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Sobre embalagens e produtos

Nas minhas andanças futebolísticas a última novidade que descobri é o “The Football League Show“, um programa com os melhores momentos de algumas partidas e os gols de toda a rodada da segunda, terceira e quarta divisões do futebol inglês.

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O formato do programa é quase igual ao outro programa da BBC que fala sobre futebol, o “Match of the Day“. A diferença é que há dois “Match of the Day” por semana, um aos sábados e outro aos domingos, portanto há mais tempo para mostrar os melhores momentos, análise tática e conversa sobre as partidas. No “The Football  League Show” há muito mais partidas para serem transmitidas e apenas um programa por semana.

Porém o que chama a atenção são dois detalhes. Primeiro, a forma do espetáculo. Tanto os programas quanto as partidas são excelentemente produzidos. É muito interessante, mas mesmo na terceira ou quarta divisão, os estádios são lindos, todos com assentos numerados, e com alta presença de público. Não por acaso o Championship (segunda divisão) tem média de público 50% maior que nosso Brasileirão. Os gramados são verdadeiros tapetes. Os uniformes são padronizados. Não existe “macacão de fórmula um”, patrocínio só na frente e o patch da liga na manga. Impressiona ver como os ingleses reconstruíram seu futebol após uma segunda metade dos anos oitenta catastrófica.

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As finais dos campeonatos também são muito legais. Os dois primeiros de cada divisão são promovidos automaticamente, e os quatro subsequentes disputam um playoff pela vaga remanescente, cuja final é disputada em Wembley. Então vemos partidas de times de segunda, terceira e quarta divisões em Wembley, levando públicos impressionantes tanto para os clubes, muitos dos quais pertencentes a pequenas vilas do interior da Inglaterra, como também pelo fato de serem disputadas muitas vezes em dias de semana.

Ainda falando de forma,  os programas são legais. No Brasil o que há são as insuportáveis mesas-redondas. Não importa se Galvão Bueno seja um insuportável populista, Milton Neves um desonesto intelectual, Juca Kfouri um pedante elitista ou PVC um cara de memória prodigiosa. Não são os personagens que estão errados. É o formato. É enervante assistir um bando de gente, muitas vezes palpiteira, falando, falando, falando sobre futebol, enquanto não se vê nenhum futebol.

No MOTD e no TFLS o que se vê é futebol. Jogos. Gols. Quando há papo, ele se dá a respeito das partidas. Como há mais tempo no MOTD, eles usam recursos gráficos (tipo Supertirateima) para ilustrar as análises, mas análises se dão sobre as partidas. O TFLS chega a ser ainda melhor. Pois é uma avalanche de gols. Imagina uma hora e vinte minutos para passar gols de 36 partidas, sem perder nenhuma (a não ser que a partida ocorra no domingo). É uma verdadeira orgia futebolística. Enquanto isso, no Brasil há uma “narração de foda”.

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Agora, falando de conteúdo… bem… se a forma é  quase perfeita para um adorador de futebol, o conteúdo deixa a desejar. Algumas partidas do Championship chegam até a exibir certa qualidade. Assim como no Brasileirão Série B há bons jogadores e boas partidas, há bons jogos e boas partidas na segundona inglesa. Mas quando os jogos passam a contemplar times na segunda metade da tabela ou (pior), divisões inferiores, a coisa pega. Voltamos àquele célebre jogo de chutões, correria e chuveirinhos para a área. Gols oriundos de pixotadas grotescas dos goleiros, tropeções épicos dos zagueiros ou então dum centroavante trombador que empurra tudo e todos pra dentro do gol começam a pulular. E nem dá pra culpar os gramados pelas falhas. Eles são perfeitos.

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Aí percebemos. Não pode existir outro país do futebol senão a Inglaterra. Que outro país conseguiria colocar 10.000, 15.000 pessoas num jogo de terceira ou quarta divisões, cuja qualidade não é melhor que aquela pelada de várzea no campinho de terra lá do seu bairro?

Agora, como fazer para assistir essas pérolas do futebol alternativo? Welcome to the world of torrent…

Match of the Day

Começou a temporada 2009/2010 do campeonato inglês. Quem gosta de futebol como eu assiste até Segunda Divisão do campeonato gaúcho (sem demérito ao gauchão Série B, claro), mas dos internacionais o que eu mais gosto é a Premier League. Até pelo fato de não haver tempo no mundo para acompanhar todos os campeonatos e todos os clubes! Então, entre o calccio decadente, o espanhol monopolizado e um alemão em ascensão, fico ainda com o “inglesão”.

E como nem sempre o horário dos jogos bate com a minha agenda, pois não posso me esquecer que eu também tenho outros centros de interesse, além de uma esposa a quem devoto amor e atenção (pelo menos tento 🙂 ), a solução para acompanhar o maior número possível de jogos, equipes e jogadores é o Match of the Day.

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Apresentado pela lenda futebolística inglesa Gary Lineker e Adrian Chiles, o programa conta com uma gama de comentaristas que incluem o ex-lateral esquerdo do Arsenal Lee Dixon, o ex-zagueiro do Liverpol Alan Hansen, o ex-centroavante do English Team e do Newcastle Alan Shearer (em licença, ao tentar a impossível tarefa de dirigir o Newcastle United) e mais uma série de especialistas.

Eis o legal do programa. Ele passa os melhores momentos de todas as partidas da rodada (mínimo de 3 min.), entrevistas com os técnicos e principais jogadores da partida além de discussão SOBRE a partida em si. Os comentaristas e os apresentadores conversam sobre as principais jogadas, fazem análise aprofundada da tática com a aplicação de gráficos sobre o jogo em si (estilo “supertirateima” das transmissões esportivas da Vênus Platinada), mostram todos os gols da rodada (no programa de domingo: como são dois dias de rodada, o programa passa ao sábado e ao domingo à noite, e na edição de domingo, os gols do sábado são reprisados) e nada mais!

Quanta diferença dos programas de debates esportivos brasileiros. De Mesa Redonda-Futebol Debate, passando por Terceiro Tempo e chegando nos programas a cabo da ESPN e Sportv, o que vemos é falação, falação e mais falação.

O tempo dedicado às imagens das partidas em si é extremamente reduzido. No máximo os gols da maioria das partidas e alguns momentos das principais partidas da noite. Depois, toma conversa. E se a conversa ainda valesse a pena, se fosse pautada pelas partidas, ainda seria útil. Mas não é. Os programas da TV aberta misturam um sensacionalismo tão exacerbado, com boatos de transferências e polêmicas forçadas. Os da TV por assinatura acabam por se tornar veículos de cronistas em suas egotrips, com pouco espaço à análise mais detalhada do jogo em si. E com exceção do PVC e de alguns poucos outros, há uma grande ignorância sobre tática na TV brasileira, o que empobrece bastante o nível do debate.

Agora, o mais interessante da história toda é que o Match of the Day é conhecido como o supra-sumo da chatice futebolística! Muitos ingleses não se conformam com o formato ou com o papo dos comentaristas apresentados no programa. Como diz a lenda, são felizes e nem sabem. Apresentem o Chico Lang, o Flavio Prado ou o Milton Neves pra eles…

P.S. Como faço pra assitir a um programa transmitido pela BBC de Londres? Welcome to the world of bittorrent…

P.P.S. Já está no ar no site da BBC a análise do Lee Dixon sobre a partida Tottenham x Liverpool.

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Nela o colunista mostra o quanto Xabi Alonso fará falta no time do Liverpool, já que nenhum dos volantes consegue imprimir o jogo de passes verticais que o Alonso conseguia, o que abria defesas e encurralava o adversário. Agora o Gerrard é obrigado a voltar pra buscar a bola e deixa o Torres totalmente isolado, presa fácil de uma defesa bem postada como foi a do Tottenham. Resto aqui.

P.P.P.S. O amigo Michel Costa, do blog Além das Quatro Linhas, escreveu um post sobre o início da temporada 2009/10 da Premier League. Aproveitando o ensejo da pincelada tática que eu mencionei do Lee Dixon, fica aqui a dica para o blog A4L e o post sobre a PL.

Transmissão esportiva no Brasil

Estimulado por um post no blog da Trivela que nos convidava ao debate a respeito da fórmula de transmissão esportiva no Brasil (infelizmente, desvirtuado), o sempre arguto Eduardo Mion escreveu um belo post em seu blog:

“Agruras da transmissão esportiva no Brasil
Ando ruminando sobre o assunto desde a final da Libertadores de 2009 e agora, com a confirmação da aquisição dos direitos de transmissão para o Brasil da Liga dos Campeões pela Globo, o gancho apareceu de novo. Para quem não sabe ou não lembra, a final do maior torneio das Américas aconteceu entre Cruzeiro e Estudiantes de La Plata e não teve transmissão ao vivo por TV aberta para São Paulo. A Globo, detentora dos direitos de transmissão, optou por passar Flamengo x Palmeiras, usando como argumento a baixa audiência da final de 2008, entre Fluminense e LDU. Pois bem, houve uma grita generalizada no meio, condenando a opção pelo IBOPE em detrimento do jornalismo. E aproveitando o ensejo, muita gente desceu a lenha na emissora por mágoas futebolísticas antigas, como o ufanismo das transmissões, o puxa-saquismo dos times de maior torcida de RJ e SP e a falta de conhecimento de futebol internacional.”

Continua aqui.

A coincidência (como sempre) é que eu planejei escrever um post sobre trasmissões esportivas aqui e em outros países. Afinal de contas, tenho a minha cota semanal de ao menos um post de autoria minha sobre futebol. Mesmo que não seja dentro das 4 linhas. Amanhã solto mais alguma coisa.

Falando em futebol, dêem um passeio pelos links ao lado que falam de futebol. Alguns são profissionais, outros amadores. Mas todos falam sobre o esporte bretão com muita classe e competência. Maiores que a minha, diga-se de passagem.