Arquivo do mês: abril 2010

Leis e Ordens

Um dos meus passatempos favoritos, desses de desentupir os canais cerebrais e não pensar em nada, são séries televisivas policiais. E das dezenas de opções que se nos apresentam na televisão, a que eu mais gosto é a franquia Law & Order.

A série original, que entra em sua incrível vigésima temporada (perde só pra Simpsons em sua vigésima primeira) segue a estrutura meio-a-meio. Metade do episódio é dedicado à investigação de um crime. E nesta meia-hora os protagonistas são atualmente a tenente Van Buren e os detetives Cyrus Lupo e Kevin Bernard.  Dada a longevidade da série, passaram por ela outros nove detetives (entre eles o Mike Logan, de Law & Order Criminal Intent, feito por Chris Noth, Lennie Briscoe, feito por Jerry Orbach e o capitão Cragen, de Law & Order SVU). Solucionado o caso e descoberto o facínora, entra em cena, na segunda metade do episódio, a equipe da Promotoria Pública de Nova Iorque, encabeçada pelo promotor público Jack McCoy (que já fora assistente de promotoria por longas temporadas) estrelado pelo excelente Sam Waterston e seus assistentes Michael Cutter e Connie Rubirosa. Une duas paixões americanas, o thriller policial e o drama de tribunal, tão bem explorado por John Grishan (A Firma, Dossiê Pelicano) entre outros.

Só que a série foi tão bem sucedida que começou a gerar filhotes. E o primeiro rebento foi Law & Order – Special Victims Unit. Diferentemente da série-mãe, nesta não necessariamente há a divisão exata de investigação e tribunal, podendo ou não haver o desdobramento na corte. Mas sua principal peculiaridade é que as tais “vítimas especiais” são em geral vítimas de crimes sexuais.

Já que não há necessariamente a parte do tribunal (e quando há, a assistente de promotoria é Alexandra Cabot), o elenco dos policiais é consideravelmente maior, atualmente formado pelo já mencionado capitão Donald Cragen (uma característica da série é a migração de personagens de um spin-off para o outro) e pelos detetivos Eliott Stabler e Olivia Benson, esses dois desde o início da série. Além destes, há uma equipe formada por John Munch, Odafin Tutuola (feito pelo rapper Ice-T) além dos legistas, técnicos e psiquiatras. Para quem assiste séries na TV aberta é interessante ver que esta série é a que mais abrigou ex-atores da série de prisão Oz. Além do Christopher Meloni (Stabler), outros ex-participantes da prisão como o nazista Vernon Schillinger e o padre Mukada voltaram para a TV como psiquiatras da Unidade de Vítimas Especiais.

Se o tribunal dá a tônica de Law & Order, e a perversão dos crimes sexuais a de SVU, o segundo spin-off tem por marca a investigação de crimes high-profile: Law & Order: Criminal Intent.

Duas equipes se alternavam na investigação dos crimes que envolviam uma alta dose de empatia, de tentar entender o criminoso através de sua lente: Goren e Eames, de um lado e Logan e Serena Stevens de outro. A questão é que a dupla encabeçada por Goren (Vincent D’Onoffrio) agradava tão mais a audiência que a outra que a solução foi trocar o detetive Logan (Noth mudou-se para a série The Good Wife) pelo estelar Zach Nichols, feito por Jeff Goldblum (A Mosca, Jurassic Park).

Por fim o mais recente filhote de Law & Order é um remake. Law & Order: UK.

Esta é uma versão inglesa de Law & Order, onde a equipe de detetives (na versão americana, Van Buren, Lupo e Bernard) é formada por Ronnie Brooks, Matt Devlin e chefiados por Natalie Chandler, enquanto a equipe da Procuradoria da Coroa é formada por James Steel, Alesha Phillips e George Castle. E os episódios (bem poucos, até agora) são todos remakes de episódios da série Law & Order original.

Novidades? Bem poucas. Mas é interessante e revigorante ver uma série ambientada em outra cidade (além de nos apresentar um novo sotaque) além das já batidas Nova Iorque e Los Angeles. Além, claro, do desafio de transpor os casos já encenados para o sistema legal e processual britânico. Não se trata apenas de se colocar uma peruca nos juristas e ao invés de se tratar o juiz por “your honor” (meritíssimo), tratá-lo por “my lord” ou “my lady” (meu senhor ou minha senhora), além das inúmeras referências à coroa ou à rainha.

Tem sido muito interessante. Tanto que na última quarta foi exibido um episódio que eu, por coincidência, já havia assistido na versão americana. “Hidden“, a história de uma mãe que sequestra a própria filha para chantagear o pai é versão de “Bitter Fruit“.

Mas não para por aí.  Há a versão francesa “Paris Contra o Crime“, exibida no Brasil pela GNT, duas versões russas e os desdobramentos já encerrados, como Trial By Jury, Crime & Punishment e Conviction.

Não para por aí. Há a previsão de estréia de Law & Order: Los Angeles. Quem sabe um dia não temos uma série policial de verdade, decente, sem palhaçada ambientada no Brasil?

Um poema às quartas

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Profanar, uma arte

Ler filosofia marxista pode, muitas vezes, ser um exercício árido, por mais que os conceitos sejam importantes . Quem deu uma passadinha por “História e Consciência de Classe“, de Georg Lukács, sabe.

Por isso é sempre necessário se louvar um livro como “Profanações“, de Giorgio Agamben.  Agamben é um típico pensador pós-moderno, que transita entre a crítica literária, crítica cultural, política, direito, teologia, filosofia, sem nunca deixar-se definir. Bem à maneira daquele a quem muitos dizem ser o predecessor de Agamben, Michael Foucault, que de acordo com Fredric Jameson em seu ensaio sobre a pós-modernidade representava o típico pensador pós-moderno, que transita entre as mais diversas áreas do conhecimento, todavia sem se definir por nenhuma delas.

Pois o livrinho (96 páginas) de Agamben é justamente isso. Transita entre a crítica literária (como no ensaio “Paródia”), crítica cultural (“O Dia do Juízo”), teoria política (“Elogio da Profanação”), passando por momentos onde os gêneros de nã0-ficção e ficção se misturam de maneira quase inseparável (“Os Seis Minutos Mais Belos da História do Cinema”) de uma maneira esteticamente admirável.

O ensaio  que dá título ao volume é um admirável esforço conceitual, ao mesmo tempo em que é uma realização estética considerável. Além de apresentar seu conceito de “profanação”, que na teologia significa devolver um objeto ao seu uso original secular (diferentemente de seu uso “sagrado”, que é restrito ao templo, o uso “profano” envolve toda a esfera humana). Nele o filósofo resume aquilo que ele considera a tarefa política das gerações futuras: profanar o improfanável. A religião-capitalismo, que retira do uso corrente as coisas para alçá-las à esfera da contemplação sagrada, fetichista: o consumo.

Aluguel Futebol Clube

O especialista em calendário esportivo no Brasil Luis Felipe Chateaubriand afirma constantemente que uma temporada de futebol de sucesso deve ser racionalmente construída de maneira que seja otimizada nos seus aspectos técnico, comercial e sistêmico. Um calendário que privilegie o aspecto técnico é aquele que permite que os atletas tenham férias, pré-temporada (uma ilusão no Brasil) e tempo para treinar sem comprometer sua saúde. O calendário comercial ideal é o que garante aos cerca de 700 clubes profissionais jogos oficiais em cerca de dez dos doze meses do ano (os outros dois meses são o de férias e o de pré-temporada). E o aspecto sistêmico é o que é alinhado ao calendário mundial, sem conflito de datas com as datas de seleções e que permita que a competição principal (no caso, o Campeonato Brasileiro em suas séries A, B, C e D) seja disputado preferencialmente aos fins de semana enquanto os dias de semana são reservados às competições continentais (Libertadores e Sulamericana), regionais e à Copa do Brasil.

Não precisa ser lá tão astuto assim para perceber que o calendário brasileiro está longe, bem longe  de ser bom. Quanto mais ideal.

Enquanto um time europeu de um grande centro (Itália, Alemanha, Inglaterra, Espanha) joga cerca de 65 partidas por ano disputando três ou quatro competições (uma ou duas copas, a liga nacional e um torneio continental), um clube brasileiro disputará dez partidas a mais, caso chegue nas fases finais dos torneios. É uma carga bem maior para o atleta, ainda mais em um país ainda não habituado a rotação de elenco como são os europeus. E a coisa é pior, pois em geral há um excesso de jogos no primeiro semestre, com o estadual, a Copa do Brasil ou Libertadores e o início do Brasileiro colidindo e impedindo que um time se dedique integralmente às competições, e uma falta de jogos no segundo semestre. E os times que jogam a Sulamericana geralmente a abandonam, pois em geral disputam posições importantes no Campeonato Brasileiro e não possuem elenco para duas competições simultâneas. Um trabalho de asno, esse calendário da CBF.

Porém, o péssimo calendário gera uma distorção ainda maior. Como o Brasileirão começa a pegar fogo só por volta de junho, muitos empresários colocam seus atletas em times do interior de SP, MG e RJ para disputarem o estadual e depois os colocam em algum outro time para disputar o Brasileiro. Com isso, muitos times do interior não tem mais elenco. Esses times alugam alguns jogadores por alguns meses, depois desmancham o elenco, buscam outros atletas e disputam as séries inferiores (isso se disputarem) do Brasileirão. E o atleta passa a ser uma espécie de “trabalhador por contrato temporário”, jogando neste ou naquele time em época de pico, como os temporários contratados pelas lojas na época do natal.

Como esperar que o torcedor do interior tenha o mínimo de identificação com o clube de sua cidade ou com o atleta que veste a camisa de seu time, sabendo que o cara não irá ficar no time por mais de quatro meses? E que o time, na verdade, não existe, mas é uma espécie de camisa alugada por alguns empresários apenas para manterem sua mercadoria (os jogadores) se movimentando para não perder valor de mercado? Não dá, né.

Não por acaso, times tradicionais do interior do Brasil, como o Botafogo de Ribeirão Preto,  o Noroeste de Bauru, a Ferroviária de Araraquara e centenas de outros começam a perder espaço para times artificiais sustentados por empresários como o Atlético Sorocaba do Reverendo Moon, o Guaratinguetá, o Desportivo Brasil e o Grêmio Itinerante (já foi Barueri, agora é Prudente e o que será, ninguém sabe). São times que não tem e não terão torcida. São apenas criadouros de jogadores para serem negociados.

Enquanto seus donos saem por aí dizendo serem uma evolução esportiva, na verdade são o sintoma do sucateamento promovido pela CBF e pelas federações. Pois diferentemente dos clubes que são empresas na Europa ou mesmo as franquias esportivas nos EUA, esses clubes ganham dinheiro com aquilo que seria uma atividade-meio do futebol, a venda de jogadores , e não com a atividade-fim dos clubes de futebol, que é a disputa esportiva (e o eventual lucro que se obtem de patrocínios, transmissões, vendas de produtos e ingressos).

A CBF, enquanto sucateia o futebol brasileiro, ainda enche seus bolsos (e o do Ricardo Teixeira e de seus comparsas) com ele. Uns vampiros, por assim dizer.

A propósito. O Luis Felipe Chateaubriand já escreveu diversos livros sobre o calendário de futebol, entre eles “Futebol Brasileiro: Uma Proposta de Calendário“. Um livro de fácil leitura, claro e com propostas bastante factíveis. Uma leitura agradabilíssima para qualquer fã de futebol. Embora mesmo em sua simplicidade, os asnos que dirigem a CBF não foram capazes de absorver.

P.S. Aqui, mais uma série de postagens sobre o calendário (ou a falta de) do futebol brasileiro.

Thank God it’s Friday – Baden Baden Bock

A cervejaria Kaiser, no início da década de 80, foi a primeira a sair do eterno marasmo formado pelas “pilsens” aguadas que inundam o mercado nacional ao lançar sua sazonal Kaiser Bock. Foi um sopro de frescor nos botecos brasileiros (além de representar uma das melhores relações custo-benefício até hoje). Mas a bock que eu escolhi pra representar aqui é a Baden Baden Bock.

A cerveja bock é elaborada com maltes tostados, que lhe dão a coloração que varia entre o vermelho até o quase preto. A Baden Baden é âmbar avermelhada, com espuma bege e abundante. Tem aromas tostados e adocicados, bem de leve, e sabor levemente tostado e amargo. Tem graduação alcólica de 6,2º mas que se insere muito bem no conjunto, sem se sobressair. A cerveja é mediamente encorpada, e combina bem com o clima de friozinho (aliás, a Baden Baden é a cervejaria do friozinho, pois é de Campos do Jordão e foi criada para abastecer o bar de mesmo nome) e com a comida um pouco mais pesada e picante da estação.

Excelente pedida.

Um poema às quartas

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê –
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

Ainda refletindo a páscoa.

Jornalismo, digo, panfletismo semanal

Jornalismo imparcial é isso aí.

Pois bem… advinhem qual dos governadores, o de São Paulo ou o do Rio que é da coligação PSDB/PFL-DEM e qual apóia o presidente Lula? Fácil, né?

Mas não é só.

Na semana passada o jornal Folha de São Paulo publicou a seguinte manchete: Dilma – “Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil”. Induzindo a crerem que a ministra criticara os exilados políticos, dentre eles diversos membros do PT e, coincidentemente, o candidato José Serra. Mas a declaração da ministra não havia sido aquela. Havia sido o seguinte: “Eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco”.

Há uma grande diferença, não? Sim, há. E a FSP ‘reconheceu’ seu ‘erro’ e noticiou na seção “erramos” na página 3, alguns dias depois:

BRASIL (11.ABR, PÁG. A7) Em parte dos exemplares, foi publicado erroneamente que a pré-candidata do PT à Presidência disse, em evento em São Bernardo no último sábado: “Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil”. A declaração correta, publicada na maior parte dos exemplares, é: “Eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco”.

Claro, como se uma notinha de rodapé na página 3 tivesse o mesmo destaque e repercussão que a manchete original “errada” teve. Aliás, tanta repercussão que o Globo e o Estadão repetiram o “erro” da Folha e publicaram a matéria equivocadamente. Será que os jornalistas, editores, redatores e revisores dos três maiores jornais do país cometeriam um erro tão primário, tão infantil, assim, sem mais nem menos? Quem acreditou nessa história põe o dedo aqui, que já vai fechar.

O estrago já estava feito, tanto que esses jornais entrevistaram um monte de pessoas tendo como mote uma declaração que não existiu. Pois é. Conveniente pedido de desculpas.

Mas a coisa não para por aí.

Nesta mesma semana o site do PT foi atacado por hackers (que já haviam atacado antes e tirado a página do ar)  que colocaram a foto do Serra e assinaram como PSDB Hackers.

Óbvio que o ex-governador não pediu o ataque virtual. Mas então, quem atacou? Oras, sabiamente diz a Revista Veja, quem mais o faria senão o próprio PT?

Chega a ser emocionante, não, a isenção da nossa mídia? E tem gente que ainda argumenta, dizendo que só pode ser verdade, já que saiu na Veja.

(créditos dos tópicos a Guilherme Basílio, parceiro de caminhada virtual e ao blog Na Prática a Teoria é Outra)

P.S. Olha só que ternurinha a capa dessa semana.

Não chega a ser pungente o amor no coração que esse homem carrega? Ah… se não fosse a Veja pra nos mostrar o quão demoníaca é essa Dilma…

Mas será que alguém já pensou em denunciar a Veja pro TSE por propaganda eleitoral antecipada? A redação da Veja deve ter feito estágio com os responsáveis pela edição do debate Lula x Collor de 1989.

P.P.S A blitzkrieg da mídia em favor do Serra não pode parar! Veja a última da Globo. Inocente coincidência, claro.

A páscoa, ainda a páscoa

Depois de duas semanas passadas, caíram em minhas mãos essas duas reflexões sobre a páscoa:

Manual do Minotauro

Por que cremos na páscoa…

Lídia Maria de Lima

Parece que ainda é sexta feira. Ainda não faz nem uma semana que rememora­mos o ciclo pascal e com alegria celebramos a ressurreição de Cristo através das liturgias e da santa ceia. Entretanto, ao ver as notícias da semana um senti­mento de amargura invade a nossa alma. Imagino que este deveria ser o mesmo sentimento que pairava no ar naquela sexta feira de crucificação.

Os olhares ainda são de desespero, há choro, dor, medo e morte. As notícias que chegam do Rio de janeiro, após alguns dias de chuva, nos assombram. Não há como se manter indiferente diante de tanto sofrimento. Famílias inteiras foram soterradas pela falta de políticas públicas que contemplem a periferia. Situação que se repete há anos, não só no Rio de janeiro, mas em muitas cida­des brasileiras. Morar em área de risco não é uma opção, mas a única alterna­tiva encontrada por muitas famílias do nosso país.

Em uma das matérias apresentadas na TV, vi um morador tentando consolar os que choravam por intermédio das palavras do salmista: “Elevo meus olhos para os montes de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Sl 121.1,2). A fé é o que mantém acessa a chama da espe­rança do coração deste povo.

Quando esta “sexta feira” acabar, a dor e as marcas certamente ficarão na vida e na história de muita gente. E o apoio da comunidade cristã será extrema­mente necessário.

Somos desafiados/as a testemunhar os sinais da graça e da unidade do corpo através de ações concretas que possam sinalizar a esta sociedade que, mesmo que o futuro nos pareça assustador ainda é possível crer na páscoa, na passa­gem e na transformação.

Oremos pelas famílias que sofrem, mas aguardam a ressurreição dos sonhos.
Que todos os dias sejam de paz e páscoa.

Sororalmente,

Lídia Maria de Lima

Texto e Textura

A primeira, uma contundente crítica anti-clerical feita a quatro mãos por Laerte e Fernando Pessoa. Ainda que anti-religiosa, profundamente lírica e rica em imagens. E, como diz o Evangelho, se os discípulos não clamarem, as pedras clamarão. Se os cristãos não se levantam contra a comercialização do Evangelho, outras vozes farão e envergonharão ainda mais os cristãos por se omitirem.

A segunda uma tocante mensagem sobre mais uma tragédia que se abateu justamente sobre os mais pobres, os mais desprezados e vilipendiados pelos poderosos e governantes. Mas ainda assim, uma voz que reafirma a esperança que permeia todo discurso cristão. Pois é. Eu também continuo a crer na páscoa. POST TENEBRA LUX, após as trevas, a luz. Após a morte, a ressureição.

Thank God it’s Friday – Erdinger Pikantus

A cerveja Erdinger tem um lugar especial na consolidação da cultura de cervejas gourmet no Brasil. Ela representa para as cervejas especiais mais ou menos aquilo que os vinhos alemães de garrafa azul representaram no mercado de vinhos no Brasil na década de 90: uma introdução, ainda que não fossem produtos de primeiríssima linha. A partir de então o Brasil se interessou, buscou e passou a consumir vinhos de qualidade e das mais diversas proveniências.

Com a Erdinger, trazida para o Brasil pela Bier Und Wein (que, não por coincidência, também importa vinhos alemães – seu nome significa Cerveja e Vinho nesta língua), aconteceu a mesma coisa. Foi a primeirona, numa época em que ao se falar em cerveja “premium” a única coisa que vinha à mente eram Bohemias, Originais e Serramaltes. Com o passar do tempo e com a sofisticação do mercado, graças ao acesso à informação e a um número cada vez maior de opções, a tradicional Weissbier passou a ser vista como uma cerveja inferior, sem tanto sabor e aromas como outras encontradas no mercado.

Não que a Weissbier fosse realmente uma cerveja de destaque. Mas no portfólio da cervejaria bávara, há a Urweisse, que é uma weiss mais de acordo com as características do estilo, com mais aroma e sabor, enquanto a tradicional ocupa um espaço dedicado a cervejas mais “leves” e menos encorpadas.

Mas uma grande cerveja da cervejaria de Erding é a Pikantus. A Pikantus é uma Weizembock (uma bock feita de trigo) com teor alcólico de 7,3º cujo sabor acompanha a potência. A cerveja tem coloração avermelhada escura, com uma espuma densa e duradoura no copo. O aroma é frutado, com leve torrefação, e o sabor é levemente picante com notas torradas, características das cervejas bocks. Embora não seja espetacular como sua irmã Schneider Aventinus, essa sim uma cerveja inesquecível e sensacional, se trata de uma opção de grande qualidade encontrável muito facilmente nos grandes supermercados, tão entulhados de porcarias Ambevianas.

Combina com o friozinho do inverno acompanhando carnes.

Um poema às quartas

O Pastor Pianista

Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.

Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem.

Que reclamando da contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.

Limbo

O Carlos Ruas, cartunista, tem um blog genial. Brinca com um dos temas mais espinhosos que é a religião. E o faz de uma maneira tão deliciosamente engraçada, anti-dogmática mas ao mesmo tempo leve e respeitosa que conquista leitores tanto entre os mais renitentes ateus quanto entre os mais crentes dos evangélicos e católicos.

E um de seus mais geniais cartuns é esse reproduzido aqui, sobre o decreto do Vaticano que acabou com o conceito do “limbo”, lugar para onde iam as almas das crianças não-batizadas.

Fala aí se o cara não é o máximo.

Que fim levaram todas as revoluções

Nunca antes na história da música deste país se viu tamanha revolução. E nem depois. Em plena efervescência da década de 70, ainda bebendo da fonte da tropicália, surge o grupo Secos e Molhados.

Misturando glam rock, rock progressivo e MPB, o som da banda era definitivamente inovador, ao mesmo tempo brasileiro e cosmopolita. João Ricardo, o líder, era talentosíssimo compositor. Mas nada disso seria coisa alguma não fosse pela entrada de Ney Matogrosso. Por mais que João Ricardo fosse o cérebro, Ney era o rosto e a alma.

Ney tinha a voz. Mas não apenas. Tinha (e tem) uma presença de palco  que pouquíssimos artistas tem. Seu jeito de dançar, ainda mais nos repressivos e militares anos 70, era ao mesmo tempo libertário e ofensivo, pois chocava a moral de então, sem nunca parecer grosseiro ou forçado.

E tinha o visual. A adoção de maquiagem, que muitos atribuiram como fonte de inspiração para que os americanos do Kiss também adotassem (nunca confirmado – aliás, o Kiss é outra banda que também se inpirou no glam rock e no glitter de Gary Glitter, T-Rex, Slade e Alice Cooper) criou uma identidade instantânea. E o grupo virou um sucesso instantâneo.

Vendeu muito. Lotava ginásios por onde passavam. E tão rápido quanto ascenderam, saíram da cena. Com a saída de Ney Matogrosso, por mais que muitos digam ser João Ricardo o responsável pelo SM, a banda virou apenas pálida lembrança daquele turbilhão que varreu o Brasil em 1973/1974.

Nada antes chegou perto do impacto que o SM teve na música brasileira. Nem a Tropicália. E muito menos depois, com o roquinho comportadinho e mauricinho dos anos 80 e com o rock infantilóide e comercial dos anos 90/2000.

Muchacha

De Los Tres Amigos (em voga principalmente após a morte de Glauco), o que sempre foi mais bem dotado tecnicamente era o Laerte. Não era tão escrachado quanto Glauco. Nem tão incisivo quanto Angeli. Mas construia personagens profundos, desenhava com perfeição e calcava muitas vezes sua obra em sutilezas pouco exploradas por seus colegas de geração.

E assim como seus colegas, Laerte envelheceu. Cansou de escrever sobre personagens e entrou numa fase mais “filosófica”.

Nessa nova fase, escreveu uma “graphic novel” em folhetim internético. A Muchacha. É uma história passada nos anos 50, época de TV feita ao vivo, de cantoras do rádio e marcathismo (mesmo no Brasil getulista). Deve sair em livro, em versão revista, expandida, corrigida e adaptada. Mas, que tal curtir a obra direto da fonte?

Cliquem na imagem e acompanhem. Mas, lembrem-se. É um blog. Que, como um mangá, deve ser lido de trás pra frente 🙂

Um poema às quartas

13

Cenabis bene, mi Fabulle, apud me
paucis, si tibi di fauent, diebus,
si tecum attuleris bonam atque magnam
cenam, non sine candida puella
et uino et sale et omnibus cachinnis.
haec si, inquam, attuleris, uenuste noster,
cenabis bene: nam tui Catulli
plenus sacculus est aranearum.
sed contra accipies meros amores
seu quid suauius elegantiusuest:
nam unguentum dabo, quod meae puellae
donarunt Ueneres Cupidinesque;
quod tu cum olfacies, deos rogabis,
totum ut te faciant, Fabulle, nasum.

Jantarás bem, Fabulo, em minha casa,
muito em breve se os deuses te ajudarem,
se contigo levares farto e bom
jantar, e não sem fina artista, vinho,
graça e as risadas todas. Isso tudo,
se levares, encanto meu, garanto,
jantarás bem, pois teu Catulo tem
o bolso cheio de teias de aranha.
Em troca aceitarás meros amores
E o que há de mais suave ou elegante,
Pois um perfume te darei que à minha
Garota Vênus e os Cupidos deram,
Que ao sentires aos deuses vais pedir
Te façam, Fabulo, todo nariz.

(Tradução: João Ângelo Oliva Neto)

Futebol e porrada

A desculpa foi arranjada. Estava ensinando inglês para um grupo que, ao mudar de livro, cuja fonologia era baseada na pronúncia-padrão americana para um livro que enfatizava o inglês britânico, passou a enfrentar certas dificuldades para compreender o que escutavam. Então sugeri a meus alunos que assitissem (sem recorrer a legendas em português) alguns filmes como “Harry Potter”, “Bridget Jones” ou “Notting Hill”. Claro, como bons alunos eles não assistiram a filme nenhum. Então eu peguei esse título para servir  de exemplo para as diferenças de pronúncia entre ambas as variedades de inglês.

O filme é Hooligans. Ou, Green Street Hooligans, como saiu na Inglaterra. Conta a história de Matt, expulso de Harvard, que se muda para a Inglaterra para morar com a irmã. Lá passa a se envolver com a “firm” do irmão de seu cunhado, Pete, que apóia o West Ham United.

Peraí! Um americano vai pra Inglaterra e vira hooligan do West Ham! Verossimilhança pro saco. Claro. Mas como vender nos EUA um filme baseado em um produto cultural (futebol) ignorado e desprezado lá e como explicar um outro ambiente cultural (hooliganismo e ‘firms’) totalmente  restrito à Inglaterra? Ora, acrescentando um personagem americano, representado por um ator famoso (Elijah Wood) pra poder vender uns ingressos na terra de tio Sam. Aliás, essa foi a desculpa para eu passar esse filme. Um americano, um inglês bem sucedido e um bando de jovens classe média-baixa e baixa. Ou seja, exposição a três tipos de sotaque de inglês no mesmo filme. Perfeito.

Tirando a bobagem do Matt, o filme é um interessante, cru e por vezes cruel retrato da juventude de classe média-baixa e baixa nos subúrbios de Londres. Explica até com certo didatismo a cultura hooligan inglesa (a representação dos hooligans do Birmingham City – conhecidos como Zulu Nation por causa da grande influência e imigração negra em Birmingham é bem fiel ao que vi no documentário The Real Football Factories).

Aliás, o documentário “The Real Football Factories” é apresentado pelo ator Danny Dyer, que atuou no filme The Football Factory, que conta o conflito entre as “firms” de Millwall e Chelsea. Neste Hooligans os conflituosos são Millwall e West Ham. Em matéria de futebol o Millwall está a décadas nas divisões inferiores. Mas no que diz respeito a pancadaria, os caras são top.