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Thank God it’s Friday – Colorado Demoiselle e Steenbrugge Dubbel Bruin

Ainda repercutindo minha brevíssima estada em Monte Verde, agradável surpresa no sul de MG. A localidade (nem é um município, mas um distrito de Camanducaia) conta com apenas 4.000 habitantes, todos trabalhando no ramo do turismo. O povo é simpático, hospitaleiro e muito atencioso com os turistas. E mesmo com a semelhança geográfica com Campos do Jordão, Monte Verde tem um perfil totalmente diferente da cidade paulista. Enquanto Campos do Jordão é programa pra mauricinho e patricinha, com suas danceterias badaladas, desfile de carros importados, filas nas portas das boates e longos e insuportáveis congestionamentos, Monte Verde é programa para casais enamorados que sobem a serra para curtir o friozinho numa aprazível pousada com lareira ou para famílias. E o charme da cidade é sua opção de trilhas, caminhadas e escaladas.

Mas mesmo sendo uma vila de apenas uma rua, Monte Verde tem boas opções de restaurantes e uma boa oferta de cervejas especiais. Letreiros da Erdinger e da Paulaner são comuns e encontra-se facilmente nos bares, restaurantes e lojas da cidade as boas cervejas nacionais, como as Baden Baden ou Colorado e importadas, principalmente as distribuídas pela BUW.

Num desses bares eu tomei uma das minhas favoritas, a Colorado Demoiselle, uma Porter com adição de café, que lhe confere um aroma pronunciado de café e um sabor tostado bastante intenso. Eu pedi para tomá-la junto de um interessante sanduíche feito de rosbife de javali, de sabor bastante suave, lembrando um pouco pernil, com cebolas caramelizadas, queijo e ketchup de boa qualidade.

A Demoiselle tem coloração preta, espuma densa marrom e um aroma maravilhoso, contando ainda com graduação alcoólica de 6º e, embora não fosse exatamente uma “harmonização”, ficou bastante agradável com o sanduba de javali.

Saíndo do restaurante, passei numa lojinha, misto de mercadinho e farmácia, típico de cidadezinhas do interior, que em meio a Dorflex e Eparema, salgadinhos Elma-Chips e docinhos de bar, havia uma boa prateleira de cervejas especiais. Como havia comprado um pacotinho de “queijo de lareira”, uma mussarela especial (natural, defumada, temperada e com alho) que não derrete ao fogo, mas fica macia e tostadinha por fora, escolhi uma cerveja de preço honesto para tomar à noite: a Steenbrugge Dubbel Bruin.

Em matéria de dubbel, a brasileira (e mineiríssima) Wäls se sai melhor, com mais sabor e mais personalidade. Mas a Steenbrugge não se sai mal não. Ao contrário, uma cerveja bonita, coloração vermelho-amarronzada, espuma bege de curta duração mas um aroma bastante agradável de frutas, principalmente uvas. O sabor também é agradável, acompanhando o aroma, com amargor suave e sabor levemente torrado, leve na boca e os 6,5º de graduação alcoólica se integram bem.

Mais uma boa lembrança trazida da agradável Monte Verde.

Thank God it’s Friday – Colorado Índica

Chega de cervejas importadas! Esse Fabio M é muito elitista! Vamos voltar para nosso Brasil brasileiro, nosso mulato inzoneiro que cantamos em nossos versos.

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Mas como ainda não existe um estilo de cerveja 100% brasileiro (criado em nossa terra e reconhecido globalmente como tal), vamos nos contentar com essa versão tropical de uma IPA (India Pale Ale).

As IPAs foram criadas no século XIX na Inglaterra para resistirem às viagens de navio que abasteciam as tropas inglesas estacionadas em terras longínquas pertencentes ao Império. Índia entre elas. E para suportarem a viagem, tinham teor alcólico maior e mais lúpulo, um conhecido conservante natural, em sua composição.

E o que esse lúpulo a mais traz à cerveja? Amargor. Um amargor bem mais pronunciado que as cervejas “normais”. E o álcool traz um certo “calor” na boca, já que uma cerveja padrão tem cerca de 4,8º de teor alcólico, enquanto uma IPA tem cerca de 7º. E o lúpulo traz, além do amargor, uma gama de aromas bem mais extensa que as cervejas industriais normais.

Só que a Índica não é uma IPA padrão. Não. É uma IPA com dna brasileiro. E, como em todas as cervejas produzidas pela Colorado, ela tem uma cor brasileira em seus ingredientes. No caso, rapadura. Antes que as pessoas comecem a torcer  o nariz, é bom saber que existem outros ingredientes na  fabricação de cervejas além do malte de cevada, água, fermento e lúpulo.

A diferença se dá em relação ao objetivo com o uso desses ingredientes “extras”. As grandes cervejarias usam arroz e milho no lugar do malte de cevada, para baratear o custo  de produção. Outras escolas cervejeiras usam ingredientes que acrescentem características às cervejas. Como raspas de laranja e sementes coentro  nas witbiers belgas, chocolate e aveia em certas stouts e outros exemplos por aí.

Essa é a intenção da Colorado ao incluir a rapadura na composição de sua Índica. A rapadura funciona como um fermentescível. Ou seja, os fermentos (levedura) “comem” os amidos presentes no mosto, os da rapadura incluídos,  e como resultado dessa reação química há a formação de álcool.

Mas mais que mero exotismo, o que cativa na Índica é seu sabor, encorpado e complexo, e seu aroma. A cerveja é muito cheirosa. Sem nenhuma base de comparação com as cervejas industriais normais que pululam no mercado. E esse aroma é resultado da carga de lúpulo, bem mais alta que o habitual.

Fica a dica. Quem se aventurar não irá se decepcionar.