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Thank God it’s Friday – Alt-Bamberg Dunkel

Às vezes, ao olhar despretensiosamente para as gôndolas do supermercado, acha-se alguma novidade da qual sequer havia-se ouvido falar. Entre essas coisas despretensiosas há cervejas bastante interessantes e a um preço muito bom. Outras vezes a cerveja não é lá algo inesquecível e marcante, mas vale a pena pelo preço e pela descoberta de mais uma novidade.

Pois vagando pelo Supermercado Záffari topei com uma série de cervejas que nunca ouvira falar antes: Kaiserdom. Havia pilsens e weizens, que não me chamaram tanto a atenção. Mas havia uma dunkel cujo belo rótulo convidava a prová-la. Era a Kaiserdom Alt-Bamberg Dunkel.

Levei para casa e provei a novidade recém descoberta. Se o preço, por se tratar de uma importada alemã, compensava, a cerveja por si não se destacou. Boa cerveja, sim, mas nada além do que conseguimos no Brasil na mesma faixa de preço. A cerveja é bonita, bem escura e com boa formação de espuma, bege e cremosa. No paladar e no aroma o tostado do malte característico de uma dunkel. A cerveja conta com 4,7º de álcool.

Nada marcante. Boa apenas.

Thank God it’s Friday – Hoegaarden

Existem diversas escolas cervejeiras, cada uma com suas próprias características. A alemã, por exemplo, prima pelo purismo nos meios de produção. Graças à sua Lei de Pureza, de 1516 (a Reinheitsgebot), nenhuma cerveja pode conter qualquer ingrediente que não seja malte de cevada, água e lúpulo. Na época de sua promulgação não se conheciam as leveduras. Muito tempo depois é que passou-se a admitir outros maltes, como o de trigo (típico das weizenbiers) e outros adjuntos a cervejas de alta fermentação (ales). Nas de baixa fermentação (lagers), só aquilo que a lei prevê mesmo. Outras escolas, como a inglesa, admitem um maior uso de adjuntos para uma maior variedade de sabores e aromas. Mas a escola que leva a criatividade, inclusive no uso de ingredientes diferentes, às últimas consequências é a belga.

Pra começar os mosteiros onde se produzem cervejas de abadia e trapistas sequer levam em consideração o conceito de “estilo” de cerveja. O uso de processos e ingredientes leva à criação de cervejas únicas, exclusivas, cheias de personalidade.

Mas dá para se dizer que existe sim estilos de cerveja tipicamente belgas. A witbier é um deles. Witbier, em holandês, significa “cerveja branca”. Weissbier, em alemão, significa também “cerveja branca”. E há similaridades entre ambos os estilos, pois ambos são feitos com malte de trigo.Mas os belgas, bem… eles acrescentaram um toque a mais de inventividade na receita, acrescentando sementes de coentro e raspas de laranja no líquido.

Isto faz da Hoegaarden uma cerveja de personalidade única, pois é altamente refrescante, como as weiss alemãs, mas com um aroma bastante distinto. Desaparece o aroma de banana, característico da weiss e entra o aroma cítrico, de laranja. Mas o aroma não se restringe ao cítrico, pois as leveduras belgas deixam sua marca tanto no aroma quanto no sabor. Sua coloração é amarelo palha, bem claro e o creme branco, abundante e de longa duração coroa o serviço dessa excelente cerveja. E o melhor é que por ser importada em larga escala, tem preço bastante acessível.

Thank God it’s Friday – Biertruppe Vintage nº 1

A última cerveja que eu mostrei aqui, a Tcheca, é uma cria da Biertruppe, cuja história já foi contada, portanto não irei repetí-la.

Mas repetirei a dose do fabricante. Hoje falo da Biertruppe Vintage nº 1. O conceito de cerveja “vintage” é aquela cerveja que passa por um processo de envelhecimento, que lhe acrescenta características e aprofunda a complexidade de sabores e aromas na cerveja. Muitas vezes são cervejas safradas (como vinhos) e em alguns casos as garrafas são numeradas. Uma excelente vintage (uma Old Ale, pois vintage não é estilo) é a Strong Suffolk.

A Biertruppe Vintage nº 1 tem uma história longa. A cerveja, depois de brassada foi armazenada em barris de carvalho por 100 dias (diferente da fraude Bohemia Oaken, que conta com “chips” de carvalho, pedacinhos de madeira colocadas no líquido para passar algumas características amadeiradas para o produto final) e depois foi engarrafada. Teoricamente, estaria pronta para a venda no final de 2009. Mas a burocracia (ou burrocracia) impediu a aprovação do rótulo da cerveja nos órgãos federais. Eles encrencaram com o termo “vintage” (o que atrasou também o lançamento da Colorado Vintage, que foi rebatizada para poder receber a liberação), pois segundo os “especialistas”, não seria um termo aplicável à cerveja (certamente eles não conhecem cerveja e nem a Strong Suffolk Vintage Ale, a Fuller’s Vintage Ale e dezenas de outras cervejas “vintage”).

Pois bem. No final das contas, não houve liberação. A cerveja passou a ser degustada apenas por poucos afortunados. Sorte minha que fui um deles.

Lembro que a alguns meses o Edu Passarelli disse no Twitter que a Biertruppe Vintage é a melhor cerveja já produzida no Brasil. Pois é. Parece coisa de quem quer puxar a brasa para a sua sardinha. Mas não.

A cerveja é realmente única. Especial. É uma Barley Wine de 9% de teor alcoólico que por ter passado 100 dias em barril de carvalho assumiu características muitíssimo particulares. A cerveja foi feita com cepas de fermento e lúpulo ingleses e tem um paladar bastante refinado. Pouca carbonatação e uma espuma média, bege. O aroma é intenso e muito complexo. Eu percebi a madeira, frutas (frutas secas), adocicado (baunilha?) e um pouco de álcool. Como os barris que receberam a nº 1 antes haviam acondicionado vinho e brandy, algumas características dessas bebidas passaram pra cerveja. O sabor acompanha a cerveja, com frutado, sabor de álcool (calor) moderado e muito integrado no conjunto. O corpo é denso. O líquido parece ser mais “grosso” que as cervejas normais. Não é para ser bebido aos golões. Mas para ser sorvida, degustada com atenção, respeito e reverência.

Pois, afinal de contas, realmente se trata da melhor cerveja já produzida no Brasil. Pena que, a exemplo das outras criações da Biertruppe, uma vez que acabar, não será produzida de novo. Deixará saudades.

Thank God it’s Friday – Tcheca

O estilo de cerveja número um do Brasil é a pilsen. Todas as principais e mais vendidas cervejas no Brasil são pilsens, da Antarctica à Brahma, Skol, Schin, todas. Bem… pelo menos no rótulo. Isso porque o que o estilo pilsen (seja o bohemian pilsen, da república tcheca, mais amargo ou o german pilsen, alemão, um pouco mais suave) pede é uma cerveja refrescante, de coloração amarela intensa e com aroma herbal de lúpulo e alto amargor.

Definitivamente, nesse mundo de cervejas aguadas, sem amargor, sem nenhum corpo, com levíssimo, quase desaparecido traço de malte e sem aroma nenhum, o que tomamos nos nossos bares e restaurantes passa longe de ser uma pilsen. Basta comparar a Heineken, uma pilsen industrial de larga escala (cerveja de trabalho), mas que no Brasil virou “premium” com outras cervejas.

Nesse mundo de lagers medíocres, sem sabor, sem amargor, sem aroma, algumas cervejarias mais preocupadas com a qualidade de seus produtos lançaram boas opções no mercado. A Bamberg tem sua excelente pilsen. Bem como a Eisenbahn, a Colorado (uma levíssima cerveja, com baixo amargor, mas com muito mais qualidade que o ‘xixi de cavalo’ engarrafado que se vende por aí), a Baden Baden e outras.

Mas a grande pilsen do Brasil não é fruto de uma indústria, mas esforço de uma turma de amigos dedicados à cerveja, a Biertruppe.  Formada por Edu Passarelli, dono do Melograno e um dos primeiros no Brasil a escrever sobre cervejas especiais, Leonardo Botto, cervejeiro caseiro do RJ e responsável por algumas das melhores receitas produzidas no Brasil, André Clemente, artista gráfico e criador dos rótulos, e Alexandre Bazzo, dono da cervejaria Bamberg, uma das mais premiadas cervejarias do Brasil. Esses quatro teimosos produziram a Tcheca pela primeira vez em 2008. Depois veio a blond ale belga Saint Nicholas, para homenagear o natal. A última cria da turma é a barley wine Vintage nº1, ainda não disponível no mercado. E em comemoração à Copa do Mundo, a turma relançou sua primeira cria: a Tcheca.

Antes de ser engarrafada ela estava disponível em versão chopp no Melograno. Nesta versão ela era servida sem a filtragem, portanto sua cor era mais turva, com amargor mais pronunciado. Agora ela estará disponível para venda em garrafa em versão filtrada, mais clara, menos amarga e mais herbal.

É disparada a melhor pilsen produzida no Brasil. É refrescante como convém a nosso clima tropical. Mas é amarga. Mais amarga que as suas concorrentes premium (Bamberg, Colorado, Eisenbahn, Baden Baden) e com um aroma muito agradável de lúpulo herbal.

O teor alcoólico está dentro do padrão do estilo (5º) que permite que ela seja bebida em quantidade razoável sem pesar no estômago e nem deixar a pessoa meio aérea, de forma que ela não perceba as qualidades da cerveja.

Se não dá para celebrar a Copa com essa grande cerveja, visto nossa precoce eliminação frente à seleção da Heineken, digo, da Holanda, dá para passarmos alguns meses saboreando uma das melhores crias da cervejaria nacional. Mas tem de correr, pois é uma edição limitada e quando acabar, acabou.

Thank God it’s Friday – Young’s Double Chocolate Stout

Uma grata combinação no mundo da cerveja é cerveja com chocolate. Chocolate? Sim, claro! Por que não? Uma cerveja escura (boa, não lagers coloridas com corante caramelo, como as malzbiers, as muniques industriais e – infelizmente – a decadente Xingu, que já foi boa) tem sabores que lembram o caramelado (às vezes) e o torrado (costumeiramente), o que dá uma boa liga com chocolates amargos.

O Edu Passarelli, do Melograno, em seu blog já recomendou algumas harmonizações usando a La Brunette com torta de chocolate e La Brunette e chocolate amargo com laranja. Uma delícia. Mas cervejeiros ousados dão um passo além. Ano passado no Melograno houve distribuição da sensacional Dado Bier Double Chocolate Stout, uma sweet stout feita pela cervejaria gaúcha Dado Bier que leva chocolate em sua composição. Chocolate, não essência ou aromatizante (como a brochante Backer Brown Ale). É super complicado fazer cerveja com chocolate in natura, pois a gordura do chocolate corta a formação da espuma. No Melograno o chopp era servido com três tipos de chocolate (ao leite, meio-amargo e amargo), que ao serem comidos juntamente com a cerveja potencializavam o adjunto em um sabor maravilhoso.

Infelizmente a Dado Bier ainda não colocou sua preciosa cria no mercado. Mas tudo bem. Há uma opção. A Young’s Double Chocolate Stout.

É uma excelente cerveja, uma sweet stout (mais doce e menos amarga que a dry stout – Guinness, por exemplo) que leva chocolate em essência e in natura em sua composição. Com 5,2º de álcool, tem bom amargor, mas não excessivo, aroma torrado (café?) e (óbvio) chocolate, doce no nariz, com sabor também com ênfase no chocolate. Tem coloração completamente preta, com espuma bege e persistente. Bom corpo, muita personalidade.

É uma grande cerveja que vale muito ser experimentada!

Thank God it’s Friday – Baden Baden Red Ale

Já tomou “vinho de cevada”? Não. Não estou falando daquela aberração que se vende por aí chamada “chopp de vinho”. Eu gosto de chopp. Gosto de vinho. Mas não tomo chopp de vinho. Pois eu gosto de sorvete. Também gosto de picanha, mas não me arriscaria a tomar um “sorvete de picanha”.

Na verdade falo da cerveja “barley wine“, que é uma ale chamada deste modo por sua graduação alcoólica, digamos, exagerada. A Baden Baden Red Ale conta com 9,2º, enquanto uma pilsen padrão tem 4,3 a 4,5º. E sua intensidade não reside apenas no álcool.

O álcool é sentido no conjunto, mas de maneira bem integrada. O conjunto é potente, com sabor intenso, bastante encorpada, com muitos aromas e sabores. A alta complexidade se dá pela boa presença de lúpulos, que conferem aromas e sabores herbais característicos e também de frutas vermelhas. O sabor contém um amargor pronunciado mas bem agradável e o creme é persistente e abundante e a cerveja é bem carbonatada.

É uma das melhores cervejas nacionais. Combina bem com pratos picantes, condimentados. Vale muito a pena.

Thank God it’s Friday – Eisenbahn Dunkel

Como já devem ter percebido, eu tenho uma grande preferência por cervejas escuras. As duas últimas cervejas mencionadas neste blog (a Murphy’s e esta) são cervejas pretas. Além da Guinness, outra de minhas favoritas.

Mas o que difere ambas stouts irlandesas desta schwarzbier é que as stouts são cervejas tipo ale (alta fermentação), enquanto a Eisenbahn Dunkel é lager (baixa fermentação). Há uma série de diferenças técnicas e em sabor em relação a essas duas famílias de cervejas, cada uma com suas qualidades e particularidades. E a Eisenbahn Dunkel é praticamente uma referência em seu estilo.

Primeiramente, esta é a cerveja brasileira mais premiada no exterior: Beers of the World Editor’s Choice, Medalha de Bronze em 2007 no European Beer Star Award, Medalha de Prata no Australian International Beer Award de 2008, Medalha de Bronze no World Beer Cup e Medalha de Bronze em 2008 no European Beer Star Award. Não é pouca coisa.

E pela participação nesses concursos, a Dunkel é caso único de cerveja “reclassificada” pela fabricante. Ela havia sido inscrita como Dunkel, que em alemã significa “escura” (muitas cervejas se opõe entre “helles” – clara e “dunkel” – escura), podendo ser marrom, avermelhada, enquanto a schwarzbier é obrigatoriamente preta, com características mais fortes de torrefação e amargor. Os juízes do concurso perceberam que a Eisenbahn Dunkel se encaixaria melhor no estilo Schwarzbier. Assim seja.

É uma cerveja espetacular. Com aroma de torrado e café, sabor amargo, torrado, com boa presença do álcool, formando um harmonioso e saboroso conjunto. Tem espuma boa e bege. Agrada à vista, ao nariz e ao paladar. É das melhores cervejas a se encontrar no Brasil. E seu custo benefício então, é sensacional.

Thank God it’s Friday – Murphy’s Irish Stout

A cerveja Guinness goza de um status quase mítico no mundo das cervejas. Ela é praticamente, junto com a cor verde, o trevo, a religião católica e a língua celta, um fator de identidade nacional da Irlanda. Então, desviar-se da aura de ortodoxia quase religiosa que envolve a Guinness equivale quase à heresia.

Pois bem. Herege sou.

Provei recentemente a Murphy’s Irish Stout, uma das cinco marcas importadas pela Heineken, que recentemente adquiriu a FEMSA.

A Murphy’s é uma dry stout, como sua colega Guinness Draft, também “turbinada” por uma bolinha de nitrogênio que confere a textura e a cremosidade de uma cerveja “on tap” à latinha (mas que nos obriga a consumí-la em copo, e não direto da lata – o que aliás é preferível). Sua aparência é muito semelhante à da Guinness, um preto quase absoluto com um lindo creme bege no topo.

A cerveja tem um leve amargor e leve sabor tostado. Menos pronunciados que na sua parceira irlandesa. Tem um aroma bastante agradável e levemente adocicado, com notas torradas. Contém 4º de graduação alcoólica e é, embora menos encorpada que a Guinness, bastante saborosa, bem apropriada para servir como aquele chopinho casual após um longo dia de trabalho.

A algum tempo existia no Brasil a Beamish, outra famosa Irish Stout, mas que infelizmente teve sua distribuição descontinuada no Brasil. Porém os dois exemplares restantes representam muito bem seu estilo aqui em Pindorama.

Thank God it’s Friday – Baden Baden Bock

A cervejaria Kaiser, no início da década de 80, foi a primeira a sair do eterno marasmo formado pelas “pilsens” aguadas que inundam o mercado nacional ao lançar sua sazonal Kaiser Bock. Foi um sopro de frescor nos botecos brasileiros (além de representar uma das melhores relações custo-benefício até hoje). Mas a bock que eu escolhi pra representar aqui é a Baden Baden Bock.

A cerveja bock é elaborada com maltes tostados, que lhe dão a coloração que varia entre o vermelho até o quase preto. A Baden Baden é âmbar avermelhada, com espuma bege e abundante. Tem aromas tostados e adocicados, bem de leve, e sabor levemente tostado e amargo. Tem graduação alcólica de 6,2º mas que se insere muito bem no conjunto, sem se sobressair. A cerveja é mediamente encorpada, e combina bem com o clima de friozinho (aliás, a Baden Baden é a cervejaria do friozinho, pois é de Campos do Jordão e foi criada para abastecer o bar de mesmo nome) e com a comida um pouco mais pesada e picante da estação.

Excelente pedida.

Thank God it’s Friday – Erdinger Pikantus

A cerveja Erdinger tem um lugar especial na consolidação da cultura de cervejas gourmet no Brasil. Ela representa para as cervejas especiais mais ou menos aquilo que os vinhos alemães de garrafa azul representaram no mercado de vinhos no Brasil na década de 90: uma introdução, ainda que não fossem produtos de primeiríssima linha. A partir de então o Brasil se interessou, buscou e passou a consumir vinhos de qualidade e das mais diversas proveniências.

Com a Erdinger, trazida para o Brasil pela Bier Und Wein (que, não por coincidência, também importa vinhos alemães – seu nome significa Cerveja e Vinho nesta língua), aconteceu a mesma coisa. Foi a primeirona, numa época em que ao se falar em cerveja “premium” a única coisa que vinha à mente eram Bohemias, Originais e Serramaltes. Com o passar do tempo e com a sofisticação do mercado, graças ao acesso à informação e a um número cada vez maior de opções, a tradicional Weissbier passou a ser vista como uma cerveja inferior, sem tanto sabor e aromas como outras encontradas no mercado.

Não que a Weissbier fosse realmente uma cerveja de destaque. Mas no portfólio da cervejaria bávara, há a Urweisse, que é uma weiss mais de acordo com as características do estilo, com mais aroma e sabor, enquanto a tradicional ocupa um espaço dedicado a cervejas mais “leves” e menos encorpadas.

Mas uma grande cerveja da cervejaria de Erding é a Pikantus. A Pikantus é uma Weizembock (uma bock feita de trigo) com teor alcólico de 7,3º cujo sabor acompanha a potência. A cerveja tem coloração avermelhada escura, com uma espuma densa e duradoura no copo. O aroma é frutado, com leve torrefação, e o sabor é levemente picante com notas torradas, características das cervejas bocks. Embora não seja espetacular como sua irmã Schneider Aventinus, essa sim uma cerveja inesquecível e sensacional, se trata de uma opção de grande qualidade encontrável muito facilmente nos grandes supermercados, tão entulhados de porcarias Ambevianas.

Combina com o friozinho do inverno acompanhando carnes.

Thank God it’s Friday – Guinness

Nesta quarta feira foi Dia de São Patrício (ou Saint Patrick’s Day, como preferem as escolas de inglês), padroeiro da Irlanda e celebrado também em Nova Iorque e Chicago, cidades com grande presença de irlandeses.

Então, desde quarta e durante o fim de semana, vários bares e pubs das grandes cidades celebrarão a data festiva. E como celebrar uma festa tipicamente irlandesa? Com uma Guinness, claro.

A famosa marca irlandesa, que também batizou o livro dos recordes (eles precisavam que as pessoas ficassem mais tempo no bar, para consumirem mais cerveja – então criaram o livro para que as pessoas tivessem mais assunto para conversar e com isso adiar a volta para casa), é a referência mundial no que diz respeito a cerveja stout. Stout, em inglês, significa “forte”, que é o que caracteriza o sabor dessa cerveja. Forte, com grande presença de sabores torrados e de café, com uma densa espuma bege e baixa carbonatação, a Guinness é parceira ideal no final de um duro dia de trabalho, num fim de semana relaxando ou mesmo sem motivo especial algum.

O gênero stout (cervejas ale derivadas da porter, mas com maior força no sabor) tem diversos subgêneros. A Guinness Draught se encaixa no estilo Dry Stout. A Guinness Draught pode ser consumida on tap (barril de chopp), preferivelmente, ou em latinha. A lata, para garantir uma espuma densa semelhante ao chopp, contém uma bolinha de nitrogênio, que libera o gás com a abertura da lata. O gás se mistura ao líquido, sequestra o gás carbônico e o leva para o denso e cremoso colarinho, criando uma textura suave e aveludada (que o horrível chopp Brahma Black tenta imitar-mas apenas na aparência).

Há outras versões da Guinness, como a Special Export e outras, mas o carro-chefe é o chopp draught, que contém 4,1º de álcool (contra 8º da Special Export) que é facilmente encontrado em bares, pubs ou em supermercados, na versão em lata. Aliás, ultimamente não tem sido tão fácil assim encontrar a Guinness nos supermercados. Uma falha grave de distribuição da Diageo, que deixa seu enorme fã-clube na mão.

Thank God it’s Friday – Ruddles County

Alguns anos atrás haviam poucas opções para a pessoa que aprecia cervejas de qualidade (por favor, não me venham falar em Skol!!!!), entre as quais a importadora Boxer. A importadora trabalha com cervejas inglesas como a Old Speckled Hen, Newcastle Brown Ale, Abbot Ale além da excepcional linha da Fuller’s, entre outras.

Entre as cervejas distribuidas pela Boxer está a excelente Special Premium Bitter Ruddles County. É uma ale âmbar avermelhada, com espuma densa e bege e um excelente aroma de lúpulo. O lúpulo salta da latinha da Ruddles County. Aromas florais, cítricos e frutados se combinam com o sabor amargo (e põe amargo) da cerveja. Mas seu amargor não impede que ela seja consumida em quantidade ou aos goles, pois a cerveja é bastante refrescante.

Um consumidor brasileiro desavisado chamaria esta cerveja de “forte”, pois seu amargor se impõe no paladar, porém seu teor alcoólico é moderado (4,7º).

Excelente  representante da escola inglesa de cervejas, que costumam ter personalidade própria.

Thank God it’s Friday – Rugbeer O’Driscoll

O João Becker, cervejeiro artesanal de BH, além de fã de cervejas é fã de Rugby, esporte britânico quase irmão do nosso futebol. Tanto que deu às sua cervejaria artesanal o nome de Rugbeer. Uma de suas primeiras cervejas é a weiss com adição de mel Rugbeer Mc Caw, batizada para homenagear Richard Mc Caw, capitão dos lendários All Blacks, a seleção de rugby da Nova Zelândia.

Sua outra criação é a Rugbeer O’Driscoll, uma cerveja interessantíssima feita com gengibre em sua formulação.

Brian O’Driscoll é o capitão da seleção irlandesa de rubgy, apelidado de “ginger” (gengibre, em inglês) por seus cabelos ruivos. Aliás, ginger é o apelido de todos os meninos e meninas de cabelos vermelhos. E o gengibre se encaixa de maneira bem interessante nessa specialty beer (que não é um estilo de cerveja, mas é a nomenclatura utilizada para todas as cervejas que se utilizam de ingredientes… aham… exóticos), conferindo um pronunciado aroma de gengibre que acaba por dominar todo o bouquet (embora seja notado também certas notas de lúpulo), além de dar um sabor picante que, surpreendentemente, confere uma alta refrescância à cerveja.

A ale (no rótulo diz “ginger ale”, embora não deva ser confundida com o refrigerante de mesmo nome) tem uma bela coloração amarelo alaranjada, turva, com uma boa espuma cremosa de duração média no copo e seus 7º de teor alcoólico não se sobressai, talvez por ser suplantado pela potência do gengibre.

O lado negativo dessa surpreendente cerveja é o fato dela ser bem difícil de ser encontrada. Poucos lugares a comercializam, pois, como disse, ela é produzida por um homebrewer, um cervejeiro caseiro, e não por uma indústria. Para saber onde encontrá-la, mande um e-mail pro João Becker, que ele terá prazer em ajudá-lo.

Thank God it’s Friday – Colorado Demoiselle e Steenbrugge Dubbel Bruin

Ainda repercutindo minha brevíssima estada em Monte Verde, agradável surpresa no sul de MG. A localidade (nem é um município, mas um distrito de Camanducaia) conta com apenas 4.000 habitantes, todos trabalhando no ramo do turismo. O povo é simpático, hospitaleiro e muito atencioso com os turistas. E mesmo com a semelhança geográfica com Campos do Jordão, Monte Verde tem um perfil totalmente diferente da cidade paulista. Enquanto Campos do Jordão é programa pra mauricinho e patricinha, com suas danceterias badaladas, desfile de carros importados, filas nas portas das boates e longos e insuportáveis congestionamentos, Monte Verde é programa para casais enamorados que sobem a serra para curtir o friozinho numa aprazível pousada com lareira ou para famílias. E o charme da cidade é sua opção de trilhas, caminhadas e escaladas.

Mas mesmo sendo uma vila de apenas uma rua, Monte Verde tem boas opções de restaurantes e uma boa oferta de cervejas especiais. Letreiros da Erdinger e da Paulaner são comuns e encontra-se facilmente nos bares, restaurantes e lojas da cidade as boas cervejas nacionais, como as Baden Baden ou Colorado e importadas, principalmente as distribuídas pela BUW.

Num desses bares eu tomei uma das minhas favoritas, a Colorado Demoiselle, uma Porter com adição de café, que lhe confere um aroma pronunciado de café e um sabor tostado bastante intenso. Eu pedi para tomá-la junto de um interessante sanduíche feito de rosbife de javali, de sabor bastante suave, lembrando um pouco pernil, com cebolas caramelizadas, queijo e ketchup de boa qualidade.

A Demoiselle tem coloração preta, espuma densa marrom e um aroma maravilhoso, contando ainda com graduação alcoólica de 6º e, embora não fosse exatamente uma “harmonização”, ficou bastante agradável com o sanduba de javali.

Saíndo do restaurante, passei numa lojinha, misto de mercadinho e farmácia, típico de cidadezinhas do interior, que em meio a Dorflex e Eparema, salgadinhos Elma-Chips e docinhos de bar, havia uma boa prateleira de cervejas especiais. Como havia comprado um pacotinho de “queijo de lareira”, uma mussarela especial (natural, defumada, temperada e com alho) que não derrete ao fogo, mas fica macia e tostadinha por fora, escolhi uma cerveja de preço honesto para tomar à noite: a Steenbrugge Dubbel Bruin.

Em matéria de dubbel, a brasileira (e mineiríssima) Wäls se sai melhor, com mais sabor e mais personalidade. Mas a Steenbrugge não se sai mal não. Ao contrário, uma cerveja bonita, coloração vermelho-amarronzada, espuma bege de curta duração mas um aroma bastante agradável de frutas, principalmente uvas. O sabor também é agradável, acompanhando o aroma, com amargor suave e sabor levemente torrado, leve na boca e os 6,5º de graduação alcoólica se integram bem.

Mais uma boa lembrança trazida da agradável Monte Verde.

Thank God its Friday – Melograno Uno

O blogueiro e gastrônomo, especialista em cervejas, Edu Passarelli prestou durante vários anos um excelente serviço à cultura cervejeira brasileira. Afinal, com um imenso mercado subaproveitado e sendo mal tratado ora à base de cervejas industriais de má qualidade, cheias de arroz, milho e outros cereais menos nobres na sua composição, ora com cervejas ditas “premium” cujo sabor sequer de longe se parece com uma cerveja de qualidade, a carência por informações e referências era imensa.

Isso aliado a um grande número de pequenas cervejarias lançando suas boas produções e pequenas importadoras trazendo bons rótulos propiciou um “boom” no mercado, com várias pessoas se interessando por sair do lugar comum e buscar novos sabores no mercado.

Mas, eu disse “prestou” um bom serviço, e não “presta”? Por que? Bem… o Edu lançou-se em um outro empreendimento, também muito útil para promoção da cultura cervejeira. Além de ter se tornado praticamente uma referência sobre cervejas especiais, o que gerou um sem número de convites para programas de rádio, tv, revistas, jornais e outros veículos, o Edu abriu o Melograno – Forneria e Empório de Cervejas.  Mas desde que passou a se dedicar a seu restaurante e a outras investidas midiáticas, o blog não é mais atualizado com tantas degustações, receitas e novidades como antes. Fazer o que… não há tempo para tudo 🙂 Voltando ao Melograno. É um simpaticíssimo restaurante na Vila Madalena cujo diferencial, além dos belos sanduíches feitos com massa de pizza assados no forno a lenha, é sua extensa e didática carta de cervejas.

Não é a maior (perde em número de rótulos para a quase enciclopédica carta do FrangÓ) mas é a melhor justamente por ser didática. Explica cada estilo e sugere “harmonizações”, combinações de comida e cerveja que realçam o sabor de ambos (harmonização é um conceito bastante caro aos interessados em vinho, mas bastante recente aos interessados em cerveja).

Pois ao completar um ano de atividade o Melograno presenteou seus clientes com um novo produto: a cerveja Melograno Uno.

Melograno, em italiano, significa romã, nome dado graças a uma bela romãzeira localizada nos fundos do restaurante, no ambiente a céu aberto. Para homenagear a casa e a fruta, o Edu juntamente com o Alexandre Bazzo, da Cervejaria Bamberg, desenvolveram essa deliciosa ale feita com fermentos belgas e romã. Os fermentos propiciam o característico aroma das ales belgas, e a romã confere à cerveja um toque cítrico bastante pronunciado, com o sabor da fruta bastante presente, inclusive com o azedume que marca seu sabor.

Porém é uma cerveja fácil de beber. Tem 6,6º de álcool e é bastante refrescante, apropriado a esta época do ano. A cor é vermelho-amarronzada e tem espuma de baixa duração.

A questão é que é uma cerveja especial para o restaurante, sendo o Melograno o único lugar onde  é possível comprá-la. E é uma cerveja sazonal. Aliás, talvez seja uma produção única (ou seja, acabou, bau bau…). Vale a visita e vale provar a cria da casa.