Uma rápida olhada pelo calendário da pré-temporada européia mostra uma profusão de torneios e partidas amistosas ocorrendo entre os meses de julho e agosto. Em Londres serão disputados os torneios Emirates Cup e Wembley Cup, com participação de Rangers, Paris St.German, Arsenal e Atletico de Madrid no primeiro e Barcelona, Celtic, Tottenham Hotspur e Al Ahly (Egito) no segundo. Haverá os tradicionalíssimos Teresa Herrera e Ramon de Carranza. Na Alemanha está confirmado o Audi Cup , com Milan, Boca Juniors, Bayern Munique e Manchester United. Também haverá o Amsterdan Tournament, com Ajax, Atletico de Madrid, Sunderland e Benfica. Saindo de território europeu, haverá o Torneo Azteca, com participações de Deportivo La Coruña, Tigres, America (ambos mexicanos) e Villareal. Até o Atlante (Mex) e a LDU (Peru) disputarão o Peace Cup na Espanha, acompanhados de times do calibre de Real Madrid, Sevilla, Juventus, Aston Villa e Porto.
Além dos torneios, há as excursões, como a do Chelsea pela América do Norte, onde jogará contra Milan, Internazionale e America (México), do Manchester United pela China, Indonésia, Coréia e Malásia, do Liverpool por Singapura e Tailândia, Inter pelos EUA e os diversos outros times europeus, argentinos e mexicanos que passearão pelo mundo espalhando suas marcas e conquistando novos consumidores/torcedores.
Ora, nós brasileiros sabemos o quanto esses torneios caça-níqueis são prejudiciais ao bom andamento de uma temporada esportiva (especialmente nós palmeirenses – após o fracasso na Libertadores de 94 onde o time disputou um confronto de vida ou morte com o SPFC extenuado após uma excursão pela Rússia) não? Mais ou menos.
O Emerson Gonçalves, do excelente blog “Olhar Crônico Esportivo” fez um excelente e curto post chamado “Global Players x Provincial Players”, onde ele mostra o quanto nossos clubes estão alijados do mercado mundial. E daí? O que significa isso? Só porque perdemos algum faturamento com esses torneiozinhos de meia-pataca?
Não só. Não só isso. Vejam nesse outro post, do também excelente blog “Jogo de Negócios”, do jornalista e publicitário Fabio Kadow, sobre a torcida brasileira do Manchester United. O lançamento do novo uniforme do Manchester United será um evento global bancado pela Nike, inclusive com ações no Brasil. É. Além de faturamento esporádico, no início da temporada, nossos clubes apequenam suas marcas e deixam de vender seus produtos nos mercados emergentes, inclusive nos EUA, na Ásia, na África (por que não?), na Austrália e onde houver um fã de futebol com dinheiro no bolso e ávido para gastá-lo com camisas, flâmulas, cachecóis, pôsteres e outros. Eles gastam com times europeus, com times argentinos e até com times mexicanos. Mas com brasileiros não.
Ah… mas isso é muito pouco. O Brasil é um país continental, nossos times são seguidos por dezenas de milhões de torcedores aqui. Podemos vender nossas camisas só aqui e ainda sermos potências financeiras, certo? Quase.
Afinal de contas, embora tendo o objeto de desejo mais cobiçado pelos fãs de futebol (o jogador brasileiro, o que mais seria), nossos campeonatos são pouquíssimo divulgados e pouquíssimo televisionados ao redor do mundo. Vejam, até o campeonato russo passará em nossas tvs, que também transmitem Campeonato Francês, Campeonato Holandês, Copa da França, Campeonato Argentino, Campeonato Português, Campeonato Russo, Major Leage Soccer e Women’s League Soccer (cá pra nós… nenhum desses tem um milésimo de apelo pra um fã de futebol no sudeste asiático comparado com o futebol brasileiro), além do Inglês, do Alemão, do Italiano e do Espanhol. E em geral quem assiste o campeonato brasileiro fora do Brasil são os assinantes de Globo Internacional e semelhantes – brazucas no exílio.
Ao vermos as cifras movimentadas pelos principais clubes do mundo com venda de produtos licenciados, com direitos de transmissão, com patrocínios (sendo que os valores com vendas e patrocínios cresceriam proporcionalmente com o crescimento do mercado televisivo – mais telespectadores = mais consumidores atingidos pela marca) percebemos que continuamos deitados eternamente em berço, que cada vez se torna menos esplêndido. A perda de faturamento dos clubes brasileiros é monumental. E nos contentamos em ser meramente exportadores de mão de obra especializada a preço de banana.
E o primeiro aspecto a ser mudado terá de ser o insano, indecente calendário sul americano. Volto a falar sobre calendário em breve. Aliás, por falar em excursões de pré-temporada, torneios amistosos e calendário, o Leonardo Bertozzi da Revista Trivela já falou de leve sobre esse assunto neste post do blog da Trivela. Pois é… o filho-da-mãe furou meu texto com uma semana de antecedência, quando eu já havia começado a redigí-lo. Enfim… na próxima pelada eu me vingarei contra suas canelas. Prepare-se Bertozzi. 🙂
P.S. Em tempo. Acabou de sair no jornal inglês The Independent uma matéria dizendo que o Chelsea faturará £ 2.500.000,00 em sua turnê americana. E Hull City, West Ham e Tottenham receberão £ 700.000,00 por duas partidas na China no Premier League Asia Trouphy (reportagem aqui).
P.P.S. O Fábio Kadow, do blog Jogo de Negócios, postou hoje (20/07) mais uma matéria que mostra os ganhos dos clubes que exploram o mercado asiático. No caso, o Manchester United (aqui).