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O corpo de Cristo e a instituição eclesiástica

Está aí uma relação carregada de tensão e incompreensão. Em uma época de profundas crises institucionais, de falta de ética e moral, de desvios doutrinários, de autoritarismos em instituições outrora marcadas pela democracia (ah… Igreja Metodista) e de recrudescimento do fundamentalismo, cada vez mais o cristianismo se afasta da cristandade. E ao mesmo tempo, como ser cristão desvinculando-se de amarras comunitárias e institucionais, já que o cristianismo é por natureza uma religião de convívio social?

Sem tentar responder a esta pergunta, mas trazendo pontos de reflexão, vou colar esse texto copiado do blog Projeto5.

Igreja: Visível ou Invisível?
por Thiago Pinguim

Dentro da fé cristã existem duas formas de falar sobre a igreja. Uma delas é a chamada “igreja visível”, enquanto a outra é a “igreja invisível”. Essas duas formas de ser igreja não são harmoniosas, muitas vezes ocorrem tensões e diferenças entre elas.

A igreja visível é compreendida como aquela igreja que pode ser encontrada facilmente pelas ruas. É composta de templos, de pessoas que os frequentam, de dogmas e doutrinas por ela ensinadas. A igreja visível é, justamente, aquela que pode ser vista, ouvida, frequentada.

Por outro lado, há a igreja invísivel. Essa é mais sutil. Ela esconde-se dos olhos que tentam observá-la. Ela é composta de todas as pessoas que tem fé em Jesus Cristo. Ela é invisível porque não é observada. Pode-se dizer que uma pessoa leva uma vida santa, uma vida de prática religiosa, frequenta a igreja (portanto, é parte da igreja visível), mas a fé mesmo ninguém pode apontar. Uma pessoa que reza com frequência e vai sempre à igreja pode não ter fé. Mesmo uma pessoa que cumpre todos os mandamentos pode, um dia, descobrir que não tem a fé que pensava ter.

Essa divisão gera problemas. O primeiro deles é que a igreja visível, com seus templos e dogmas, não é o relacionamento de pessoas que se orientam e ajudam mutuamente, que zelam pela vida umas das outras, movidas por Cristo como o Cabeça. As instituições e seus frequentadores não são a igreja.

Por outro lado, se a igreja é o relacionamento de pessoas que se orientam e ajudam mutuamente, zelando pela vida umas das outras, movidas por Cristo como o Cabeça, fica claro que ela não pode ser invisível. Não é possível a alguém entrar em um relacionamento de ajuda ao próximo e permanecer invisível. Para usar uma metáfora bíblica, a luz não pode ser escondida sob algum móvel, mas está sempre em um local alto para iluminar todo o ambiente. Uma pessoa que ajuda ao próximo em nome de Cristo automaticamente se mostra como igreja, de modo que uma igreja invisível não é igreja.

Então, nem a igreja visível nem a igreja invisível são, realmente, a igreja de Cristo. A igreja não é um grupo institucional que possa ser localizado (como no caso da igreja visível), nem algo que esteja oculto dos olhos das pessoas (como no caso da igreja invisível).

Frequentar ou não instituições religiosas é questão de decisão pessoal, mas é preciso ter em mente que a igreja não deve ser frequentada, mas, sim, vivida em meio à sociedade. Não em um espaço separado e em um tempo separado, mas diariamente nos lugares comuns é que a igreja faz-se presente em sua forma pura.

A subversão do cristianismo

As mudanças radicais no mundo ocidental tem levado muita gente a reexaminar o modo como a igreja existia dentro da cristandade. Muitos tem prestado crescente atenção às vozes que vem das margens, tanto dentro quanto fora do mundo ocidental. Essas vozes (juntamente com Rahner, Hauerwas e Willimon) apontam que a igreja da cristandade havia se tornado uma igreja profundamente comprometida. Aqui três dessas vozes serão brevemente analisadas.

A primeira nasceu na América Latina e encontra sua expressão nas obras dos teólogos da libertação. A teologia da libertação sustenta que a igreja da cristandade ocidental (bem como o modelo de “Nova Cristandade” de Jacques Maritain na América Latina) é uma igreja maculada pelo sangue dos oprimidos. Ao associar-se aos detentores do poder, a própria igreja tornou-se um dos opressores, recusando-se de modo ativo ou passivo a engajar-se em determinadas atividades ou diálogos. O fato de que muitos cristãos ocidentais se mostrem incapazes de ver o elo entre libertação e fé revela o quanto domesticaram o evangelho que começou como “boas novas” para os pobres. Uma das consequências disso é que muitos revolucionários sociais e guerreiros da liberdade acabaram abandonando a igreja, pois “não encontraram na instituição qualquer possibilidade de concretizarem o seu comprometimento, vendo-se muitas vezes obrigados a assumir uma postura de oposição à igreja como sociedade”.

A segunda voz ergue-se da comunidade Sojourners/Residentes temporários, e encontra expressão na obra de Jim Wallis. Em sua crítica do cristianismo cultural, Wallis argumenta que a igreja da cristandade é essencialmente falha devido a suas alianças com a mídia e com as estruturas de poder político. Isso produz um nacionalismo evangélico que simplesmente perpetua a teologia do império. Por ter aceitado as grandes questões do império, todas as vezes que toma alguma posição a igreja o faz de modo equivocado. Isso gera uma igreja impotente que “salva” as pessoas ao mesmo tempo em que deixa de transformar a sociedade.

Essa, afirma Wallis, é uma completa traição do cristianismo. Na cristandade ocidental:

…essa inversão é tão completa, a cegueira tão total, que hoje em dia interesses ricos e poderosos chegam a usar a evangelização a fim de enfocar a atenção das pessoas nos seus pecados pessoais, de modo a distraí-los da realidade da exploração e da opressão.

Em vista disso Jacques Ellul, a terceira voz profética, argumenta que o cristianismo tem sido totalmente subvertido pelo estado e pelos poderes. A igreja triunfante do cristianismo, que batizou a sociedade e fez de todos os seus membros cristãos, representa o rigoroso oposto do cerne da fé cristã. Pois o cristianismo, como revelado no Novo Testamento, não pode fazer milhões de convertidos nem tem como gerar entradas de milhões de dólares. Como o cristianismo existe em conflito com a sociedade e o estado, a igreja tende a cansar-se dessa tensão. Então “toma lugar a subversão, não porque a sociedade é perversa, mas porque a revelação é intolerável”. Porém, como as pessoas dentro da cristandade não querem dar a impressão de que rejeitam o cristianismo, ele é pervertido e subvertido. Dentro desse cristianismo subvertido as forças do estado, do dinheiro, do poder, do engano, da acusação, da divisão e da destruição passam a reinar. Esses poderes só se mostram incapazes de se tornarem soberanos por causa do trabalho do Espírito Santo. O sucesso dos poderes dentro do cristianismo, sua “vitória explosiva”, só pode ser compreendido como a bem-sucedida subversão do cristianismo.

À luz do declínio da cristandade é especialmente importante ouvir essas vozes, para que não aconteça que a igreja limite-se a buscar um simples retorno à era da cristandade. Ao invés de retornar à cristandade, a igreja missional deve voltar a uma compreensão mais genuína da sua fé, uma que dê ouvidos às vozes proféticas e desconfie das alianças com poderes sócio-políticos. Como afirma Rahner, “deveríamos ficar surpresos de quão raramente a igreja entra em conflito com os detentores do poder. Isso por si só deveria fazer com que nos tornássemos profundamente desconfiados de nós mesmos”.

Daniel Oudshoorn
Poser or Prophet

Copiado de A Bacia das Almas

Escrevendo a Bíblia

Copiado do Pavablog.

Uma meditação de inverno

Um livro, uma capa e um amigo

Eis tudo que preciso

por: Luiz Carlos Ramos

2 Timóteo 4.9ss: “9 Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. 12 Quanto a Tíquico, mandei-o até Éfeso. 13 Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. 15 Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras.

“16 Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! 17 Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermé­dio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvis­sem; e fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém! 19 Saúda Prisca, e Áqüila, e a casa de Onesíforo. 20 Erasto ficou em Corinto. Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto. 21 Apressa-te a vir antes do inverno. Êubulo te envia saudações; o mesmo fazem Prudente, Lino, Cláudia e os irmãos todos. 22 O Senhor seja com o teu espírito. A graça seja convosco.”
Introdução

Chegou o fim do semestre, chegou o frio inverno. Em breve, nos dispersare­mos. Alguns sentirão frio. Outros se sentirão sós. Muitos sentirão saudades. O texto que nos inspira neste dia nos fala de um sentimento parecido que, segundo uma antiga tradição, o grande apóstolo dos gentios estaria experimentando.

Segundo essa tradição, o fim da jornada do apóstolo Paulo estava chegando, juntamente com um duro inverno. “O prisioneiro sente a solidão pelo aban­dono ou desvio de alguns colaboradores e a hostilidade de um conhe­cido” (nota da Bíblia do Peregrino). “Esta página contristada e serena, quem sabe a última que o apóstolo haja ditado, lembra o tema do justo abandonado, tema este que a morte de Jesus na cruz ilustrara tão cabalmente. Mas assim como para Jesus, esta solidão está povoada pela presença de Deus” (nota da Bíblia Tradução Ecumênica), bem como pela lembrança de fatos marcantes e pela saudade de amigos especiais.

Paulo se preparava para enfrentar um rigoroso inverno, um inverno meteoroló­gico, um inverno existencial, um inverno afetivo. Para isso, teria escrito a Timóteo, um amigo querido, pedindo que este lhe trouxesse, o mais rápido pos­sível, o que ele precisaria para enfrentar esse temível inverno.

Uma das encomendas de Paulo foi…
… a capa

“Quando vieres, traze a capa
que deixei em Trôade, em casa de Carpo.” (v. 13)

Esse Paulo tinha um estilo de vida austero. Não tinha luxos, não gozava de gran­des confortos, nem praticava muitas extravagâncias. Tanto é assim que ele teria deixado, ou esquecido, um dos seus parcos bens em Trôade. Ora, somente alguém desapegado dos bens materiais deixaria para trás uma capa, um paletó, um sobretudo.

Entretanto, Paulo sabia que, por mais espiritual que fosse, precisava cuidar do corpo. E, embora já em sua reta final, a missão não poderia ser interrompida prematuramente por uma pneumonia irresponsável.

Paulo precisava da sua capa, como nós precisamos do nosso agasalho. O inverno está aí, o semestre chegou ao fim, mas a missão precisa continuar. Para isso, precisamos nos manter aquecidos, saudáveis e dispostos.

Mas só a capa não bastava, por isso a outra encomenda de Paulo incluia…
… os livros e os pergaminhos

“Quando vieres, traze a capa […],
bem como os livros, especialmente os pergaminhos.” (v. 13)

Paulo foi um grande missionário porque foi um homem estudioso, culto, eru­dito, amigo dos livros até nos últimos momentos de sua vida. Leitor compul­sivo, conhecia os clássicos gregos, tanto filósofos quanto poetas. Sabemos tam­bém que foi autor de pena generosa e abundante — o que teria sido da teolo­gia cristã, não tivessem Paulo e seus discípulos nos deixado seu legado por escrito? —. Para enfrentar o rigoroso inverno existencial, Paulo abastece sua dispensa com livros, com palavras… não quaisquer palavras, mas palavras boas, palavras inteligentes, palavras bem-ditas.

Já que as nossas férias também se aproximam, o que levaremos na bagagem para enfrentar o nosso próprio inverno existencial? Quem dera, como Paulo, nesse tempo de reavaliações, tenhamos a chance de lermos bons livros, e nos alimentarmos fartamente das palavras sagradas que Deus e os homens, Deus e as mulheres, plantam nos livros; palavras que se oferecem a nós como pães aro­máticos, saborosos e edificantes.

Mas, além da capa e dos livros, a encomenda mais importante de Paulo foi…
… o amigo João Marcos

“Toma contigo a Marcos e traze-o,
pois me é útil para o ministério.” (v. 11)

Paulo experimentara muitos tipos de relacionamentos: havia amigos que par­tiam, tais como Demas, que abandorara a fé e abraçara o mundo (v. 10), havia os que simplesmente se mudavam, como Crescente e Tito, que estavam morando agora em Galácia e Dalmácia, respectivamente.

Havia, ainda, os amigos que se tornavam inimigos, como Alexandre, o latoeiro (v. 14). Desses, Paulo diz que “o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” (v. 14); e que deles devemos nos guardar (cf. v. 15).

Mas também havia aqueles como Lucas, que nunca o abandonara; amigo leal, fiel, constante, sempre presente, nas horas boas e nas horas amargas; aquele que permanecia quando todos já se tinham ido: “Somente Lucas está comigo” (v. 11).

Mas uma das amizades mais marcantes para Paulo, foi aquela com João Mar­cos. Quando em viagem para Antioquia da Psídia, João Marcos abandonara Paulo e seus companheiros, voltando para Jerusalém (cf. At 13.13). Paulo se lembraria desse abandono, quando Barnabé quis tornar a incluir João Marcos em outra viagem missionária: “Mas Paulo não era de opinião que se retomasse como companheiro um homem que os abandonara na Panfília e, portanto não participara do trabalho deles. Essa discordância se agravou a tal ponto que eles partiram cada qual para seu lado. Barnabé tomou consigo Marcos e embarcou para Chipre, enquanto Paulo associava Silas a si e partia…” (At 15.38 – 40).

O tempo se encarregaria de mostrar a Paulo que ele estava enganado. Nem sem­pre um colega que nos decepciona uma vez, está incapacitado para se associar a nós em outras jornadas. Barnabé que, do alto de sua experiência, podia discer­nir isso, possibilitou a Paulo essa importante amizade e deu-lhe o companheiro que o assistiria nas suas últimas horas.
Peroração

Agora que o tempo de partir se aproxima, e o inverno aperta, precisamos estar preparados para enfrentá-los: a partida e o inverno. E, por mais que os agasa­lhos e os livros nos ajudem, nada pode substituir um amigo.

Nestes tempos de formação acadêmica, devemos atentar para os cuidados do corpo e os cuidados da mente, mantendo a capa e os livros sempre à mão, mas, principalmente, não podemos esquecer dos cuidados do coração, e é para isto que servem os amigos, é para isto que servem as amigas. Como diz o sábio em seu antigo provérbio: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17.17).

Que neste inverno não nos faltem agasalhos, nem livros e muito menos amigos e amigas.

Boas férias.

Faculdade de Teologia da Igreja Metodista
2004

IMAGEM: Cup on book on desk
© Bloomimage/Corbis; COLEÇÃO: Bloom

Extraído de Texto e Textura.

Abolição?

Se nos Estados Unidos o fim da escravidão levou décadas para se consolidar, imagina no Brasil, onde os movimentos por ações afirmativas são torpedeados pela mídia mainstream de direita ligada à FIESP, FEBRABAM e congêneres?

Então, para lembrar a não-abolição da escravidão de 13 de maio, a mera transferência em massa das senzalas para as favelas, uma importante reflexão sobre o tema:

Mais que uma assinatura.

Foi quando “Cristóvão Colombo”, em 1492, invadiu as Américas que a escravidão passou a ser um grande negócio. Os negros eram trazidos, em sua maioria, da costa ocidental da África, entregues em trocas de quinquilharias, (como facas, espadas, armas de fogo, munições, chapéus, peças de vidro e barras de ferro) pelos próprios governantes da África.

Os primeiros negros chegaram ao Brasil por volta do ano de 1580 para trabalhar nas lavouras (cana-de-açúcar, mais comumente). Os negros eram trazidos nos desprezíveis navios negreiros, as viagens duravam meses e muitos negros não sobreviviam a elas devido às condições subumanas a que eram submetidos, falta de higiene, superlotação e alimentação precária contidas na viagem.

Não se pode pensar que os negros aceitaram pacificamente a opressão e nem que toda a população brasileira da época concordava com a situação imposta pela escravidão. Até que veio uma assinatura e pôs fim na história. Fazer isso é limitar a história da abolição, é ignorar e desrespeitar a memória dos mártires negros, heróis e heroínas, negros e brancos, anônimos que perderam suas vidas lutando pela liberdade. Bem, na historia da abolição houve muito mais sangue do que tinta.

Enfim a assinatura faz parte de um todo formado pelo movimento abolicionista e seus membros, mártires (entre eles José Carlos do Patrocínio e Zumbi dos Palmares) e a pressão internacional (em especial da Inglaterra). A queda da escravidão é muito mais que uma assinatura. Na verdade a assinatura, na minha modesta opinião, é a menor parte.

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E também, que tal lembrarmos do mais importante militante pelos direitos civis da história: Martin Luther King.

Martin Luther King, Discurso proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, a 28 de Agosto de 1963

“Estou contente por juntar-me a vós hoje, o dia que entrará para a história como o da maior manifestação pela liberdade na história da nossa nação.

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.

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Por fim, o sermão pregado pelo rev.Luiz Carlos Ramos sobre o tema:

Cartas, algemas e promissórias – Reflexões sobre a liberdade e a libertação a partir da carta de Paulo a Filemom


Luiz Carlos Ramos

No dia 13 de maio de 1888, diz-se que foi abolida a escravatura, pelo menos a oficial, legalizada pelo Estado e abençoada pela Igreja. Essa data é analisada da seguinte maneira pelo historiador Alfredo Bosi:

“o treze de maio não é uma data apenas entre outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que avança em duas direções. Para fora: [porque] o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para den­tro: [porque] o mesmo homem negro [é] tangido para os porões do capita­lismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo [grifo meu] e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. (…) Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor da sua pele. Entre as conseqüên­cias dos séculos de escra­vidão no Brasil desenvolveu-se um quadro de exclusão dos negros. No Brasil um branco recebe mensalmente, em média, o dobro do negro.”

Justamente pelo fato de que essa libertação foi antes a do senhor do que a do escravo, é que os negros brasileiros se recusam a comemorar esta data. Como sabemos, e anualmente concelebramos, a data festejada pelos negros é a do Dia da Consciência Negra, aos 20 de novembro, relembrando o martírio de Zumbi dos Palmares, assassinado no ano de 1695. Mas esta é uma outra história.

Continua no blog Texto e Textura.

Católico gosta de sexo, evangélico gosta de dinheiro

É incrível a racionalização utilizada para a justificativa dos crimes (e pecados) praticados pelas cúpulas eclesiásticas (católicas e protestantes) ao redor do globo.

Enquanto na mídia brasileira a famosa ganância dos evangélicos tem sido noticiada por vinte anos initerruptos, os crimes sexuais cometidos por padres e prelados que antes irrompiam ora aqui, ora ali, parecem ter atingido níveis endêmicos.

Eis uma interessante reflexão de um ex-pastor protestante sobre o nível de distorção doutrinária praticada pelas igrejas neopentecostais.

Pragmatismo em detrimento da Verdade

Minha mulher estava lendo uma revista evangélica que me é enviada e o fazia em estado de perplexidade ante o artigo de uma pessoa considerada séria, e que dizia que apesar de o Neo-Pentecostalismo ser a expressão mais completa da total ausência do Evangelho, todavia, dizia ela, tem-se de admitir que tais movimentos têm promovido, com suas teologias de sucesso e prosperidades, um espírito de ascensão social, o qual, é inegavelmente positivo, segundo ela; para depois concluir que quem se opõe a tais coisas, sejam pessoa criticas, negativas e sem Graça e Misericórdia.

Então Adriana me leu o texto da revista…

Ao concluir disse mais ou menos o seguinte [com palavras e modos dela, que não são fáceis para mim o reproduzir com exatidão]:

“Mas esta pessoa aqui não é séria?… Como ela pode estar tão vendida assim?… O que ela está fazendo é um desserviço ao Evangelho… Ela está jogando pra platéia… Está corrompendo a consciência dos frágeis… Ou não entendeu o Evangelho ou está em engano…”

Achei patético também… Deu-me pena…; mas depois muita compaixão.

O que a pessoa dizia era que se o fator sócio-econômico mostrar indicadores de ascensão social, então, mesmo que seja algo feito em nome de Jesus, mas que seja a própria antítese do Evangelho, pelo fenômeno do estimulo e resultado de sucesso no mercado […]; sim, por tais realizações o anti-evangelho estaria justificado […]; enquanto os que acusam tais coisas de serem os piores inimigos da Cruz de Cristo justamente por falarem em nome de Jesus aquilo de Jesus nada tem, são vistos como os negativos e sem Graça de Deus na vida.

O que a pessoa de fato dizia, simplificando, é que o critério mundano de ascensão sócio-econômico, tem supremacia em importância sobre o Evangelho; e, com isto, afirma também que o eixo de seu amor mudou da eternidade para o mundo, para o mercado, para Babilônia, em sutil abandono do amor pela Nova Jerusalém; ou seja: deixou de dizer seja feita a Tua vontade assim na Terra como no céu; e passou a dizer: Que o padrão da Nova Zelândia e do 1º mundo nos alcancem a qualquer preço, ainda que seja pela via de um estelionato para com Jesus e o Evangelho.

Ou seja: aquilo que é importante diante dos homens e que Jesus disse que é abominação diante de Deus, para ela passou a ser o critério superior para determinar se algo é positivo ou negativo, sem entender que a inversão de tal valor corrompe o ser, arranca toda esperança da glória de Deus do coração, e, literalmente […] enterra a pessoa no pó da terra; e, sem que ela note, tal hiper-valorização dos fenômenos terrenos, acabam por expulsar os últimos resíduos de esperança do coração…

Um dia a pessoa acorda e já não é…

E mais ainda sobre o artigo da revista cristã:…tudo o que a pessoa dizia era em nome do Cristianismo, e nunca em nome de Jesus; sim, nunca em nome do Evangelho; e por uma razão: lá no fundo ela sabe que é impossível.

A gente pode nascer filho de Deus, e, de repente, sem sentir, virar neto do 13º Apóstolo, o Pai do Cristianismo, o Vovô Imperador Constantino. Esse é o poder corruptor da Religião […]; e que eu conheço muito bem; com certeza bem mais do que ela; e há muito mais tempo e em intensidade e profundidade que ela não sonha sequer avaliar…

Com muito desejo de que a verdade não gere amargura, mas quebrantamento sincero […] — desejo a tal pessoa e a todo aquele que advogue a mesma causa irreconciliável com Jesus e com o Evangelho, que a Palavra da Vida prevaleça sobre a Vida sem Palavra, mas apenas com moralismos, de um lado, e, de outro, com um desejo imoral de ver positividade onde Jesus só veria miséria, é que me despeço com amor Nele,

Caio Fabio (extraído do Pavablog, um interessante site de reflexão evangélica)

Por outro lado, a ação contumaz da Igreja Católica em abafar, omitir, esconder, buscar acordos extra-judiciais, calar, transferir pedófilos e outras, não seria o suficiente para caracterizá-la como uma quadrilha? Um grupo constituído para a prática contumaz de atividades criminosas? Pelo menos é o que quer Richard Dawkins, o célebre ateu militante, que entrou na justiça britânica pedindo a extradição de Joseph Ratzinger (aka Bento XVI) para ser processado pela justiça britânica por impedir e acobertar os crimes cometidos pelos membros da igreja.

Esta reflexão é séria e incisiva, ainda que não desrespeitosa à Igreja:

De má fé

JOHN CORNWELL

Em uma tarde de verão no final da década de 1990, minha mulher e eu estávamos à beira de uma piscina nos montes Albano, ao sul de Roma. Observávamos um grupo de meninos de 10 a 13 anos que brincavam na água. Faziam parte de um coral britânico em turnê e haviam cantado em uma missa na basílica de São Pedro, no Vaticano.
Divertindo-se com eles, estava um seminarista, Joe Jordan, que os acompanhou, sem ser convidado, de Roma. Após observar seu comportamento ruidoso, que envolvia fazer cócegas e outras brincadeiras de mão, minha mulher, que lecionou em escolas de Londres por 14 anos, disse: “Aquele rapaz tem um problema: eu não o deixaria perto de uma criança sem supervisão”.
No ano seguinte, Jordan foi ordenado padre e indicado para uma paróquia no País de Gales, no Reino Unido. Em 2000, foi condenado no Tribunal da Coroa, em Cardiff (capital do País de Gales), a oito anos de prisão por abuso sexual de menores em Doncaster e Barry, perto de Cardiff.
Quando perguntei ao reitor do seminário de Jordan por que minha mulher tinha levado apenas alguns minutos para identificar o que ele e seus colegas não conseguiram reconhecer em um período de cinco anos, ele disse: “Ora, Joe era um homem devoto. Não havia qualquer indício de problema”.
O problema oculto de Jordan não era apenas dele e dos meninos de quem abusou, mas um problema de recrutamento, triagem e formação de padres católicos em todo o mundo. Hoje é um problema do papa. O escândalo dos padres católicos pedófilos pode se tornar a maior catástrofe a afligir a igreja de Roma desde a Reforma [no século 16].
A visita de Bento 16 ao Reino Unido em setembro o levará a Holyrood, onde será recebido pela rainha Elizabeth 2ª, cujo ancestral Henrique 8º fundou o protestantismo anglicano. Em uma missa ao ar livre no aeroporto de Coventry, ele irá abençoar as poucas relíquias de um inglês notável -o cardeal John Henry Newman [1801-90], líder espiritual da era vitoriana. Bento 16 deverá beatificar o mais célebre inglês convertido ao catolicismo.
É improvável que o papa busque nos extensos escritos do cardeal respostas para as questões urgentes sobre o sacerdócio católico disfuncional. Mas talvez devesse fazer isso.

O legado de Newman
Em 1845, aos 44 anos, Newman deixou o ministério anglicano por Roma. Sua conversão abalou o país. Foi acusado de mentiroso, um apóstata que havia traído a família, a religião e a nação para adotar a “prostituta da Babilônia”.
Somente quando ele se explicou, em sua “Apologia pro Vita Sua” (Em Defesa da Própria Vida), conseguiu afastar as alegações sobre sua honestidade. A reputação de Newman como um grande literato e teólogo continuou crescendo após sua morte. Porém seu maior legado para o sacerdócio católico hoje foi seu exemplo de vida celibatária enquanto desfrutava um companheirismo permanente e afetuoso.
Sua amizade íntima com o padre Ambrose St. John, com quem foi enterrado, muitas vezes foi interpretada como um relacionamento homossexual. Seja qual for o caso, a importância dessa intimidade foi sua maturidade -o apoio mútuo de amigos unidos em uma intensa vida pastoral e literária.
Quando o papa Bento 16 ainda era um jovem professor, conhecido como padre Joseph Ratzinger, ele, como muitos jovens teólogos do pós-guerra na Alemanha, escolheu Newman como seu herói intelectual.
Inspirado pelos textos de Newman, o padre Ratzinger foi um defensor entusiástico e explicador das iniciativas reformistas do Concílio Vaticano 2º. O papa João 23, que iniciou o Vaticano 2º, o comparou com abrir as janelas de um quarto abafado. Tudo, assim, ecoava a ideia de igreja de Newman.
“Aqui embaixo, viver é mudar”, escreveu Newman, “e ser perfeito é ter mudado bastante”. Newman insistiu, também, em que a consciência individual de uma pessoa é mais crucial que a autoridade da igreja. Os textos teológicos do jovem Ratzinger ecoam a influência de Newman.
Então algo traumático e nunca totalmente explicado aconteceu com o professor Ratzinger. Coincidiu com o período de rebeliões em 1968, quando um bando de estudantes blasfemos invadiu a Universidade de Tübingen, onde Ratzinger ensinava. Ele sentiu que havia vislumbrado o abismo de uma nova idade das trevas.

Sempre a mesma
Retirando-se para o ambiente tranquilo da Universidade de Regensburg, preparou-se para se dedicar não tanto à mudança quanto ao conservadorismo. Se a igreja desejasse sobreviver ao surto de relativismo, socialismo, anarquia e secularismo agressivo, precisava ser clara e definida; deveria ficar “semper eadem”, sempre a mesma.
O professor Ratzinger foi nomeado arcebispo de Munique e Freising em 1977 e, depois, cardeal. Continuou reverenciando Newman e apoiando os decretos do Concílio Vaticano 2º. Mas agora insistia em que Newman e o Vaticano 2º foram muito mal compreendidos pelos católicos liberais.
Quando João Paulo 2º indicou Ratzinger para chefe do departamento que vigia a ortodoxia teológica (a Congregação para a Doutrina da Fé), foi confiando em que conteria a proliferação de dissidentes, principalmente os teólogos da libertação da América do Sul.
Assim, quando Bento 16 sucedeu João Paulo 2º, em 2005, os católicos tradicionalistas estavam confiantes em que ele conteria os “progressistas” de uma vez por todas.
Nos últimos cinco anos, ele trouxe de volta a missa em latim, reduziu as anulações de casamentos e restringiu o ecumenismo e o diálogo entre as religiões; a igreja tornou-se cada vez mais centralizada.
Enquanto isso, revelações de abuso infantil clerical em grande escala e ocultações episcopais, que começaram a surgir durante o pontificado de João Paulo 2º [1978-2005], continuaram proliferando.
Nos anos 1990, João Paulo 2º e o cardeal Ratzinger tendiam a desprezar os relatos como maledicência da mídia. Simplesmente não podiam acreditar que os padres pudessem ser abusadores de qualquer coisa, a não ser em escala muito pequena e excepcional.
Bento 16 foi obrigado a modificar essa opinião, mas continua pensando no abuso como um lapso espiritual, mais que um problema psicológico, social e criminal. O abuso dos padres pedófilos é, em sua visão, um grande pecado, mais do que um grande crime. Sua estratégia para lidar com a crise se baseia nessa convicção. Em 20 de março, Bento 16 deu um veredicto severo sobre o escândalo dos abusos na Irlanda, em uma “carta pastoral” à igreja daquele país.
A causa da crise, disse, fora o secularismo e as tentações que ele representa para a santidade dos padres.

Padres perplexos
A maioria inocente dos padres da Irlanda se indignou por ter sido manchada pelo mesmo pecado que os estupradores de crianças. Estão furiosos com a desculpa implícita de Bento 16 ao Vaticano e ao papado.
Enquanto isso, suas iniciativas para combater a praga dos padres pedófilos se concentram nos remédios sobrenaturais, mais que nos humanos. Ele decretou que a hóstia eucarística (que os católicos acreditam ser o “corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo”) deveria ser exposta para adoração em centenas de igrejas em toda a Irlanda.
Prometeu enviar equipes de clérigos ao país para investigar seus seminários, monastérios, paróquias e dioceses. Essas tropas de choque espirituais vão pregar o Evangelho novamente para os envergonhados clérigos e freiras irlandeses.
Na mesma carta, o papa culpa as interpretações clericais errôneas das reformas do Vaticano 2º. Em outras palavras, os católicos liberais são, em última instância, responsáveis por seduzir o clero irlandês, afastando-o da piedade sacerdotal. Ficou evidente, desde a década de 1970, que o sacerdócio católico está em crise. Cem mil padres deixaram o ministério no período de duas décadas, e a hemorragia continua.
Contra esse pano de fundo, o escândalo dos padres pedófilos é um de uma série de sintomas de uma crise que inclui critérios de recrutamento inadequados, triagem inexperiente e leiga, formação questionável nos seminários e o perigo de definir o sacerdócio em termos de exaltação espiritual.
O sacerdócio celibatário católico atrai muitos homens que têm vocações autênticas. Pelo mesmo motivo, como confere a cada ordenado um respeito imerecido e até adulação (uma posição superior à dos anjos), também pode atrair homens com problemas sexuais, sociais e psicológicos não resolvidos.

Formação inadequada
O processo de triagem raramente envolve leigos, incluindo mulheres, que tenham perícia adequada. A rotina regulada dos seminários, com suas preocupações devocionais e uma vida comunitária agradável, totalmente supervisionada, é uma preparação irreal para a vida sem supervisão na solidão gregária experimentada por muitos padres paroquianos, que vivem sós, sem o apoio de um relacionamento significativo.
A formação de relacionamentos maduros e duradouros, conhecidos como “amizades particulares”, é ativamente desencorajada no seminário. Se Bento 16 tivesse citado Newman como um exemplo de sacerdócio, poderia ter proposto uma preparação e um estilo de sacerdócio mais adequados às pressões dos pastores católicos no mundo moderno.
Quando o corpo de Newman foi exumado em preparação para sua beatificação, a mídia ficou surpresa pela notícia de que ele tinha sido enterrado com Ambrose St. John.
Essa circunstância foi usada para alegar que eles tinham um “relacionamento gay”. Na verdade, Newman, quaisquer que fossem suas tendências sexuais, certamente viveu uma vida de castidade. Mas acreditava que um padre deveria desfrutar de uma companhia permanente, com todo o afeto mútuo e o apoio que um tal relacionamento implica.
Na visão de Newman, a formação para o sacerdócio deveria ser feita no trabalho em paróquias, mais que em uma casa monástica fechada. Uma vida pastoral de sacerdote, segundo Newman, deveria ser de uma domesticidade normal; ele deveria comer bem, tirar folgas frequentes, desfrutar seu vinho e alimentar muitas amizades, com homens e mulheres.
Seu legado dificilmente combina com o conservadorismo do papa Bento 16. É totalmente possível, na verdade, que sua beatificação indique uma tentativa de sanificar seu legado, mais que adotar os aspectos críticos a Roma.
Podemos esperar, com a beatificação, versões convenientes das visões críticas e liberalizantes de Newman sobre a Igreja Católica. É improvável que elas ofereçam consolo aos abusados, mas poderão contribuir para o longo processo de cura que está pela frente, que deve começar pela admissão da responsabilidade compartilhada pelo sacerdócio disfuncional da igreja, chegando até o topo.

JOHN CORNWELL é professor no Centro de Estudos Avançados em Teologia e Religião do Jesus College, da Universidade de Cambridge. É autor de “O Papa de Hitler” (Imago).
A íntegra deste texto saiu na “New Statesman”.
Tradução de° Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Publicado em abril no caderno Mais! da Folha de São Paulo

A situação tá tão feia, mas tão feia que até quando um bispo se manifesta buscando esclarecer uma distinção psicológica e legal e explicar uma declaração dita por outro bispo, isso é interpretado como uma defesa da pedofilia:

Tocar em adolescente é diferente de tocar em criança, diz bispo emérito de Blumenau, D.Angélico Sândalo Bernardino.

Bem, eu conheci o bispo Angélico Bernardino a uns dez anos atrás, em um culto ecumênico que aconteceu na paróquia Santa Cruz de Itaberaba, onde eu, minha esposa, meu cunhado e uma amiga éramos os únicos metodistas na ocasião, isso antes da radical guinada reacionária tanto da ICAR quanto da Igreja Metodista. Certamente d.Angélico não estava defendendo a leniência ou o “direito” a tocar em adolescentes, sabendo que ele sempre foi um bispo fortemente engajado em lutas sociais, opção preferencial pelos pobres e outras lutas que a cúpula reacionária, conservadora e elitista das igrejas (católica e evangélicas) sempre se omitem. Mas a maré anda tão brava que até essa acusação sobrou para o velho bispo, punido pelo Vaticano por ter sido defensor dos pobres e da Teologia da Libertação.

Realmente, ultimamente tem sido difícil ser cristão dentro das igrejas cristãs.

A páscoa, ainda a páscoa

Depois de duas semanas passadas, caíram em minhas mãos essas duas reflexões sobre a páscoa:

Manual do Minotauro

Por que cremos na páscoa…

Lídia Maria de Lima

Parece que ainda é sexta feira. Ainda não faz nem uma semana que rememora­mos o ciclo pascal e com alegria celebramos a ressurreição de Cristo através das liturgias e da santa ceia. Entretanto, ao ver as notícias da semana um senti­mento de amargura invade a nossa alma. Imagino que este deveria ser o mesmo sentimento que pairava no ar naquela sexta feira de crucificação.

Os olhares ainda são de desespero, há choro, dor, medo e morte. As notícias que chegam do Rio de janeiro, após alguns dias de chuva, nos assombram. Não há como se manter indiferente diante de tanto sofrimento. Famílias inteiras foram soterradas pela falta de políticas públicas que contemplem a periferia. Situação que se repete há anos, não só no Rio de janeiro, mas em muitas cida­des brasileiras. Morar em área de risco não é uma opção, mas a única alterna­tiva encontrada por muitas famílias do nosso país.

Em uma das matérias apresentadas na TV, vi um morador tentando consolar os que choravam por intermédio das palavras do salmista: “Elevo meus olhos para os montes de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Sl 121.1,2). A fé é o que mantém acessa a chama da espe­rança do coração deste povo.

Quando esta “sexta feira” acabar, a dor e as marcas certamente ficarão na vida e na história de muita gente. E o apoio da comunidade cristã será extrema­mente necessário.

Somos desafiados/as a testemunhar os sinais da graça e da unidade do corpo através de ações concretas que possam sinalizar a esta sociedade que, mesmo que o futuro nos pareça assustador ainda é possível crer na páscoa, na passa­gem e na transformação.

Oremos pelas famílias que sofrem, mas aguardam a ressurreição dos sonhos.
Que todos os dias sejam de paz e páscoa.

Sororalmente,

Lídia Maria de Lima

Texto e Textura

A primeira, uma contundente crítica anti-clerical feita a quatro mãos por Laerte e Fernando Pessoa. Ainda que anti-religiosa, profundamente lírica e rica em imagens. E, como diz o Evangelho, se os discípulos não clamarem, as pedras clamarão. Se os cristãos não se levantam contra a comercialização do Evangelho, outras vozes farão e envergonharão ainda mais os cristãos por se omitirem.

A segunda uma tocante mensagem sobre mais uma tragédia que se abateu justamente sobre os mais pobres, os mais desprezados e vilipendiados pelos poderosos e governantes. Mas ainda assim, uma voz que reafirma a esperança que permeia todo discurso cristão. Pois é. Eu também continuo a crer na páscoa. POST TENEBRA LUX, após as trevas, a luz. Após a morte, a ressureição.

As mulheres e a ressurreição

Já copiei antes e continuarei fazendo, textos do professor de liturgia e homilética Luiz Carlos Ramos.

Este é um belíssimo sermão sobre a ressureição e o papel das mulheres. Quem há de negar o aspecto libertário, revolucionário de Jesus e do Evangelho? Só os religiosos o fazem, ao insistirem em cabrestos, interditos e maldições sobre as mulheres. Coisas que jamais passaram perto dos ensinamentos de Jesus.

Genis, Marias e Ângelas
Surpresas e metamorfoses pascais (Jo 20.1–18)

Luiz Carlos Ramos
(Aos alunos e alunas do 3º. Ano Noturno
do Curso de Teologia—2006)

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madru­gada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida. Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabe­mos onde o puseram. Saiu, pois, Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Ambos corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro; e, abaixando-se, viu os lençóis de linho; todavia, não entrou. Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. Pois ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele dentre os mortos. E voltaram os discípulos outra vez para casa.

“Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se, e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés. Então, eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Ela lhes respondeu: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Tendo dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Mulher [gr. Gyne], por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Raboni (que quer dizer Mestre)! Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Então, saiu Maria Mada­lena anunciando [gr. aggellousa] aos discípulos: Vi o Senhor! E con­tava que ele lhe dissera estas coisas.” (Jo 20.1 – 18)
Introdução

Como se sabe, o Evangelho de João foi um dos últimos escritos do Novo Testa­mento a serem redigidos, num período já bem tardio. Talvez por isso há nele vários elementos que o tornam bastante distinto dos demais (dos chamados “sinóticos”): o tom afetivo, o estilo assincrônico, sua linguagem poética e, parti­cularmente, sua abordagem singular de certos episódios, nos quais as crianças e as mulheres ganham destaque especial.

A narrativa joanina da ressurreição de Jesus é bastante peculiar nesse aspecto. Há, notoriamente, um conflito entre diferentes tradições que evidenciam ten­sões entre os seguidores de Pedro (que é o primeiro a entrar no sepulcro), João (como o jovenzinho que foi o primeiro a crer), e Maria (como a que fica do lado de fora chorando). Nessa costura precária, são as crianças as primeiras a crer (cf. v. 8), e as mulheres, as primeiras a testemunhar o milagre da ressurreição (cf. vv. 17 – 18), enquanto o primeiro “papa” volta pra seu barco e sua pescaria.

Nesta reflexão, entretanto, a partir especificamente dos versículos 11 – 18, gostaria de chamar a atenção para algumas surpresas e metamorfoses pascais vivenciadas por uma mulher em particular, colocada em evidência pela narra­tiva, que pode ser paradigmática de todas as mulheres e de toda a humanidade: trata-se de Maria Madalena.
Geni…

A tradição se encarregou de difundir a suposta má fama dessa mulher chamada Maria de Magdala: pecadora, endemoninhada (por sete espíritos), prostituta (ainda que as bases exegéticas dessa tradição sejam bastante frágeis). Se tomar­mos como referência a narrativa lucana da unção dos pés de Jesus por uma certa pecadora, freqüentemente confundida com Maria Madalena, podemos descobrir como os fariseus e as pessoas em geral costumavam se referir a mulheres como ela: “mulher-pecadora”. Neste caso, “mulher” e “pecadora” são praticamente sinônimos.

Em grego, mulher é gyne, de onde derivam as palavras portuguesas “gene”, “genética”, “gênero”, “gênesis” e o nome próprio “Geni”. Chico Buarque tem uma composição ontológica na qual narra a triste saga de uma personagem igualmente difamada, em quem todos adoravam ativar pedras e excrementos.

Mas voltemos ao sepulcro. Lá está a nossa Maria, chorando, meditando incon­formada sobre aquele túmulo violado, aqueles lençóis jogados no chão, misteri­osos, aquele sudário enigmático enrolado num canto, e dois homens suspeitos velando à cabeceira e aos pés de uma lápide vazia.

É nessa hora que ela escuta alguém chamando-a: “— Geni! [Gyne]” Ela se volta, e mal consegue distinguir um vulto, no lusco-fusco da aurora, os olhos ainda embaçados pelas lágrimas e as pupilas dilatadas pelas trevas do sepulcro. Seria o jardineiro? Estaria ele com o corpo do mestre? Então, os ouvidos reve­lam o que os olhos não podem mostrar: a voz torna a chamá-la, mas desta vez pelo nome…
… Maria

Não se sabe ao certo a origem do nome “Maria”. Uma das teorias supõe ser esse nome de origem egípcia e uma derivação de “Mirian”. Dos vários sentidos propostos, um me chamou a atenção: “obstinada”.

Parece que esse significado se encaixa perfeitamente à nossa personagem. É a primeira a ir ao sepulcro, sendo ainda escuro. Anuncia o roubo do corpo do Mestre aos companheiros, mas volta para junto do túmulo. Enquanto os outros discípulos “voltam para os seus”, para suas casas, para seus afazeres, Maria continua velando à entrada do túmulo.

A recompensa da sua obstinação é o privilégio de ter sido a primeira a se encon­trar com o Cristo ressurreto.

Quando Geni ouve aquela voz chamando: “— Maria!”, acontece uma meta­morfose maravilhosa: ela reconhece o Mestre Vivo, e exclama: “— Rabino, meu Mestre!” E, literalmente, o abraça.

Então, o Rabino lhe diz que ela precisa deixá-lo ir: “— Não me segures, por­que ainda não subi para o meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.”

É nessa hora que a Geni, que havia se reconhecido como Maria na voz do Mes­tre, converte-se, por essa mesma palavra, em…

… Ângela

Diz o texto que “então saiu Maria Madalena anunciando aos discípu­los: Vi o Senhor!” O termo grego relativo a “anúncio”, usado aqui na forma de um verbo no particípio, deriva de aggelos, de onde temos a palavra “anjo” e o nome próprio “Ângela”, ou “Angélica”.

A mulher difamada, em quem se costumava atirar impropérios, no encontro com o Mestre ressurreto redescobre sua identidade e até amplia seu horizonte existencial. Como na música de Chico Buarque, é a difamada Geni, que se torna a portadora da salvação da cidade. Maria torna-se apóstola. Sim, a primeira. Testemunha angélica da vitória da vida sobre a morte. Anunciadora da boa nova: “A morte morreu! A morte morreu!”
Conclusão

Esta narrativa de João é uma espécie de Gênesis às avessas. Lá, as pessoas viviam, qual borboletas, num belo jardim, e como anjos, desfrutavam da com­panhia divina na viração do dia. Mas, um dia, num encontro diabólico com a serpente, essas pessoas mergulharam num casulo mortal, que as tornou vulne­ráveis e sujeitas, como pobres lagartas, às dores e pesares de uma vida de pecado, sem a beleza nem a leveza das borboletas, porque perderam suas asas da liberdade.

Por sua vez, o Evangelho de João nos fala de uma nova gênese, ocorrida, desta vez, no tétrico e fúnebre jardim onde Jesus havia sido sepultado. Jesus faz o caminho inverso, rompendo o casulo da morte e ressurgindo com o nascer do sol.

E ele foi só o primeiro. Porque o nosso Mestre vive, e vive eternamente, nós podemos ter esperança, e também podemos experimentar, como a Geni da nossa história, a metamorfose de Maria capaz de nos transformar a todos em “anjos” e “ângelas” anunciadores da beleza e da leveza da ressurreição.

Sim, hoje, a morte morreu e Jesus está vivo!

E porque Ele vive, eu também viverei, nós também viveremos!

Aleluia!

Feliz páscoa!

Paixão

Paixão. Sofrimento. Morte. O passo necessário pra redenção.

Mas, depois de Baudelaire, quem há de negar que o horrível, que o terrível não pode ser sublime?

E Johann Sebastian Bach foi o que mais sublimemente tratou a paixão. Entre a sanguinolência sensacionalista do neocon Mel Gibson e a beleza inefável de Bach, fico sem pestanejar com a segunda opção.

Bach – Paixão Segundo São Mateus

O Ciclo Pascal

O ciclo pascal

Luiz Carlos Ramos

O Ciclo Pascal — que compreende a Quaresma, a Semana Santa, o Tempo Pascal propria­mente dito, e encerra-se com o Pentecostes — formou-se a partir de um processo de reflexão e sis­tematização do cristia­nismo que vai do pri­meiro ao quarto século da era Cristã. A partir deste ciclo se constituiu todo o calendário litúrgico.

Nas comunidades primiti­vas, era comum a reunião no primeiro dia de cada semana na qual celebrava-se a memória de Jesus. A origem do culto cristão remonta a essa “Páscoa Semanal”, que ocorria no chamado “Dia do Senhor”.

Em boa parte por influência do judaísmo cristão, desenvolveu-se uma celebra­ção anual da Páscoa como um “grande dia do Senhor”, cuja festa se prolongava por cinqüenta dias, sendo o último, o dia de chegada do Espírito, o Pentecostes Cristão, isso já no século II.

No século IV, desenvolveu-se a tradição de reviver e refletir de um modo mais sistematizado, os momentos da paixão, isso deu origem às celebrações da Semana Santa. Desde o século III as vésperas da Páscoa já eram dias de refle­xão. Os catecúmenos que por dois anos vinham sendo preparados, agora eram acompanhados por toda a comunidade. Inspirando-se nos quarenta dias de pre­paro de Jesus para seu ministério, nasceu o período da quaresma. Assim, em torno da celebração da morte e ressurreição de Jesus, desenvolveu-se todo o Ciclo Pascal do Calendário Litúrgico Cristão, marcado pela penitência e confis­são, mas também pela alegria e exultação do crucificado e ressuscitado.

A Quaresma é o período no qual se enfatiza a importância da contrição, do preparo e da conversão. Inicia-se no quadragésimo dia antes da Páscoa (não se contam os domingos). O início na Quarta-feira de Cinzas retoma à tradição bíblica do arrependimento com cinzas e vestes de saco (Jn 3.5 – 6). É um momento oportuno para refletir sobre a confissão e o valor do perdão de Deus.

Sua espiritualidade enfatiza momentos de preparo na história bíblica geral e da vida de Jesus:

  • Quarenta dias de Jesus no deserto (Mt 4.2; Lc 4.1ss);
  • Quarenta dias de Moisés no Sinai (Êx 34.28);
  • Quarenta anos do povo no deserto (Êx 16.35);
  • Elias em direção ao Horeb (1Rs 19.8).

A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos, celebração de Cristo como o Messias, salvador dos pobres, o rei dos humildes. Reflete-se, nessa semana, passo a passo, os últimos momentos da vida de Jesus.

Este é o momento da vigília de preparo para a ressurreição.

Sua espiritualidade chama-nos a atenção para os momentos finais de Jesus até o ápice de sua paixão:

  • A Santa Ceia (Mt 26.17 – 30);
  • O Lava-pés (Jo 13.1 – 17);
  • Jesus no Getsêmani (Mt 26.36 – 46; Mc 14.26 – 31);
  • O julgamento, sepultamento e a crucificação (Mt 27; Mc 15; Lc 23; Jo 19).

A Páscoa¸ propriamente, é a festa da ressurreição e da libertação. Um novo Êxodo ocorre, e a humanidade passa do cativeiro da morte para a vida.

Sua solenidade pode iniciar-se já na Quinta-Feira Santa (instituição da ceia), que dá início ao chamado Tríduo Pascal. Contudo a celebração da ressurreição começa com uma vigília na noite de sábado encontrando sua plenitude no rom­per da aurora do Domingo da Páscoa, quando Cristo é lembrado como o sol da justiça que traz a luz da nova vida, na ressurreição.

A espiritualidade norteadora da Páscoa aponta para a ressurreição nos mais variados relatos das comunidades do século I d.C.:

  • A ressurreição (Mt 28.1 – 20; Mc 16.1 – 8; Lc 24.1 – 12; Jo 20.1 – 18; At 1.14);
  • Cânticos Pascais (Sl 113 ao 118 e Êx 12).

Entre os hebreus, era comum a celebração da chamada “festa das semanas” ou Pentecostes, isso porque ela se dava sete semanas, ou cinqüenta dias, após a Páscoa. Nela, o povo dava graças ao Senhor pela colheita. Mais tarde, adquiriu mais uma dimensão celebrativa, a da proclamação da lei (instrução) no Sinai, cinqüenta dias após a libertação do Egito.

Na era cristã, o Pentecostes tornou-se o último dia do ciclo pascal, quando celebra-se a chegada do Espírito Santo como aquele que atualiza a presença do ressuscitado entre nós, dando força para que as comunidades sejam testemu­nhas de Jesus na história.

A espiritualidade que nos orienta nesse período fala da presença consoladora do Espírito que semeia nos corações a esperança do Reino de Deus e nos impul­siona para a missão:

  • Festa das semanas (Êx 34.22; Lv 23.15);
  • Jesus promete o Consolador (Jo 16.7);
  • Jesus ressuscitado sopra seu Espírito (Jo 20.22);
  • A chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2).

Extraído do excelente blog de liturgia e espiritualidade Texto e Textura.

Um beijo no meio do caminho

Um beijo no meio do caminho

Rev. Luiz Carlos Ramos

Para o povo cristão, o período de 40 dias que antecede a Páscoa é um tempo de reconciliação. A parábola do filho pródigo (Lc 15. 11 – 32) nos ensina muito a esse respeito. Aquele filho experimentou um tempo quaresmal: teve de pas­sar por um jejum forçado; teve ocasião para meditar longamente sobre sua con­dição miserável ao lado dos porcos; e o resultado é que ele se arrependeu amar­gamente de seus enganos e desenganos…

É então que ele toma uma decisão: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”. Imediatamente o rapaz se levantou e foi ao encontro do pai. Da mesma forma, o relato nos diz que, quando ele ainda vinha longe, o pai saiu ao encontro do filho. Ambos se encontraram no meio do caminho e se beijaram. Houve recon­ciliação, a paz foi restaurada.

Notemos que, para que a reconciliação aconteça, é preciso que alguém dê o pri­meiro passo e que alguém dê o primeiro beijo. Se é preciso que alguém volte, também é preciso que o outro saia ao encontro. Reconciliação é isso: reencon­tro. E para que aconteça, bastam duas coisas: um passo e um beijo.

Neste tempo que antecede a Páscoa, quando nos lembramos do grande passo de Deus em Cristo vencendo a infinita distância que nos separava dele, nos damos conta de que já está mais do que na hora de nos levantarmos, e darmos também nós esse importante passo em direção a Deus e em direção ao próximo.

Diz o Antigo Testamento que há tempo para abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, pois este é o tempo de abraçar. Para isso basta darmos um passo e um beijo no meio do caminho.

Extraído do excelente Texto e Textura.

Poeta, cantor, intérprete, cristão

Jorge Camargo é da quase “velha guarda” da música evangélica. Quando começou sua carreira, nos já quarentões Vencedores Por Cristo, foi considerado um virtuose precoce, que cantava, tocava, compunha antes dos vinte anos de idade.

O tempo passou e o talento amadureceu.

Hoje, dado o estado quase comatoso da música evangélica (apesar da aparente pujança mercadológica e da profusão de novos lançamentos), onde de um lado há a indigência musical, de outro, a pobreza absoluta lírica e de outro a deturpação do evangelho, ouvi-lo é praticamente um oásis no meio do deserto da mediocridade.

Mas além de compor e cantar, Jorge tem se dedicado a escrever, a traduzir e a se aprimorar intelectualmente. Ultimamente, além de seus álbuns, livros traduzidos e outros, tem escrito na revista Ultimato, de onde eu retirei a meditação abaixo:

Um sonho de igreja
Jorge Camargo

Em 2001 passei aproximadamente um mês na África, especificamente em Angola, na cidade do Lubango.

Na época o país ainda estava em guerra (que terminou em abril de 2002). A cidade, como o restante da nação, sofria as mais variadas consequências do conflito que se iniciara: primeiro em busca da independência de Portugal, depois descambou num confronto fratricida.

Em meio a tantas dificuldades, observei que havia muitas igrejas de origem protestante na cidade representando várias denominações. Na comunidade onde o grupo que eu liderava trabalhou, muitas eram as atividades desenvolvidas em prol da comunidade como um todo. E em uma cidade sem qualquer tipo de opção de lazer e de cultura, a igreja se tornara um ponto de encontro, um pólo produtor de atividades culturais em suas mais variadas formas: música, dança, teatro, artesanato etc. Um autêntico oásis num deserto de opções e de carências.

No meio daquele caos social, tive um vislumbre do que entendo ser a contribuição da igreja ao mundo. Sonhei uma igreja. O que seria de nós sem a possibilidade de sonhar?

Vamos ao sonho:
Uma igreja cujo templo está localizado no centro da cidade, de fácil acesso e muita visibilidade.

Suas portas estão abertas diariamente (ao contrário de muitos edifícios religiosos que funcionam somente nos dias de culto e que no restante do tempo permanecem trancafiados). Além dos cursos profissionalizantes, do atendimento aos necessitados, das parcerias com a prefeitura, o estado, o governo federal e a iniciativa privada, a igreja também possui um intenso calendário cultural que, diferente de outras que utilizam somente as datas cristãs para promover seus musicais, abre o espaço de seu imenso palco a uma programação intensa que contempla todos os estilos de música. Às quintas, por exemplo, uma camerata se apresenta no templo com repertório barroco e entrada franca, de modo que os moradores da cidade que apreciam música erudita têm oportunidade de assistir um concerto gratuito, além de apreciar os vitrais da velha catedral protestante, e tomar um delicioso café no salão, servido pelos membros da comunidade, que usam esse tempo como oportunidade para servir e estabelecer amizades. Sem proselitismo. Sem forçar a barra. Amizade genuína e desinteressada.

Às sextas as noites são de rock pesado. Os adolescentes e jovens da igreja, instruídos que são a cultivarem amizades fora dos muros de seu templo, veem na programação mensal, que inclui o concerto de rock, uma oportunidade de convidar seus amigos a conhecer o espaço e ouvir a música que ambos apreciam. E assim estarem mais perto. Curtirem a oportunidade de ser gente no meio de gente. Bem ao estilo de Jesus, que amava as festas e a possibilidade de estar cercado de pessoas.

No rodízio de programação incluem-se shows de MPB, música alternativa, música instrumental de estilos variados, palestras sobre música e cultura, musicoterapia etc.

Algumas manhãs e tardes são reservadas às exposições: pintura, escultura, gravura, fotografia.

Há também as mini-temporadas teatrais, os saraus, com leitura de poemas, os lançamentos de livros.

Quantas opções de difusão de arte e cultura forem concebidas e viabilizadas no espaço singelo de um templo! No espaço do coração e da mente arejada de uma comunidade que existe para servir o mundo e contagiá-lo com boas obras, serviço abnegado e amor sem limites.

Estou perto de despertar de meu sonho quando alguém toca em meu ombro e diz: “Quero agradecer ao pastor da igreja por abrir as portas do templo e do coração para me receber. Não imaginei que esse espaço pudesse servir a tantas possibilidades. Qual é mesmo o horário dos cultos aqui?”.

Acordo acreditando que a igreja ainda possa ser lugar de encontro, de acolhimento, de sorriso, de mentes e corações desarmados.
Mas tudo isso ainda é apenas um sonho.

• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. http://www.jorgecamargo.com.br

http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3&registro=1143

Ajuntamento

Amor Verdadeiro

A Escuridão Me Basta

Agostinho

Teus Altares

O Natal do Sol da Justiça

O Natal do Sol da Justiça

Por Luiz Carlos Ramos*

Mas para vós outros que temeis o meu nome
nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas.

(Malaquias 4.2.)

O Natal e a Páscoa se constituem nas mais importantes solenidades da tradição cristã. O Natal, porque faz referência à encarnação do Salvador divino, na criança humilde de Jesus, filho de Maria, na época em que Herodes Antipas era o tetrarca da Galiléia; e a Páscoa, porque rememora a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, ocorrida no período em que Pôncio Pilatos governava a Judéia.

No entanto, não se trata de mera retrospectiva histórica, mas antes, de atualização celebrativa de um acontecimento salvífico que tem implicações para o presente e é determinante em relação ao futuro daqueles e daquelas que o celebram com fé.

A Páscoa cristã é a festa mais antiga, e já era comemorada no final do primeiro século da nossa era. O Natal é mais tardio, e só se fixou a partir do século IV, mas isso a partir da tradicional celebração do dia de Epifania (6 de janeiro), que já era comemorada em meados do primeiro século.

A Epifania (palavra que significa “manifestação”) era festejada pelos cristãos já no final do primeiro século e início do segundo (a ponto de ficar registrada nos Evangelhos, cf. Mt 2), como a evidência de que o evangelho de Jesus Cristo não era uma exclusividade dos judeus-cristã os, mas uma manifestação da graça de Deus para toda a humanidade. Por isso, recorda-se, nessa festa, a visita dos Magos, que vieram do Oriente para saudar o Deus criança e dar-lhe presentes; bem como o Batismo do Senhor, ocasião em que Jesus se apresenta publicamente como Filho de Deus; e ainda a realização do seu primeiro milagre, na cidade de Caná da Galiléia, pelo qual Jesus inicia publicamente seu ministério.

No contexto romano, do início da nossa era, por influência egípcia, havia uma grande festa popular que, a propósito do solstício de inverno (hemisfério Norte), realizava uma série de rituais dedicados ao deus-sol. Tais rituais eram realizados na expectativa de que o mundo não fosse engolido pelas trevas ameaçadoras do inverno (ocasião em que o sol parecia ficar cada vez mais distante, os dias mais curtos e as noites mais longas). Essa festa era chamada de Adventus Redentoris e Natale Solis Invictus, ou a Chegada do Redendor e Nascimento do Sol Invencível.

Os cristãos, então, “evangelizaram” essa festa, reinterpretando- a à luz dos escritos bíblicos. A justiça divina se alteia sobre a humana, tal como descrito no capítulo 60 do profeta Isaías (a leitura desses 22 versículos descortina para nós o verdadeiro horizonte natalino):

1 Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR nasce sobre ti. 2 Porque eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o SENHOR, e a sua glória se vê sobre ti. 3 As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu. 4 Levanta em redor os olhos e vê; todos estes se ajuntam e vêm ter contigo; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas nos braços. 5 Então, o verás e serás radiante de alegria; o teu coração estremecerá e se dilatará de júbilo, porque a abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações virão a ter contigo. 6 A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Midiã e de Efa; todos virão de Sabá; trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do SENHOR. 7 Todas as ovelhas de Quedar se reunirão junto de ti; servir-te-ão os carneiros de Nebaiote; para o meu agrado subirão ao meu altar, e eu tornarei mais gloriosa a casa da minha glória. 8 Quem são estes que vêm voando como nuvens e como pombas, ao seu pombal? 9 Certamente, as terras do mar me aguardarão; virão primeiro os navios de Társis para trazerem teus filhos de longe e, com eles, a sua prata e o seu ouro, para a santificação do nome do SENHOR, teu Deus, e do Santo de Israel, porque ele te glorificou. 10 Estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão; porque no meu furor te castiguei, mas na minha graça tive misericórdia de ti. 11 As tuas portas estarão abertas de contínuo; nem de dia nem de noite se fecharão, para que te sejam trazidas riquezas das nações, e, conduzidos com elas, os seus reis. 12 Porque a nação e o reino que não te servirem perecerão; sim, essas nações serão de todo assoladas. 13 A glória do Líbano virá a ti; o cipreste, o olmeiro e o buxo, conjuntamente, para adornarem o lugar do meu santuário; e farei glorioso o lugar dos meus pés. 14 Também virão a ti, inclinando-se, os filhos dos que te oprimiram; prostrar-se-ã o até às plantas dos teus pés todos os que te desdenharam e chamar-te-ão Cidade do SENHOR, a Sião do Santo de Israel. 15 De abandonada e odiada que eras, de modo que ninguém passava por ti, eu te constituirei glória eterna, regozijo, de geração em geração. 16 Mamarás o leite das nações e te alimentarás ao peito dos reis; saberás que eu sou o SENHOR, o teu Salvador, o teu Redentor, o Poderoso de Jacó. 17 Por bronze trarei ouro, por ferro trarei prata, por madeira, bronze e por pedras, ferro; farei da paz os teus inspetores e da justiça, os teus exatores. 18 Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, de desolação ou ruínas, nos teus limites; mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas, Louvor. 19 Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o SENHOR será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória. 20 Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará, porque o SENHOR será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão. 21 Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. 22 O menor virá a ser mil, e o mínimo, uma nação forte; eu, o SENHOR, a seu tempo farei isso prontamente.

Como o calendário dos primeiros séculos eram muito rudimentares, a data não era precisa e podia variar entre 21 de dezembro e 6 de janeiro. Com o passar do tempo, essa festividade foi adquirindo contornos mais claros, e convencionou- se o dia 25 de dezembro como sendo o dia do nascimento de Jesus e o dia 6 como o ápice da festa, culminando com alusão à visita dos Magos.

Os que criticam a comemoração do Natal, acusando-o de ser uma festa pagã, devem ser advertidos de que não há uma única festa religiosa sequer que seja absolutamente genuína e exclusivamente cristã.

E não deixa de ser curioso o fato de que parece haver menos resistência a certas comemorações, às quais não há referência bíblica explícita (do tipo: Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Dia do Índio, Dia da Pátria) do que àquelas com ampla fundamentação nas Escrituras (tais como: Natal, Páscoa e Pentecostes) .

O entendimento das efemérides depende do olhar do intérprete: para uns (aqueles que crêem que os poderes “do mundo” são mais fortes que o “reinado de Deus”), trata-se da paganização do cristianismo; para outros (que crêem na força transformadora do Evangelho), trata-se da cristianização do paganismo. A questão está na fé de quem lê a realidade.

A relação entre o Natal e a Páscoa pode ser mais bem compreendida se traçarmos um paralelo entre os elementos comuns e os contrastantes que ligam as duas festas:
• Jesus nasce numa gruta emprestada em Belém — e é sepultado num túmulo emprestado por José de Arimatéia;
• Comemora-se a noite de Natal, que remete ao Sol da Justiça, em pleno inverno — e a manhã da Páscoa, que a celebra lua-cheia da primavera
• Jesus nasce no inverno que é símbolo de morte — e morre na primavera, que é símbolo da vida
• Ao nascer, é colocado numa manjedoura de madeira — para morrer é pregado numa cruz igualmente de madeira
• Pastores pobres testemunham sua chegada — malfeitores crucificados testemunham sua morte
• Anjos cantores anun¬ciam seu nascimento: “glória a Deus nas alturas e paz na terra…” — anjo anuncia¬or anuncia a Maria Madalena sua ressurreição: “ele não está aqui, mas ressuscitou”;
• A virgem, no nascimento — a pecadora (Maria Madalena), na ressurreição;
• Visita dos magos do Oriente, na Epifania, — e testemunhas de todo o “mundo conhecido”, no Pentecostes;
• 25 de dezembro (Natal) é data fixa, no entanto, pode cair em qualquer dia da semana — enquanto a primeira lua-cheia da primavera (Páscoa), que é data móvel (podendo ocorrer entre 21 de março e 23 de abril), é celebrada sempre no domingo mais próximo;
• O Natal tem influência pagã (egípcia) — a Páscoa tem origem Judaica (e que marca a libertação do Egito);
• O Natal é precedido de quatro semanas de preparação, chamado período do Advento — a Páscoa é antecedida por quarenta dias de oração, chamados Quaresma;
• A festa do Natal se estende até a Epifania, que se refere à manifestação de Deus a todas as nações que vêm ao seu encontro — a festa da Páscoa se estende até o Pentecostes, ocasião em que os discípulos (igreja) saem ao encontro das nações para anunciar-lhes as “maravilhas de Deus”, dirigindo-se a elas em suas diferentes línguas maternas.

Trata-se, portanto de um tempo que foi transformado, não meramente pelas palavras, mas pela Palavra, no dia em que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo 1.14).

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*Luiz Carlos Ramos é pastor metodista – fonte http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Numero=1740

Carol Service

O Carol Service (ou “Nine Lessons and Carols“) é um ofício religioso da tradição anglicana para a celebração do natal. É composto por nove leituras bíblicas (ou “lições”), intermeado por por cânticos corais e por cânticos congregacionais.

Os corais ingleses são tradicionalmente formados apenas por homens, tendo as vozes agudas feitas por crianças.

Eu participei de dois carol services, promovidos pela Catedral Anglicana de São Paulo, Cultura Inglesa e pelo British Council. Um com a participação do coral da Catedral de Salisbury e outro com o coral da Catedral de Durham.

É um momento de rara emoção. Ao vermos o natal ser reduzido a uma farra consumista e hedonista, onde a figura de Cristo e seu nascimento, o evento principal, são completamente apagados pelos meios de comunicação, reservar alguns momentos para recolhimento, canto, meditação e oração faz muito bem à alma.

O “Nine Lessons and Carols” mais famoso é o que acontece na capela do King’s College na véspera de natal, e é transmitido todos os anos pela BBC.

Carol Service


Once in Royal David’s City


The Truth from Above

Primeira Lição: Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás. Genesis 3: 8–15; 17–19


Remember O Thou Man


Adam Lay Ybounden

Segunda Lição: Então, do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz. Genesis 3: 8–15; 17–19


Angels from the Realms of Glory


In Dulci Jubilo

Terceira Lição: O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto. Isaías 9:2; 6-7


In the Bleak Midwinter Darke


Unto Us is Born a Son

Quarta Lição: Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR. Deleitar-se-á no temor do SENHOR; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra; O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar. Isaias 11: 1–3a; 4a; 6–9


The Lamb


Sussex Carol

Quinta Lição: No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?
Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela. Evangelho de Lucas 1: 26–35; 38


I Sing of a Maiden


Joseph and Mary

Sexta Lição: Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Lucas 2: 1; 3–7


Sweet Baby, Sleep! What Ails My Dear? (“Wither’s Rocking Hymn)


What Sweeter Music Can We Bring

Sétima Lição: Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura. Lucas 2: 8–16


Infant Holy, Infant Lowly


God Rest You Merry, Gentlemen

Oitava Lição: Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta:
E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel. Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo. Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra. Evangelho de Mateus 2: 1–12


Illuminare Jerusalem


Alleluya, a New Work Is Come On Hand

Nona Lição: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. Evangelho de João 1: 1-14


O Come All Ye Faithful


Hark! The Harald Angels Sing


In Dulci Jubilo (órgão)

Seus

Jorge Camargo é um compositor, cantor e violonista evangélico. Mais que isso. Dono de uma bela voz grave e aveludada, musicista virtuoso e autor de algumas das mais belas canções evangélicas do Brasil (isso antes da música cristã ter caído na vala comum do gospel de qualidade musical sofrível e qualidade lírica lamentável), sendo hoje junto de João Alexandre, Gulherme Kerr e outros poucos um oásis no mar de obviedades e banalidades do mercadão gospel.

Para o atual momento do ano, celebrações natalinas, Jorge compôs uma de suas mais tocantes canções. “Seus”, baseado no movimento nº 12 do Oratório “O Messias“, de Handel: Um menino nos nasce, um filho se nos deu.

Para se desligar do consumismo desenfreado que se tornou esta época do ano.