Arquivo do mês: maio 2010

Canções de Setembro

Bertold Brecht é um dos nomes fundamentais do teatro do século XX. Criador do chamado “teatro épico”. Segundo Brecht, o drama burguês, com sua técnica realista, procura a identificação emocional e o enlevo. Seu objetivo era outro. Ao invés de mostrar, narrar. Ao invés de identificar, estranhar. Através do estranhamento e do distanciamento, o espectador conseguiria analisar e aprender, ao invés de se enlevar e se emocionar. A busca era sempre a da análise crítica.

Uma das principais ferramentas de estranhamento utilizadas por Brecht era a música. Seus principais colaboradores musicais foram Hans Eisler e Kurt Weil.

Só que a obra de Weil foi tão excelente que alçou vôo próprio. O próprio Brecht temia que as canções de suas peças mais belas como “The Rise and Fall of the City of Mahagonny” e “The Three Penny Opera” encantariam tanto o público que eles seriam levador por elas, ao invés de as utilizarem como elemento de estranhamento.

Bem, havia o risco.

Em 1997 uma série de importantes artistas como Lou Reed, Nick Cave, P.J.Harvey e outros lançaram September Songs, uma coletânea com algumas das principais canções de Weil e Brecht.

Alguns tostões:

Nick Cave – Mack the Knife

P.J. Harvey – Ballad of the Soldier’s Wife

David Johansen – Alabama Song

William Burroughs – What Keeps Mankind Alive

Lou Reed – September Song

Lotte Lenya – Jenny the Pirate

Um exemplo de peça teatral e musical em estilo brechtiano foi “A Ópera do Malandro”, com “O Malandro” sendo uma versão de “Mack the Knife” e “Genni e o Zepelin” uma adaptação de “The Pirate Jenny”.

Contextos parecidos.

Adeus ao velho Palestra

Foi neste sábado a despedida do Velho Palestra. Despedida melancólica, pois de um lado o time está esfacelado em campo, sem identificação com a torcida, sem garra, sem padrão de jogo. De outro, a suicida e mal-intencionada oposição política do clube torpedeia todas as iniciativas, para que a atual gestão não leve os créditos pela modernização do clube.

Justamente por isso houve tão poucas iniciativas da diretoria do Palmeiras para alavancar o marketing, para transformar a partida em um evento único, que marcasse a vida do torcedor e ainda o inspirasse e ajudasse a passar esses próximos dois anos sem sua casa.

Ainda assim a torcida compareceu em um número maior que o esperado. 18.365 palmeirenses acompanharam a partida de despedida do mais antigo estádio de futebol ainda em atividade no Brasil.

O Palestra Italia é o melhor estádio de São Paulo para vivenciar a experiência do futebol. Primeiramente, está muito bem localizado, pois está próximo da Estação Barra Funda, que atende a Linha 3 do Metrô (Barra Funda-Itaquera), a linha Diamante da CPTM (Amador Bueno-Julio Prestes) e a linha Rubi da CPTM (Francisco Morato-Luz). Essas linhas integram com as linhas Esmeralda da CPTM, Verde do Metrô, Amarela d Metrô e ainda com as futuras linhas Laranja e Prata do Metrô. Ou seja, é o estádio de mais fácil acesso via transporte coletivo. Nos arredores do Palestra Italia há dezenas de bares onde a torcida se reúne horas antes da partida para comer, tomar uma cerveja antes da partida e fazer o aquecimento. Outros estádios como o Morumbi e o Pacaembu não dispõe de estabelecimentos ao redor.

Fará falta o velho Palestra.

Mas estive lá. Na despedida do Palestra eu, o meu irmão Caio e o Alessandro “Grilão” estivemos presentes na vitória sobre o Grêmio por 4 a 2.

Fotos históricas do evento:

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Mas nem tudo é nostalgia ou passado. Há de se olhar para o futuro, sempre. Então, para inspirar a espera, o que nos aguarda:

Um poema às quartas

IRON

Guns,
Long, steel guns,
Pointed from the war ships
In the name of the war god.
Straight, shining, polished guns,
Clambered over with jackies in white blouses,
Glory of tan faces, tousled hair, white teeth,
Laughing lithe jackies in white blouses,
Sitting on the guns singing war songs, war chanties.

Shovels,
Broad, iron shovels,
Scooping out oblong vaults,
Loosening turf and leveling sod.

I ask you
To witness —
The shovel is brother to the gun.

FERRO

Canhões,
Longos canhões de aço,
Apontando das belonaves
Em nome do deus da guerra.
Retos, brilhantes, polidos canhões,
Cavalgados por marujos em túnicas brancas,
Rostos bronzeados, cabelos revoltos, dentes brancos,
Sorridentes marujos em túnicas brancas
Sentados nos canhões, entoando hinos e refrões de guerra.

Pás,
Amplas pás de ferro,
Cavando valas oblongas,
Levantando terra e tufos de grama.

Você é
Testemunha —
A pá é irmã do canhão.

(Tradução: Carlos Machado)

Humor negro, humor canino

“Estamos aqui reunidos para a despedida do melhor assistente que um mágico poderia desejar”. Da revista New Yorker, copiado do blog do Maurício Stycer.

Estes, no blog do Laerte.

A maior banda de rock do mundo

Não. Este epíteto nunca foi utilizado para qualificar o The Police. Mas não seria nenhum absurdo se fosse. Primeiro, porque todos eles eram músicos virtuosos. Na época em que a simplicidade do punk e da new wave combatiam os excessos virtuosísticos, operísticos e pseudo-eruditos de um rock progressivo já em estado de decomposição, os três rapazes eram quase que uma exceção á regra, pois sabiam tocar e muito. Em segundo lugar, porque eles venderam milhões e milhões, chegando no ano de 1984 a serem realmente a mais popular banda de rock de então, antes da ascensão do U2 ao posto (assumido em 1987 com Joshua Tree). Por fim porque… ora, porque a música deles era simplesmente sensacional.

Melodias pop extremamente bem executadas. Reggae, rock, ska, um toquezinho de funk aqui e acolá, sofisticado (os três eram músicos com formação jazzística) mas sem soar pretensioso. Dançante. Enfim… Eu tive minha chance na turnê de reunião em 2008. Mas não deu. Assisti pela televisão mesmo. E digo, melhor seria se nem tivesse, pois basta a memória das melhores músicas compostas no final dos anos 70 e início dos 80.

Message in a Bottle

Don’t stand so close to me

Roxane

Walking on the moon

Every breath you take

I can’t stand losing you

De do do do de da da da

Every little thing she does is magic

Thank God it’s Friday – Eisenbahn Dunkel

Como já devem ter percebido, eu tenho uma grande preferência por cervejas escuras. As duas últimas cervejas mencionadas neste blog (a Murphy’s e esta) são cervejas pretas. Além da Guinness, outra de minhas favoritas.

Mas o que difere ambas stouts irlandesas desta schwarzbier é que as stouts são cervejas tipo ale (alta fermentação), enquanto a Eisenbahn Dunkel é lager (baixa fermentação). Há uma série de diferenças técnicas e em sabor em relação a essas duas famílias de cervejas, cada uma com suas qualidades e particularidades. E a Eisenbahn Dunkel é praticamente uma referência em seu estilo.

Primeiramente, esta é a cerveja brasileira mais premiada no exterior: Beers of the World Editor’s Choice, Medalha de Bronze em 2007 no European Beer Star Award, Medalha de Prata no Australian International Beer Award de 2008, Medalha de Bronze no World Beer Cup e Medalha de Bronze em 2008 no European Beer Star Award. Não é pouca coisa.

E pela participação nesses concursos, a Dunkel é caso único de cerveja “reclassificada” pela fabricante. Ela havia sido inscrita como Dunkel, que em alemã significa “escura” (muitas cervejas se opõe entre “helles” – clara e “dunkel” – escura), podendo ser marrom, avermelhada, enquanto a schwarzbier é obrigatoriamente preta, com características mais fortes de torrefação e amargor. Os juízes do concurso perceberam que a Eisenbahn Dunkel se encaixaria melhor no estilo Schwarzbier. Assim seja.

É uma cerveja espetacular. Com aroma de torrado e café, sabor amargo, torrado, com boa presença do álcool, formando um harmonioso e saboroso conjunto. Tem espuma boa e bege. Agrada à vista, ao nariz e ao paladar. É das melhores cervejas a se encontrar no Brasil. E seu custo benefício então, é sensacional.

Um poema às quartas

Psicologia da Composição

1.

Saio de meu poema

como quem lava as mãos.

Algumas conchas tornaram-se,

que o sol da atenção

cristalizou; alguma palavra

que desabrochei, como a um pássaro.

Talvez alguma concha

dessas (ou pássaro) lembre,

côncava, o corpo do gesto

extinto que o ar já preencheu;

talvez, como a camisa

vazia, que despi.

2.

Esta folha branca

me proscreve o sonho,

me incita ao verso

nítido e preciso.

Eu me refugio

nesta praia pura

onde nada existe

em que a noite pouse.

Como não há noite

cessa toda fonte;

como não há fonte

cessa toda fuga;

como não há fuga

nada lembra o fluir

de meu tempo, ao vento

que nele sopra o tempo.

3.

Neste papel

pode teu sal

virar cinza;

pode o limão

virar pedra;

o sol da pele,

o trigo do corpo

virar cinza.

(Teme, por isso,

a jovem manhã

sobre as flores

da véspera.)

Neste papel

logo fenecem

as roxas, mornas

flores morais;

todas as fluidas

flores da pressa;

todas as úmidas

flores do sonho.

(Espera, por isso,

que a jovem manhã

te venha revelar

as flores da véspera.)

4.

O poema, com seus cavalos,

quer explodir

teu tempo claro; rompendo

seu branco fio, seu cimento

mudo e fresco.

(O descuido ficara aberto

de par em par;

um sonho passou, deixando

fiapos, logo árvores instantâneas

coagulando a preguiça.)

5.

Vivo com certas palavras,

abelhas domésticas.

Do dia aberto

(branco guarda-sol)

esses lúcidos fusos retiram

o fio de mel

(do dia que abriu

também como flor)

que na noite

(poço onde vai tombar

a aérea flor)

persistirá: louro

sabor, e ácido

contra o açúcar do podre.

6.

Não a forma encontrada

como uma concha, perdida

nos frouxos areais

como cabelos;

não a forma obtida

em lance santo ou raro,

tiro nas lebres de vidro

do invisível;

mas a forma atingida

como a ponta do novelo

que a atenção, lenta,

desenrola,

aranha; como o mais extremo

desse fio frágil, que se rompe

ao peso, sempre, das mãos

enormes.

7.

É mineral o papel

onde escrever

o verso; o verso

que é possível não fazer.

São minerais

as flores e as plantas,

as frutas, os bichos

quando em estado de palavra.

É mineral

a linha do horizonte,

nossos nomes, essas coisas

feitas de palavras.

É mineral, por fim,

qualquer livro:

que é mineral a palavra

escrita, a fria natureza

da palavra escrita.

8.

Cultivar o deserto

como um pomar às avessas.

(A árvore destila

a terra, gota a gota;

a terra completa

caiu, fruto!

Enquanto na ordem

de outro pomar

a atenção destila

palavras maduras.)

Cultivar o deserto

como um pomar às avessas:

então, nada mais

destila; evapora;

onde foi maçã

resta uma fome;

onde foi palavra

(potros ou touros

contidos) resta a severa

forma do vazio.

Abolição?

Se nos Estados Unidos o fim da escravidão levou décadas para se consolidar, imagina no Brasil, onde os movimentos por ações afirmativas são torpedeados pela mídia mainstream de direita ligada à FIESP, FEBRABAM e congêneres?

Então, para lembrar a não-abolição da escravidão de 13 de maio, a mera transferência em massa das senzalas para as favelas, uma importante reflexão sobre o tema:

Mais que uma assinatura.

Foi quando “Cristóvão Colombo”, em 1492, invadiu as Américas que a escravidão passou a ser um grande negócio. Os negros eram trazidos, em sua maioria, da costa ocidental da África, entregues em trocas de quinquilharias, (como facas, espadas, armas de fogo, munições, chapéus, peças de vidro e barras de ferro) pelos próprios governantes da África.

Os primeiros negros chegaram ao Brasil por volta do ano de 1580 para trabalhar nas lavouras (cana-de-açúcar, mais comumente). Os negros eram trazidos nos desprezíveis navios negreiros, as viagens duravam meses e muitos negros não sobreviviam a elas devido às condições subumanas a que eram submetidos, falta de higiene, superlotação e alimentação precária contidas na viagem.

Não se pode pensar que os negros aceitaram pacificamente a opressão e nem que toda a população brasileira da época concordava com a situação imposta pela escravidão. Até que veio uma assinatura e pôs fim na história. Fazer isso é limitar a história da abolição, é ignorar e desrespeitar a memória dos mártires negros, heróis e heroínas, negros e brancos, anônimos que perderam suas vidas lutando pela liberdade. Bem, na historia da abolição houve muito mais sangue do que tinta.

Enfim a assinatura faz parte de um todo formado pelo movimento abolicionista e seus membros, mártires (entre eles José Carlos do Patrocínio e Zumbi dos Palmares) e a pressão internacional (em especial da Inglaterra). A queda da escravidão é muito mais que uma assinatura. Na verdade a assinatura, na minha modesta opinião, é a menor parte.

Continua no blog Projeto5

E também, que tal lembrarmos do mais importante militante pelos direitos civis da história: Martin Luther King.

Martin Luther King, Discurso proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, a 28 de Agosto de 1963

“Estou contente por juntar-me a vós hoje, o dia que entrará para a história como o da maior manifestação pela liberdade na história da nossa nação.

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.

Continua no site Esquerda.net

Por fim, o sermão pregado pelo rev.Luiz Carlos Ramos sobre o tema:

Cartas, algemas e promissórias – Reflexões sobre a liberdade e a libertação a partir da carta de Paulo a Filemom


Luiz Carlos Ramos

No dia 13 de maio de 1888, diz-se que foi abolida a escravatura, pelo menos a oficial, legalizada pelo Estado e abençoada pela Igreja. Essa data é analisada da seguinte maneira pelo historiador Alfredo Bosi:

“o treze de maio não é uma data apenas entre outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que avança em duas direções. Para fora: [porque] o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para den­tro: [porque] o mesmo homem negro [é] tangido para os porões do capita­lismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo [grifo meu] e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. (…) Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor da sua pele. Entre as conseqüên­cias dos séculos de escra­vidão no Brasil desenvolveu-se um quadro de exclusão dos negros. No Brasil um branco recebe mensalmente, em média, o dobro do negro.”

Justamente pelo fato de que essa libertação foi antes a do senhor do que a do escravo, é que os negros brasileiros se recusam a comemorar esta data. Como sabemos, e anualmente concelebramos, a data festejada pelos negros é a do Dia da Consciência Negra, aos 20 de novembro, relembrando o martírio de Zumbi dos Palmares, assassinado no ano de 1695. Mas esta é uma outra história.

Continua no blog Texto e Textura.

Termina lá, começa aqui

A temporada está terminando na Europa. A Inglaterra já conhece seu campeão, o Chelsea, em uma temporada surpreendentemente emocionante. Emocionante não pelo fato de ter sido decidida na última rodada entre Chelsea e Manchester United, afinal esses dois times ganharam os últimos seis campeonatos. Mas pelo fato de ter sido finalmente quebrado o chatíssimo clube do Big Four. Tottenham e Manchester City disputaram até a penúltima rodada a vaga na próxima UEFA Champions League, e até o Aston Villa aspirou tal feito. A entrada do Tottenham no Top 4 é auspiciosa por dois motivos: primeiro, porque o time ganhará cacife financeiro para continuar evoluíndo e até quem sabe galgar mais um degrauzinho na tábua de classificação. Segundo porque inevitavelmente o City fará parte desse clubinho em uma ou duas temporadas, já que os árabes não pouparão petrodólares para turbinar seu brinquedo. Portanto, isso garante pelo menos seis clubes brigando, não apenas quatro.

Na Alemanha também terminou. O Bayern Munique levou na última rodada e o Shalke 04 terminou como vice (grande novidade). A UCL verá além dos dois rivais o Werder Bremen, que bateu um Bayer Leverkusen que foi do céu ao inferno em dois meses, passando de líder para quarto colocado em uma sequência incrível de maus resultados.

Itália e Espanha conhecem seus campeões neste fim de semana, com Inter e Barcelona favoritos, enquanto Roma e Real Madrid correm por fora. França também já tem o Olympique Marseille como novo campeão (algo que não ocorria a 18 anos). A primeira edição da Europa League conheceu seu primeiro campeão, o Atletico de Madri que batera o Fulham. Agora algumas copas nacionais serão definidas, além da grande final da UCL no Santiago Bernabeu.

Pois bem. Enquanto a temporada da Europa termina em clímax, com finais, campeões, coroações e todos os torcedores de futebol se preparando para a Copa do Mundo que iniciará em apenas 27 dias, no Brasil começou o Brasileirão.

Brasileirão que começa auspicioso. As duas partidas que assisti, Flamengo 1 x 1 São Paulo e Botafogo 3 x 3 Santos foram excelentes. Além disso outros times mostraram boa capacidade de fazerem boas campanhas, como o Atlético Mineiro e o Corinthians. Palmeiras venceu, mas mostrou muitas falhas e certamente lutará pelas posições intermediárias. Ou como disse o comentarista Paulo Vinícius Coelho, o time espera apenas o ano terminar. Isso no início da temporada.

Mais anticlimático, impossível. Enquanto lá a temporada termina no auge apenas aguardando a cereja no bolo futebolístico, lá na África do Sul, aqui o nosso estúpido calendário conseguiu a proeza de quebrar a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, que terão a semifinal antes da Copa do Mundo e a final depois. Separadas por incríveis quarenta dias. O pior não é isso. O pior é ver o campeonato brasileiro interrompido após sete rodadas. Depois, quarenta dias para desmontar os elencos, saír às compras atrás dos refugos da Europa, trocar de técnico, treinar (coisa que nossa imbecil pré-temporada de doze dias não permite) e começar tudo do zero.

O compasso de espera é tamanho que os dois últimos campeões brasileiros entraram em campo com times mistos, um dos maiores clássicos do Brasil formado por duas fortes equipes que disputam a Libertadores também teve uma profusão de reservas (Inter x Cruzeiro) e até times que teoricamente jogam para não cair, ou no máximo para ficar em situação intermediária, como o Atlético GO ou o Vitória pouparam jogadores. O Grêmio enfrentou o Atlético GO também com time misto e empatou em zero a zero.

Após um primeiro semestre extremamente congestionado de datas, com estaduais hiperinchados, Copa Libertadores, Copa do Brasil e sete rodadas do brasileirão, haverá uma maratona de jogos após a copa, com dez rodadas em 32 dias, e aí começa a Sul Americana, para prejudicar a temporada de alguns times, que abandonarão a disputa do continental ora porque lutam por vaga no G4, ora porque não querem cair para a segunda divisão.

Calendário racional com uma confederação formada por bandidos e desonestos, com uma televisão que consegue dobrar até a prefeitura e a câmara de vereadores de São Paulo para impor o horário das partidas para que elas não prejudiquem suas novelas, com clubes covardes e subservientes e cartolas vendidos e corruptos, infelizmente nunca veremos.

Se antes eu julgava não necessário a adequação do calendário brasileiro ao europeu, hoje eu penso diferente. Acho necessário essa harmonização por vários motivos. Primeiro, porque permiria que os clubes brasileiros participassem do rico mercado de torneios e amistosos de pré-temporada na Europa, Ásia, América do Norte e África. Este expediente permite que Manchester United, Chelsea, Barcelona e Milan ampliem cada vez mais sua base de torcedores/consumidores e eles faturam cada vez mais alto com venda de produtos. Segundo porque permitiria a harmonização do calendário de clubes com o de seleções. Nós não mais teríamos nossos campeonatos prejudicados por Copa América, Copa das Confederações, Copa do Mundo. Também os melhores clubes não seriam mais penalizados por terem seus jogadores convocados pela seleção, coisa que acontecerá agora, com Flamengo perdendo o Kleberson e o Fierro, o Santos perdendo o Robinho e outros.

Infelizmente, nós torcedores de futebol somos obrigados a termos um produto meia-boca graças à incompetência gerencial, pois potencial há para ser um dos três ou quatro melhores e mais rentáveis futebol do mundo, junto de Inglaterra, Itália, Alemanha e Espanha. Mas os medíocres matam a galinha dos ovos de ouro (sempre) por pura ganância.

P.S. Aqui há uma série de textos escritos sobre o tema do calendário brasileiro de futebol.

P.P.S. Aqui há uma proposta fictícia de calendário, criada por mim em uma tarde. Isso mostra que se gente séria fizesse isso, haveria grande possibilidade de termos um calendário decente. Mas não há gente séria administrando o futebol brasileiro.

Um poema às quartas

Antiode (contra a poesia dita profunda)

A

Poesia te escrevia:
flor! conhecendo
que és fezes. Fezes
como qualquer.

gerando cogumelos
(raros, fragéis, cogu-
melos) no úmido
calor de nossa boca.

Delicado, escrevia:
flor! (Cogumelos
serão flor? Espécie
estranha, espécie

extinta de flor, flor
ão de todo flor,
mas flor, bolha
aberta no maduro)

Delicado, evitava
o estrume do poema,
seu caule, seu ovário,
suas intestinações.

Esperava as puras,
transparentes florações,
nascidas do ar, no ar,
como as brisas.

B

Depois, eu descobriria
que era lícito
te chamar: flor!
(Pelas vossas iguais

circunstâncias? Vossas
gentis substâncias? Vossas
doces carnações? Pelos
virtuosos vergéis

de vossas evocações?
Pelo pudor do verso
– pudor de flor –
por seu tão delicado

pudor de flor,
que só se abre
quando a esquece o
sono do jardineiro?)

Depois eu descobriria
que era lícito
te chamar: flor!
(flor, imagem de

duas pontas, como
uma corda). Depois
eu descobriria
as duas pontasda flor:

as duas
bocas da imagem
da flor: a boca
que come o defunto

e a boca que orna
o defunto com outro
defunto, com flores,
– cristais de vômito.

C

Como não invocar o
vício da poesia: o
corpo que entorpece
ao ar de versos?

(Ao ar de águas
mortas, injetando
na carne do dia
a infecção da noite).

Fome de vida? Fome
de morte, frequentação
da morte, como de
algum cinema.

O dia? Árido.
Venha, então, a noite,
o sono. Venha,
por isso, a flor.

Venha, mais fácil e
portátil na memória,
o poema, flor no
colête da lembrança.

Como não invocar,
sobretudo, o exercício
do poema, sua prática,
sua lânguida horti-cultura?

Pois estações
há, do poema, como
da flor, ou como
no amor dos cães;

e mil mornos
enxertos, mil maneiras
de excitar negros
êxtases, e a morna

espera de que se
apodreça em poema,
prévia exalação
de alma defunta.

D

Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:

flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude – em
disfarçados urinóis).

Flor é a palavra
flor, verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.

Flor é o salto
da ave para o vôo;
o salto fora do sono
quando seu tecido

se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.

E

Poesia, te escrevo
agora: fezes, as
fezes vivas que és.
Sei que outras

palavras és, palavras
impossíveis de poema.
Te escrevo, por isso,
fezes, palavra leve,

contando com sua
breve. Te escrevo
cuspe, cuspe, não
mais; tão cuspe

como a terceira
(como usá-la num
poema?) a terceira
das virtudes teologais.

Católico gosta de sexo, evangélico gosta de dinheiro

É incrível a racionalização utilizada para a justificativa dos crimes (e pecados) praticados pelas cúpulas eclesiásticas (católicas e protestantes) ao redor do globo.

Enquanto na mídia brasileira a famosa ganância dos evangélicos tem sido noticiada por vinte anos initerruptos, os crimes sexuais cometidos por padres e prelados que antes irrompiam ora aqui, ora ali, parecem ter atingido níveis endêmicos.

Eis uma interessante reflexão de um ex-pastor protestante sobre o nível de distorção doutrinária praticada pelas igrejas neopentecostais.

Pragmatismo em detrimento da Verdade

Minha mulher estava lendo uma revista evangélica que me é enviada e o fazia em estado de perplexidade ante o artigo de uma pessoa considerada séria, e que dizia que apesar de o Neo-Pentecostalismo ser a expressão mais completa da total ausência do Evangelho, todavia, dizia ela, tem-se de admitir que tais movimentos têm promovido, com suas teologias de sucesso e prosperidades, um espírito de ascensão social, o qual, é inegavelmente positivo, segundo ela; para depois concluir que quem se opõe a tais coisas, sejam pessoa criticas, negativas e sem Graça e Misericórdia.

Então Adriana me leu o texto da revista…

Ao concluir disse mais ou menos o seguinte [com palavras e modos dela, que não são fáceis para mim o reproduzir com exatidão]:

“Mas esta pessoa aqui não é séria?… Como ela pode estar tão vendida assim?… O que ela está fazendo é um desserviço ao Evangelho… Ela está jogando pra platéia… Está corrompendo a consciência dos frágeis… Ou não entendeu o Evangelho ou está em engano…”

Achei patético também… Deu-me pena…; mas depois muita compaixão.

O que a pessoa dizia era que se o fator sócio-econômico mostrar indicadores de ascensão social, então, mesmo que seja algo feito em nome de Jesus, mas que seja a própria antítese do Evangelho, pelo fenômeno do estimulo e resultado de sucesso no mercado […]; sim, por tais realizações o anti-evangelho estaria justificado […]; enquanto os que acusam tais coisas de serem os piores inimigos da Cruz de Cristo justamente por falarem em nome de Jesus aquilo de Jesus nada tem, são vistos como os negativos e sem Graça de Deus na vida.

O que a pessoa de fato dizia, simplificando, é que o critério mundano de ascensão sócio-econômico, tem supremacia em importância sobre o Evangelho; e, com isto, afirma também que o eixo de seu amor mudou da eternidade para o mundo, para o mercado, para Babilônia, em sutil abandono do amor pela Nova Jerusalém; ou seja: deixou de dizer seja feita a Tua vontade assim na Terra como no céu; e passou a dizer: Que o padrão da Nova Zelândia e do 1º mundo nos alcancem a qualquer preço, ainda que seja pela via de um estelionato para com Jesus e o Evangelho.

Ou seja: aquilo que é importante diante dos homens e que Jesus disse que é abominação diante de Deus, para ela passou a ser o critério superior para determinar se algo é positivo ou negativo, sem entender que a inversão de tal valor corrompe o ser, arranca toda esperança da glória de Deus do coração, e, literalmente […] enterra a pessoa no pó da terra; e, sem que ela note, tal hiper-valorização dos fenômenos terrenos, acabam por expulsar os últimos resíduos de esperança do coração…

Um dia a pessoa acorda e já não é…

E mais ainda sobre o artigo da revista cristã:…tudo o que a pessoa dizia era em nome do Cristianismo, e nunca em nome de Jesus; sim, nunca em nome do Evangelho; e por uma razão: lá no fundo ela sabe que é impossível.

A gente pode nascer filho de Deus, e, de repente, sem sentir, virar neto do 13º Apóstolo, o Pai do Cristianismo, o Vovô Imperador Constantino. Esse é o poder corruptor da Religião […]; e que eu conheço muito bem; com certeza bem mais do que ela; e há muito mais tempo e em intensidade e profundidade que ela não sonha sequer avaliar…

Com muito desejo de que a verdade não gere amargura, mas quebrantamento sincero […] — desejo a tal pessoa e a todo aquele que advogue a mesma causa irreconciliável com Jesus e com o Evangelho, que a Palavra da Vida prevaleça sobre a Vida sem Palavra, mas apenas com moralismos, de um lado, e, de outro, com um desejo imoral de ver positividade onde Jesus só veria miséria, é que me despeço com amor Nele,

Caio Fabio (extraído do Pavablog, um interessante site de reflexão evangélica)

Por outro lado, a ação contumaz da Igreja Católica em abafar, omitir, esconder, buscar acordos extra-judiciais, calar, transferir pedófilos e outras, não seria o suficiente para caracterizá-la como uma quadrilha? Um grupo constituído para a prática contumaz de atividades criminosas? Pelo menos é o que quer Richard Dawkins, o célebre ateu militante, que entrou na justiça britânica pedindo a extradição de Joseph Ratzinger (aka Bento XVI) para ser processado pela justiça britânica por impedir e acobertar os crimes cometidos pelos membros da igreja.

Esta reflexão é séria e incisiva, ainda que não desrespeitosa à Igreja:

De má fé

JOHN CORNWELL

Em uma tarde de verão no final da década de 1990, minha mulher e eu estávamos à beira de uma piscina nos montes Albano, ao sul de Roma. Observávamos um grupo de meninos de 10 a 13 anos que brincavam na água. Faziam parte de um coral britânico em turnê e haviam cantado em uma missa na basílica de São Pedro, no Vaticano.
Divertindo-se com eles, estava um seminarista, Joe Jordan, que os acompanhou, sem ser convidado, de Roma. Após observar seu comportamento ruidoso, que envolvia fazer cócegas e outras brincadeiras de mão, minha mulher, que lecionou em escolas de Londres por 14 anos, disse: “Aquele rapaz tem um problema: eu não o deixaria perto de uma criança sem supervisão”.
No ano seguinte, Jordan foi ordenado padre e indicado para uma paróquia no País de Gales, no Reino Unido. Em 2000, foi condenado no Tribunal da Coroa, em Cardiff (capital do País de Gales), a oito anos de prisão por abuso sexual de menores em Doncaster e Barry, perto de Cardiff.
Quando perguntei ao reitor do seminário de Jordan por que minha mulher tinha levado apenas alguns minutos para identificar o que ele e seus colegas não conseguiram reconhecer em um período de cinco anos, ele disse: “Ora, Joe era um homem devoto. Não havia qualquer indício de problema”.
O problema oculto de Jordan não era apenas dele e dos meninos de quem abusou, mas um problema de recrutamento, triagem e formação de padres católicos em todo o mundo. Hoje é um problema do papa. O escândalo dos padres católicos pedófilos pode se tornar a maior catástrofe a afligir a igreja de Roma desde a Reforma [no século 16].
A visita de Bento 16 ao Reino Unido em setembro o levará a Holyrood, onde será recebido pela rainha Elizabeth 2ª, cujo ancestral Henrique 8º fundou o protestantismo anglicano. Em uma missa ao ar livre no aeroporto de Coventry, ele irá abençoar as poucas relíquias de um inglês notável -o cardeal John Henry Newman [1801-90], líder espiritual da era vitoriana. Bento 16 deverá beatificar o mais célebre inglês convertido ao catolicismo.
É improvável que o papa busque nos extensos escritos do cardeal respostas para as questões urgentes sobre o sacerdócio católico disfuncional. Mas talvez devesse fazer isso.

O legado de Newman
Em 1845, aos 44 anos, Newman deixou o ministério anglicano por Roma. Sua conversão abalou o país. Foi acusado de mentiroso, um apóstata que havia traído a família, a religião e a nação para adotar a “prostituta da Babilônia”.
Somente quando ele se explicou, em sua “Apologia pro Vita Sua” (Em Defesa da Própria Vida), conseguiu afastar as alegações sobre sua honestidade. A reputação de Newman como um grande literato e teólogo continuou crescendo após sua morte. Porém seu maior legado para o sacerdócio católico hoje foi seu exemplo de vida celibatária enquanto desfrutava um companheirismo permanente e afetuoso.
Sua amizade íntima com o padre Ambrose St. John, com quem foi enterrado, muitas vezes foi interpretada como um relacionamento homossexual. Seja qual for o caso, a importância dessa intimidade foi sua maturidade -o apoio mútuo de amigos unidos em uma intensa vida pastoral e literária.
Quando o papa Bento 16 ainda era um jovem professor, conhecido como padre Joseph Ratzinger, ele, como muitos jovens teólogos do pós-guerra na Alemanha, escolheu Newman como seu herói intelectual.
Inspirado pelos textos de Newman, o padre Ratzinger foi um defensor entusiástico e explicador das iniciativas reformistas do Concílio Vaticano 2º. O papa João 23, que iniciou o Vaticano 2º, o comparou com abrir as janelas de um quarto abafado. Tudo, assim, ecoava a ideia de igreja de Newman.
“Aqui embaixo, viver é mudar”, escreveu Newman, “e ser perfeito é ter mudado bastante”. Newman insistiu, também, em que a consciência individual de uma pessoa é mais crucial que a autoridade da igreja. Os textos teológicos do jovem Ratzinger ecoam a influência de Newman.
Então algo traumático e nunca totalmente explicado aconteceu com o professor Ratzinger. Coincidiu com o período de rebeliões em 1968, quando um bando de estudantes blasfemos invadiu a Universidade de Tübingen, onde Ratzinger ensinava. Ele sentiu que havia vislumbrado o abismo de uma nova idade das trevas.

Sempre a mesma
Retirando-se para o ambiente tranquilo da Universidade de Regensburg, preparou-se para se dedicar não tanto à mudança quanto ao conservadorismo. Se a igreja desejasse sobreviver ao surto de relativismo, socialismo, anarquia e secularismo agressivo, precisava ser clara e definida; deveria ficar “semper eadem”, sempre a mesma.
O professor Ratzinger foi nomeado arcebispo de Munique e Freising em 1977 e, depois, cardeal. Continuou reverenciando Newman e apoiando os decretos do Concílio Vaticano 2º. Mas agora insistia em que Newman e o Vaticano 2º foram muito mal compreendidos pelos católicos liberais.
Quando João Paulo 2º indicou Ratzinger para chefe do departamento que vigia a ortodoxia teológica (a Congregação para a Doutrina da Fé), foi confiando em que conteria a proliferação de dissidentes, principalmente os teólogos da libertação da América do Sul.
Assim, quando Bento 16 sucedeu João Paulo 2º, em 2005, os católicos tradicionalistas estavam confiantes em que ele conteria os “progressistas” de uma vez por todas.
Nos últimos cinco anos, ele trouxe de volta a missa em latim, reduziu as anulações de casamentos e restringiu o ecumenismo e o diálogo entre as religiões; a igreja tornou-se cada vez mais centralizada.
Enquanto isso, revelações de abuso infantil clerical em grande escala e ocultações episcopais, que começaram a surgir durante o pontificado de João Paulo 2º [1978-2005], continuaram proliferando.
Nos anos 1990, João Paulo 2º e o cardeal Ratzinger tendiam a desprezar os relatos como maledicência da mídia. Simplesmente não podiam acreditar que os padres pudessem ser abusadores de qualquer coisa, a não ser em escala muito pequena e excepcional.
Bento 16 foi obrigado a modificar essa opinião, mas continua pensando no abuso como um lapso espiritual, mais que um problema psicológico, social e criminal. O abuso dos padres pedófilos é, em sua visão, um grande pecado, mais do que um grande crime. Sua estratégia para lidar com a crise se baseia nessa convicção. Em 20 de março, Bento 16 deu um veredicto severo sobre o escândalo dos abusos na Irlanda, em uma “carta pastoral” à igreja daquele país.
A causa da crise, disse, fora o secularismo e as tentações que ele representa para a santidade dos padres.

Padres perplexos
A maioria inocente dos padres da Irlanda se indignou por ter sido manchada pelo mesmo pecado que os estupradores de crianças. Estão furiosos com a desculpa implícita de Bento 16 ao Vaticano e ao papado.
Enquanto isso, suas iniciativas para combater a praga dos padres pedófilos se concentram nos remédios sobrenaturais, mais que nos humanos. Ele decretou que a hóstia eucarística (que os católicos acreditam ser o “corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo”) deveria ser exposta para adoração em centenas de igrejas em toda a Irlanda.
Prometeu enviar equipes de clérigos ao país para investigar seus seminários, monastérios, paróquias e dioceses. Essas tropas de choque espirituais vão pregar o Evangelho novamente para os envergonhados clérigos e freiras irlandeses.
Na mesma carta, o papa culpa as interpretações clericais errôneas das reformas do Vaticano 2º. Em outras palavras, os católicos liberais são, em última instância, responsáveis por seduzir o clero irlandês, afastando-o da piedade sacerdotal. Ficou evidente, desde a década de 1970, que o sacerdócio católico está em crise. Cem mil padres deixaram o ministério no período de duas décadas, e a hemorragia continua.
Contra esse pano de fundo, o escândalo dos padres pedófilos é um de uma série de sintomas de uma crise que inclui critérios de recrutamento inadequados, triagem inexperiente e leiga, formação questionável nos seminários e o perigo de definir o sacerdócio em termos de exaltação espiritual.
O sacerdócio celibatário católico atrai muitos homens que têm vocações autênticas. Pelo mesmo motivo, como confere a cada ordenado um respeito imerecido e até adulação (uma posição superior à dos anjos), também pode atrair homens com problemas sexuais, sociais e psicológicos não resolvidos.

Formação inadequada
O processo de triagem raramente envolve leigos, incluindo mulheres, que tenham perícia adequada. A rotina regulada dos seminários, com suas preocupações devocionais e uma vida comunitária agradável, totalmente supervisionada, é uma preparação irreal para a vida sem supervisão na solidão gregária experimentada por muitos padres paroquianos, que vivem sós, sem o apoio de um relacionamento significativo.
A formação de relacionamentos maduros e duradouros, conhecidos como “amizades particulares”, é ativamente desencorajada no seminário. Se Bento 16 tivesse citado Newman como um exemplo de sacerdócio, poderia ter proposto uma preparação e um estilo de sacerdócio mais adequados às pressões dos pastores católicos no mundo moderno.
Quando o corpo de Newman foi exumado em preparação para sua beatificação, a mídia ficou surpresa pela notícia de que ele tinha sido enterrado com Ambrose St. John.
Essa circunstância foi usada para alegar que eles tinham um “relacionamento gay”. Na verdade, Newman, quaisquer que fossem suas tendências sexuais, certamente viveu uma vida de castidade. Mas acreditava que um padre deveria desfrutar de uma companhia permanente, com todo o afeto mútuo e o apoio que um tal relacionamento implica.
Na visão de Newman, a formação para o sacerdócio deveria ser feita no trabalho em paróquias, mais que em uma casa monástica fechada. Uma vida pastoral de sacerdote, segundo Newman, deveria ser de uma domesticidade normal; ele deveria comer bem, tirar folgas frequentes, desfrutar seu vinho e alimentar muitas amizades, com homens e mulheres.
Seu legado dificilmente combina com o conservadorismo do papa Bento 16. É totalmente possível, na verdade, que sua beatificação indique uma tentativa de sanificar seu legado, mais que adotar os aspectos críticos a Roma.
Podemos esperar, com a beatificação, versões convenientes das visões críticas e liberalizantes de Newman sobre a Igreja Católica. É improvável que elas ofereçam consolo aos abusados, mas poderão contribuir para o longo processo de cura que está pela frente, que deve começar pela admissão da responsabilidade compartilhada pelo sacerdócio disfuncional da igreja, chegando até o topo.

JOHN CORNWELL é professor no Centro de Estudos Avançados em Teologia e Religião do Jesus College, da Universidade de Cambridge. É autor de “O Papa de Hitler” (Imago).
A íntegra deste texto saiu na “New Statesman”.
Tradução de° Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Publicado em abril no caderno Mais! da Folha de São Paulo

A situação tá tão feia, mas tão feia que até quando um bispo se manifesta buscando esclarecer uma distinção psicológica e legal e explicar uma declaração dita por outro bispo, isso é interpretado como uma defesa da pedofilia:

Tocar em adolescente é diferente de tocar em criança, diz bispo emérito de Blumenau, D.Angélico Sândalo Bernardino.

Bem, eu conheci o bispo Angélico Bernardino a uns dez anos atrás, em um culto ecumênico que aconteceu na paróquia Santa Cruz de Itaberaba, onde eu, minha esposa, meu cunhado e uma amiga éramos os únicos metodistas na ocasião, isso antes da radical guinada reacionária tanto da ICAR quanto da Igreja Metodista. Certamente d.Angélico não estava defendendo a leniência ou o “direito” a tocar em adolescentes, sabendo que ele sempre foi um bispo fortemente engajado em lutas sociais, opção preferencial pelos pobres e outras lutas que a cúpula reacionária, conservadora e elitista das igrejas (católica e evangélicas) sempre se omitem. Mas a maré anda tão brava que até essa acusação sobrou para o velho bispo, punido pelo Vaticano por ter sido defensor dos pobres e da Teologia da Libertação.

Realmente, ultimamente tem sido difícil ser cristão dentro das igrejas cristãs.

Thank God it’s Friday – Murphy’s Irish Stout

A cerveja Guinness goza de um status quase mítico no mundo das cervejas. Ela é praticamente, junto com a cor verde, o trevo, a religião católica e a língua celta, um fator de identidade nacional da Irlanda. Então, desviar-se da aura de ortodoxia quase religiosa que envolve a Guinness equivale quase à heresia.

Pois bem. Herege sou.

Provei recentemente a Murphy’s Irish Stout, uma das cinco marcas importadas pela Heineken, que recentemente adquiriu a FEMSA.

A Murphy’s é uma dry stout, como sua colega Guinness Draft, também “turbinada” por uma bolinha de nitrogênio que confere a textura e a cremosidade de uma cerveja “on tap” à latinha (mas que nos obriga a consumí-la em copo, e não direto da lata – o que aliás é preferível). Sua aparência é muito semelhante à da Guinness, um preto quase absoluto com um lindo creme bege no topo.

A cerveja tem um leve amargor e leve sabor tostado. Menos pronunciados que na sua parceira irlandesa. Tem um aroma bastante agradável e levemente adocicado, com notas torradas. Contém 4º de graduação alcoólica e é, embora menos encorpada que a Guinness, bastante saborosa, bem apropriada para servir como aquele chopinho casual após um longo dia de trabalho.

A algum tempo existia no Brasil a Beamish, outra famosa Irish Stout, mas que infelizmente teve sua distribuição descontinuada no Brasil. Porém os dois exemplares restantes representam muito bem seu estilo aqui em Pindorama.

O gol de 30 milhões de Libras

Este é o valor que o Tottenham Hotspur pode embolsar, caso consiga participar da fase de grupos da UEFA Champions League.

audere est facere

E os rapazes fizeram.

Tottenham Hotspur na UEFA Champions League 2010/2011.

Um poema às quartas

Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!