

A morte a cavalo,

A cavalo de galope
a cavalo de galope
a cavalo de galope
lá vem a morte chegando.

A cavalo de galope
a cavalo de galope
a morte numa laçada
vai levando meus amigos.

A cavalo de galope
depois de levar meus pais
a morte sem prazo ou norte
vai levando meus irmãos.

A morte sem avisar
a cavalo de galope
sem dar tempo de escondê-los
vai levando meus amores.

A morte desembestada
com quatro patas de ferro
a cavalo de galope
foi levando minha vida.

A morte de tão depressa
nem repara no que fez.
A cavalo de galope
a cavalo de galope

me deixou sobrante e oco.

Thank God it’s Friday – Hoegaarden

Existem diversas escolas cervejeiras, cada uma com suas próprias características. A alemã, por exemplo, prima pelo purismo nos meios de produção. Graças à sua Lei de Pureza, de 1516 (a Reinheitsgebot), nenhuma cerveja pode conter qualquer ingrediente que não seja malte de cevada, água e lúpulo. Na época de sua promulgação não se conheciam as leveduras. Muito tempo depois é que passou-se a admitir outros maltes, como o de trigo (típico das weizenbiers) e outros adjuntos a cervejas de alta fermentação (ales). Nas de baixa fermentação (lagers), só aquilo que a lei prevê mesmo. Outras escolas, como a inglesa, admitem um maior uso de adjuntos para uma maior variedade de sabores e aromas. Mas a escola que leva a criatividade, inclusive no uso de ingredientes diferentes, às últimas consequências é a belga.

Pra começar os mosteiros onde se produzem cervejas de abadia e trapistas sequer levam em consideração o conceito de “estilo” de cerveja. O uso de processos e ingredientes leva à criação de cervejas únicas, exclusivas, cheias de personalidade.

Mas dá para se dizer que existe sim estilos de cerveja tipicamente belgas. A witbier é um deles. Witbier, em holandês, significa “cerveja branca”. Weissbier, em alemão, significa também “cerveja branca”. E há similaridades entre ambos os estilos, pois ambos são feitos com malte de trigo.Mas os belgas, bem… eles acrescentaram um toque a mais de inventividade na receita, acrescentando sementes de coentro e raspas de laranja no líquido.

Isto faz da Hoegaarden uma cerveja de personalidade única, pois é altamente refrescante, como as weiss alemãs, mas com um aroma bastante distinto. Desaparece o aroma de banana, característico da weiss e entra o aroma cítrico, de laranja. Mas o aroma não se restringe ao cítrico, pois as leveduras belgas deixam sua marca tanto no aroma quanto no sabor. Sua coloração é amarelo palha, bem claro e o creme branco, abundante e de longa duração coroa o serviço dessa excelente cerveja. E o melhor é que por ser importada em larga escala, tem preço bastante acessível.

Um poema às quartas

Rondó dos Cavalinhos

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando…

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando…

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo…
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

O corpo de Cristo e a instituição eclesiástica

Está aí uma relação carregada de tensão e incompreensão. Em uma época de profundas crises institucionais, de falta de ética e moral, de desvios doutrinários, de autoritarismos em instituições outrora marcadas pela democracia (ah… Igreja Metodista) e de recrudescimento do fundamentalismo, cada vez mais o cristianismo se afasta da cristandade. E ao mesmo tempo, como ser cristão desvinculando-se de amarras comunitárias e institucionais, já que o cristianismo é por natureza uma religião de convívio social?

Sem tentar responder a esta pergunta, mas trazendo pontos de reflexão, vou colar esse texto copiado do blog Projeto5.

Igreja: Visível ou Invisível?
por Thiago Pinguim

Dentro da fé cristã existem duas formas de falar sobre a igreja. Uma delas é a chamada “igreja visível”, enquanto a outra é a “igreja invisível”. Essas duas formas de ser igreja não são harmoniosas, muitas vezes ocorrem tensões e diferenças entre elas.

A igreja visível é compreendida como aquela igreja que pode ser encontrada facilmente pelas ruas. É composta de templos, de pessoas que os frequentam, de dogmas e doutrinas por ela ensinadas. A igreja visível é, justamente, aquela que pode ser vista, ouvida, frequentada.

Por outro lado, há a igreja invísivel. Essa é mais sutil. Ela esconde-se dos olhos que tentam observá-la. Ela é composta de todas as pessoas que tem fé em Jesus Cristo. Ela é invisível porque não é observada. Pode-se dizer que uma pessoa leva uma vida santa, uma vida de prática religiosa, frequenta a igreja (portanto, é parte da igreja visível), mas a fé mesmo ninguém pode apontar. Uma pessoa que reza com frequência e vai sempre à igreja pode não ter fé. Mesmo uma pessoa que cumpre todos os mandamentos pode, um dia, descobrir que não tem a fé que pensava ter.

Essa divisão gera problemas. O primeiro deles é que a igreja visível, com seus templos e dogmas, não é o relacionamento de pessoas que se orientam e ajudam mutuamente, que zelam pela vida umas das outras, movidas por Cristo como o Cabeça. As instituições e seus frequentadores não são a igreja.

Por outro lado, se a igreja é o relacionamento de pessoas que se orientam e ajudam mutuamente, zelando pela vida umas das outras, movidas por Cristo como o Cabeça, fica claro que ela não pode ser invisível. Não é possível a alguém entrar em um relacionamento de ajuda ao próximo e permanecer invisível. Para usar uma metáfora bíblica, a luz não pode ser escondida sob algum móvel, mas está sempre em um local alto para iluminar todo o ambiente. Uma pessoa que ajuda ao próximo em nome de Cristo automaticamente se mostra como igreja, de modo que uma igreja invisível não é igreja.

Então, nem a igreja visível nem a igreja invisível são, realmente, a igreja de Cristo. A igreja não é um grupo institucional que possa ser localizado (como no caso da igreja visível), nem algo que esteja oculto dos olhos das pessoas (como no caso da igreja invisível).

Frequentar ou não instituições religiosas é questão de decisão pessoal, mas é preciso ter em mente que a igreja não deve ser frequentada, mas, sim, vivida em meio à sociedade. Não em um espaço separado e em um tempo separado, mas diariamente nos lugares comuns é que a igreja faz-se presente em sua forma pura.