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Termina lá, começa aqui

A temporada está terminando na Europa. A Inglaterra já conhece seu campeão, o Chelsea, em uma temporada surpreendentemente emocionante. Emocionante não pelo fato de ter sido decidida na última rodada entre Chelsea e Manchester United, afinal esses dois times ganharam os últimos seis campeonatos. Mas pelo fato de ter sido finalmente quebrado o chatíssimo clube do Big Four. Tottenham e Manchester City disputaram até a penúltima rodada a vaga na próxima UEFA Champions League, e até o Aston Villa aspirou tal feito. A entrada do Tottenham no Top 4 é auspiciosa por dois motivos: primeiro, porque o time ganhará cacife financeiro para continuar evoluíndo e até quem sabe galgar mais um degrauzinho na tábua de classificação. Segundo porque inevitavelmente o City fará parte desse clubinho em uma ou duas temporadas, já que os árabes não pouparão petrodólares para turbinar seu brinquedo. Portanto, isso garante pelo menos seis clubes brigando, não apenas quatro.

Na Alemanha também terminou. O Bayern Munique levou na última rodada e o Shalke 04 terminou como vice (grande novidade). A UCL verá além dos dois rivais o Werder Bremen, que bateu um Bayer Leverkusen que foi do céu ao inferno em dois meses, passando de líder para quarto colocado em uma sequência incrível de maus resultados.

Itália e Espanha conhecem seus campeões neste fim de semana, com Inter e Barcelona favoritos, enquanto Roma e Real Madrid correm por fora. França também já tem o Olympique Marseille como novo campeão (algo que não ocorria a 18 anos). A primeira edição da Europa League conheceu seu primeiro campeão, o Atletico de Madri que batera o Fulham. Agora algumas copas nacionais serão definidas, além da grande final da UCL no Santiago Bernabeu.

Pois bem. Enquanto a temporada da Europa termina em clímax, com finais, campeões, coroações e todos os torcedores de futebol se preparando para a Copa do Mundo que iniciará em apenas 27 dias, no Brasil começou o Brasileirão.

Brasileirão que começa auspicioso. As duas partidas que assisti, Flamengo 1 x 1 São Paulo e Botafogo 3 x 3 Santos foram excelentes. Além disso outros times mostraram boa capacidade de fazerem boas campanhas, como o Atlético Mineiro e o Corinthians. Palmeiras venceu, mas mostrou muitas falhas e certamente lutará pelas posições intermediárias. Ou como disse o comentarista Paulo Vinícius Coelho, o time espera apenas o ano terminar. Isso no início da temporada.

Mais anticlimático, impossível. Enquanto lá a temporada termina no auge apenas aguardando a cereja no bolo futebolístico, lá na África do Sul, aqui o nosso estúpido calendário conseguiu a proeza de quebrar a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, que terão a semifinal antes da Copa do Mundo e a final depois. Separadas por incríveis quarenta dias. O pior não é isso. O pior é ver o campeonato brasileiro interrompido após sete rodadas. Depois, quarenta dias para desmontar os elencos, saír às compras atrás dos refugos da Europa, trocar de técnico, treinar (coisa que nossa imbecil pré-temporada de doze dias não permite) e começar tudo do zero.

O compasso de espera é tamanho que os dois últimos campeões brasileiros entraram em campo com times mistos, um dos maiores clássicos do Brasil formado por duas fortes equipes que disputam a Libertadores também teve uma profusão de reservas (Inter x Cruzeiro) e até times que teoricamente jogam para não cair, ou no máximo para ficar em situação intermediária, como o Atlético GO ou o Vitória pouparam jogadores. O Grêmio enfrentou o Atlético GO também com time misto e empatou em zero a zero.

Após um primeiro semestre extremamente congestionado de datas, com estaduais hiperinchados, Copa Libertadores, Copa do Brasil e sete rodadas do brasileirão, haverá uma maratona de jogos após a copa, com dez rodadas em 32 dias, e aí começa a Sul Americana, para prejudicar a temporada de alguns times, que abandonarão a disputa do continental ora porque lutam por vaga no G4, ora porque não querem cair para a segunda divisão.

Calendário racional com uma confederação formada por bandidos e desonestos, com uma televisão que consegue dobrar até a prefeitura e a câmara de vereadores de São Paulo para impor o horário das partidas para que elas não prejudiquem suas novelas, com clubes covardes e subservientes e cartolas vendidos e corruptos, infelizmente nunca veremos.

Se antes eu julgava não necessário a adequação do calendário brasileiro ao europeu, hoje eu penso diferente. Acho necessário essa harmonização por vários motivos. Primeiro, porque permiria que os clubes brasileiros participassem do rico mercado de torneios e amistosos de pré-temporada na Europa, Ásia, América do Norte e África. Este expediente permite que Manchester United, Chelsea, Barcelona e Milan ampliem cada vez mais sua base de torcedores/consumidores e eles faturam cada vez mais alto com venda de produtos. Segundo porque permitiria a harmonização do calendário de clubes com o de seleções. Nós não mais teríamos nossos campeonatos prejudicados por Copa América, Copa das Confederações, Copa do Mundo. Também os melhores clubes não seriam mais penalizados por terem seus jogadores convocados pela seleção, coisa que acontecerá agora, com Flamengo perdendo o Kleberson e o Fierro, o Santos perdendo o Robinho e outros.

Infelizmente, nós torcedores de futebol somos obrigados a termos um produto meia-boca graças à incompetência gerencial, pois potencial há para ser um dos três ou quatro melhores e mais rentáveis futebol do mundo, junto de Inglaterra, Itália, Alemanha e Espanha. Mas os medíocres matam a galinha dos ovos de ouro (sempre) por pura ganância.

P.S. Aqui há uma série de textos escritos sobre o tema do calendário brasileiro de futebol.

P.P.S. Aqui há uma proposta fictícia de calendário, criada por mim em uma tarde. Isso mostra que se gente séria fizesse isso, haveria grande possibilidade de termos um calendário decente. Mas não há gente séria administrando o futebol brasileiro.

O gol de 30 milhões de Libras

Este é o valor que o Tottenham Hotspur pode embolsar, caso consiga participar da fase de grupos da UEFA Champions League.

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E os rapazes fizeram.

Tottenham Hotspur na UEFA Champions League 2010/2011.

Será que é desta vez?

A temporada 2009/2010 da Premier League está particularmente emocionante. Três clubes disputam o título: Manchester United, Chelsea e Arsenal (que a despeito de ter perdido pontos neste fim de semana, tem a tabela mais tranquila dos três), garantindo briga até o finalzinho. E diferentemente dos anos anteriores, o clubinho dos quatro parece ter sido quebrado.

A última vaga para a UEFA Champions League está aberta e sendo disputada a foice por Tottenham Hotspur, Manchester City, Liverpool e Aston Villa. E eis a grande surpresa. O time atualmente mais credenciado a levar a vaga é o Tottenham. Um time com grande torcida em Londres, concentrada na zona norte, famoso por ter um futebol bonito e ofensivo mas com uma sala de troféus bem pouco populosa. Aliás, o último título nacional (dos dois) conquistado pelo Tottenham Hotspur foi em 1961.

Isso tudo e ainda a eterna fama de amarelão. O time joga bem, joga bonito, mas quando chega na hora do vamo-ver, o time refuga e entrega. Foi  o que aconteceu na temporada 2006, quando chegou na quarta posição até a última rodada mas teve um surto de desinteria (comida estragada) que fez com que o time perdesse a derradeira e decisiva partida, perdendo a tão sonhada vaga para a UCL na última rodada justamente para seus inimigos mortais, o Arsenal (também da zona norte).

Depois de algumas temporadas tentando adotar uma gestão futebolística “moderna”, tentando inovar diante de uma cultura conservadora e pouco afeita a novidades como a inglesa, o presidente Daniel Levy voltou a adotar a forma “britânica” de ver o futebol. Nas temporadas anteriores o time contratou treinadores do continente (Martin Jol, Juande Ramos), um diretor de futebol para dividir a tarefa do planejamento, investiu pesado mas teve duas temporadas com péssimo início e que só depois de muita luta escaparam das últimas posições. Pois desta vez contrataram o Harry Redknapp. Boleirão. Nada sofisticado. Não afeito a ser um grande tático, mas um administrador de elenco. Mas esse “Joel Santana” cockney levara o modesto Porstmouth ao título da FA Cup. Porque não dar certo no norte de Londres?

Parece estar dando.  O time, que mesmo nas temporadas fracassadas contava com um elenco bem qualificado, parece ter encaixado seu jogo e continua  demonstrando um futebol bonito e bem ofensivo.  Mas diferentemente do 4-3-3 do Arsenal (dirigido pelo francês Wenger), do 4-3-1-2 com meio-campo em losango do Chelsea (dirigido pelo italiano Ancelotti) e do 4-2-3-1 do Liverpool (dirigido pelo espanhol Benítez), o Tottenham joga no inglesíssimo 4-4-2 em linha, com dois meias-centrais (um mais recuado, Palacios, um mais ofensivo, Huddlestone) e dois wingers que jogam quase colados à linha lateral.  E o futebol bonito flue.

Restando seis rodadas (sete para alguns com partidas atrasadas) o Tottenham tem cinco pontos de vantagem sobre o Manchester City, com seu milionário elenco. Embora o Manchester City tenha uma partida a menos, a ser disputada hoje (segunda feira 29/03). O que significa que a vaga pode ser consolidada no confronto direto no estádio City of Manchester. Aston Villa tem 51 pontos em 31 partidas e parece estar perdendo fôlego, como acontecera na temporada anterior. O Liverpool tem os mesmos 54 pontos, mas um jogo a mais que Tottenham e Aston Villa e dois a mais que o Manchester City.

O que pode tirar a vaga dos Spurs é o fato deles certamente enfrentarem a tabela mais complicada, com uma sequência contra Chelsea,  Arsenal e Manchester United (os Spurs  costumam ratear feio diante de times grandes), além do confronto contra o City. Faltam poucas semanas para saber se o velho boleiro conseguiu imprimir uma mentalidade vencedora nos Spurs ou se a velha sina de entregar o ouro na reta final prevalecerá.

Os clubes mais ricos do mundo

Saiu a última edição do Deloitte Football Money League.

O relatório que aponta quais são os clubes mais ricos da Europa mostrou algumas modificações no ranking em relação ao ano anterior. Barcelona utrapassa o Manchester United e os dois espanhóis fazem a dobradinha na ponta. Na equipe inglesa o Arsenal ultrapassa o Chelsea, ocupando a quinta posição. E o clube fica mais restrito, só com participantes ingleses, espanhóis, italianos, alemães e franceses, já que o Fenerbaçe, único time de fora desse Top 5, não está mais na relação.

(gráfico retirado do site Olhar Crônico Esportivo – especializado em gestão e finanças do futebol)

Breves comentários:

  • O Manchester United teve aumento do faturamento, mas perdeu sua posição graças à desvalorização da Libra Esterlina frente ao Euro.
  • Há sete clubes ingleses no ranking, contra cinco alemães, quatro italianos, dois franceses e dois espanhóis.

Para efeito de comparação, aqui está o ranking do faturamento dos clubes brasileiros no ano de 2008 (os resultados de 2009 ainda não saíram).

Sobre embalagens e produtos

Nas minhas andanças futebolísticas a última novidade que descobri é o “The Football League Show“, um programa com os melhores momentos de algumas partidas e os gols de toda a rodada da segunda, terceira e quarta divisões do futebol inglês.

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O formato do programa é quase igual ao outro programa da BBC que fala sobre futebol, o “Match of the Day“. A diferença é que há dois “Match of the Day” por semana, um aos sábados e outro aos domingos, portanto há mais tempo para mostrar os melhores momentos, análise tática e conversa sobre as partidas. No “The Football  League Show” há muito mais partidas para serem transmitidas e apenas um programa por semana.

Porém o que chama a atenção são dois detalhes. Primeiro, a forma do espetáculo. Tanto os programas quanto as partidas são excelentemente produzidos. É muito interessante, mas mesmo na terceira ou quarta divisão, os estádios são lindos, todos com assentos numerados, e com alta presença de público. Não por acaso o Championship (segunda divisão) tem média de público 50% maior que nosso Brasileirão. Os gramados são verdadeiros tapetes. Os uniformes são padronizados. Não existe “macacão de fórmula um”, patrocínio só na frente e o patch da liga na manga. Impressiona ver como os ingleses reconstruíram seu futebol após uma segunda metade dos anos oitenta catastrófica.

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As finais dos campeonatos também são muito legais. Os dois primeiros de cada divisão são promovidos automaticamente, e os quatro subsequentes disputam um playoff pela vaga remanescente, cuja final é disputada em Wembley. Então vemos partidas de times de segunda, terceira e quarta divisões em Wembley, levando públicos impressionantes tanto para os clubes, muitos dos quais pertencentes a pequenas vilas do interior da Inglaterra, como também pelo fato de serem disputadas muitas vezes em dias de semana.

Ainda falando de forma,  os programas são legais. No Brasil o que há são as insuportáveis mesas-redondas. Não importa se Galvão Bueno seja um insuportável populista, Milton Neves um desonesto intelectual, Juca Kfouri um pedante elitista ou PVC um cara de memória prodigiosa. Não são os personagens que estão errados. É o formato. É enervante assistir um bando de gente, muitas vezes palpiteira, falando, falando, falando sobre futebol, enquanto não se vê nenhum futebol.

No MOTD e no TFLS o que se vê é futebol. Jogos. Gols. Quando há papo, ele se dá a respeito das partidas. Como há mais tempo no MOTD, eles usam recursos gráficos (tipo Supertirateima) para ilustrar as análises, mas análises se dão sobre as partidas. O TFLS chega a ser ainda melhor. Pois é uma avalanche de gols. Imagina uma hora e vinte minutos para passar gols de 36 partidas, sem perder nenhuma (a não ser que a partida ocorra no domingo). É uma verdadeira orgia futebolística. Enquanto isso, no Brasil há uma “narração de foda”.

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Agora, falando de conteúdo… bem… se a forma é  quase perfeita para um adorador de futebol, o conteúdo deixa a desejar. Algumas partidas do Championship chegam até a exibir certa qualidade. Assim como no Brasileirão Série B há bons jogadores e boas partidas, há bons jogos e boas partidas na segundona inglesa. Mas quando os jogos passam a contemplar times na segunda metade da tabela ou (pior), divisões inferiores, a coisa pega. Voltamos àquele célebre jogo de chutões, correria e chuveirinhos para a área. Gols oriundos de pixotadas grotescas dos goleiros, tropeções épicos dos zagueiros ou então dum centroavante trombador que empurra tudo e todos pra dentro do gol começam a pulular. E nem dá pra culpar os gramados pelas falhas. Eles são perfeitos.

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Aí percebemos. Não pode existir outro país do futebol senão a Inglaterra. Que outro país conseguiria colocar 10.000, 15.000 pessoas num jogo de terceira ou quarta divisões, cuja qualidade não é melhor que aquela pelada de várzea no campinho de terra lá do seu bairro?

Agora, como fazer para assistir essas pérolas do futebol alternativo? Welcome to the world of torrent…

Despírito Desportivo

Desde a decadência do Calcio como principal campeonato de futebol do mundo, Inglaterra e Espanha brigam cabeça a cabeça pelo posto de principal centro futebolístico atual. Depois de grande predominância inglesa, a Espanha contra-ataca e reúne os principais atletas do mundo em suas equipes.

E enquanto acompanhava os jogos do fim de semana, me surpreendi com dois resultados especificamente: Liverpool 6 x 1 Hull City e Tottenham Hotspur 5 x 0 Burnley. Espantei-me, mas não deveria, pois o campeonato já tivera  outros resultados elásticos como Arsenal 4 x 0 Wigan, Liverpool 4 x 0 Burnley, Sunderland 4 x 1 Hull City, Arsenal 4 x 1 Portsmouth, Wigan 0 x 5 Manchester United, Liverpool 4 x 0 Stoke, Hull 1 x 5 Tottenham, Everton 1 x 6 Arsenal e ainda veria o Sunderland enfiar 5 x 2 no Wolverhampton.

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Enquanto isso na Espanha, Barcelona e Real Madrid dividem a ponta com 100% de aproveitamento e profusas goleadas. Ah, no começo do texto disse que neste ano a Espanha levara os melhores atletas para seus clubes. Corrigindo, levara para o Real Madrid (Benzema, Ronaldo, Kaká, Xabi Alonso, Arbeloa) e para o Barcelona (Ibrahimovich, Maxwell – além da manutenção da base que ganhara a tríplice coroa). O Ubiratan Leal, nesta semana, escreveu uma interessantíssima coluna falando sobre a concentração de renda e o desequilíbrio financeiro no futebol espanhol nesta temporada.

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Eis o fato. Não se produzem goleadas com tanta facilidade no Brasil como na Inglaterra e na Espanha. E não dá apenas para dizer que isso é o resultado de um nivelamento por baixo do campeonato nacional por causa do êxodo de atletas. Não é apenas isso.

No ranking de faturamento dos clubes brasileiros, o quinto clube com maior faturamento em 2008, o Corinthians, teve uma receita de R$ 117,5 mi, enquanto o clube com maior faturamento, o São Paulo, arrecadou R$ 160,5 mi, 36,6% a mais. Enquanto isso na Inglaterra, o quinto maior faturamento fora do Tottenham Hotspur, de 145 mi de Euros, contra 325 mi de Euros do primeiro, o Manchester United. Uma diferença de 124%. Na Espanha a diferença é ainda mais gritante.

A FIFA e a UEFA tentam brecar a influência cada vez maior do dinheiro nos resultados esportivos, ora tentando brecar transferências de menores aliciados pelos clubes maiores, ora tentando impor de alguma forma uma espécie de fair play financeiro. Até agora não tem sido possível, pois o sucesso comercial do próprio futebol acaba por alimentar o desnível, com cotas de patrocínio e premiações cada vez maiores pagas aos participantes da UEFA Champions League em relação aos demais clubes, criando um abismo entre eles, uma casta de “superclubes”, intocáveis, inatingíveis.

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Enquanto no passado era possível um clube pequeno ser campeão com a revelação de uma geração de atletas brilhantes (vide os títulos europeus de Celtic, Aston Villa, Nottingham Forest, Steua Bucareste e Estrela Vermelha), tal fato se torna cada vez mais difícil nos dias de hoje por causa do abismo financeiro. Para os torcedores e atuais dirigentes destes superclubes, tudo ótimo, pois o que importa são os resultados e a rivalidade. Mais ainda, tal fato pode solapar a atratividade do futebol como um todo, pois quem se interessará por um campeonato onde as quatro (ou duas, dependendo do país) primeiras posições já são conhecidas de antemão, inclusive por quais clubes e em qual ordem?

Download do Deloitte Football Club Money League aqui.

Futebol Finance – Receita dos clubes brasileiros.

Futebol Finance – Deloitte Football Money League.

P.S. O título é quase uma homenagem à banda Super-Simetria, já contemplada neste blog aqui.

Match of the Day

Começou a temporada 2009/2010 do campeonato inglês. Quem gosta de futebol como eu assiste até Segunda Divisão do campeonato gaúcho (sem demérito ao gauchão Série B, claro), mas dos internacionais o que eu mais gosto é a Premier League. Até pelo fato de não haver tempo no mundo para acompanhar todos os campeonatos e todos os clubes! Então, entre o calccio decadente, o espanhol monopolizado e um alemão em ascensão, fico ainda com o “inglesão”.

E como nem sempre o horário dos jogos bate com a minha agenda, pois não posso me esquecer que eu também tenho outros centros de interesse, além de uma esposa a quem devoto amor e atenção (pelo menos tento 🙂 ), a solução para acompanhar o maior número possível de jogos, equipes e jogadores é o Match of the Day.

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Apresentado pela lenda futebolística inglesa Gary Lineker e Adrian Chiles, o programa conta com uma gama de comentaristas que incluem o ex-lateral esquerdo do Arsenal Lee Dixon, o ex-zagueiro do Liverpol Alan Hansen, o ex-centroavante do English Team e do Newcastle Alan Shearer (em licença, ao tentar a impossível tarefa de dirigir o Newcastle United) e mais uma série de especialistas.

Eis o legal do programa. Ele passa os melhores momentos de todas as partidas da rodada (mínimo de 3 min.), entrevistas com os técnicos e principais jogadores da partida além de discussão SOBRE a partida em si. Os comentaristas e os apresentadores conversam sobre as principais jogadas, fazem análise aprofundada da tática com a aplicação de gráficos sobre o jogo em si (estilo “supertirateima” das transmissões esportivas da Vênus Platinada), mostram todos os gols da rodada (no programa de domingo: como são dois dias de rodada, o programa passa ao sábado e ao domingo à noite, e na edição de domingo, os gols do sábado são reprisados) e nada mais!

Quanta diferença dos programas de debates esportivos brasileiros. De Mesa Redonda-Futebol Debate, passando por Terceiro Tempo e chegando nos programas a cabo da ESPN e Sportv, o que vemos é falação, falação e mais falação.

O tempo dedicado às imagens das partidas em si é extremamente reduzido. No máximo os gols da maioria das partidas e alguns momentos das principais partidas da noite. Depois, toma conversa. E se a conversa ainda valesse a pena, se fosse pautada pelas partidas, ainda seria útil. Mas não é. Os programas da TV aberta misturam um sensacionalismo tão exacerbado, com boatos de transferências e polêmicas forçadas. Os da TV por assinatura acabam por se tornar veículos de cronistas em suas egotrips, com pouco espaço à análise mais detalhada do jogo em si. E com exceção do PVC e de alguns poucos outros, há uma grande ignorância sobre tática na TV brasileira, o que empobrece bastante o nível do debate.

Agora, o mais interessante da história toda é que o Match of the Day é conhecido como o supra-sumo da chatice futebolística! Muitos ingleses não se conformam com o formato ou com o papo dos comentaristas apresentados no programa. Como diz a lenda, são felizes e nem sabem. Apresentem o Chico Lang, o Flavio Prado ou o Milton Neves pra eles…

P.S. Como faço pra assitir a um programa transmitido pela BBC de Londres? Welcome to the world of bittorrent…

P.P.S. Já está no ar no site da BBC a análise do Lee Dixon sobre a partida Tottenham x Liverpool.

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Nela o colunista mostra o quanto Xabi Alonso fará falta no time do Liverpool, já que nenhum dos volantes consegue imprimir o jogo de passes verticais que o Alonso conseguia, o que abria defesas e encurralava o adversário. Agora o Gerrard é obrigado a voltar pra buscar a bola e deixa o Torres totalmente isolado, presa fácil de uma defesa bem postada como foi a do Tottenham. Resto aqui.

P.P.P.S. O amigo Michel Costa, do blog Além das Quatro Linhas, escreveu um post sobre o início da temporada 2009/10 da Premier League. Aproveitando o ensejo da pincelada tática que eu mencionei do Lee Dixon, fica aqui a dica para o blog A4L e o post sobre a PL.

Crise, que crise?

Eis que o primeiro mês da janela de transferências de verão se vai e tirando as extravagâncias madridistas o mercado se porta com a mais suspeita das calmarias.

Na Inglaterra quem movimenta as peças é o Manchester City e sua injeção de capital via Dubai. Contrataram Roque Santa Cruz, Gareth Barry, mas aquela ambição de formar uma seleção mundial com Fabregas, Buffon, Cristiano Ronaldo e outros está longe de se concretizar. Ainda devem chegar boas e caras peças, como Tevez, talvez Eto’o. Porém nada que indique que o City brigará pelas primeiras posições na liga.

O detalhe é que até os que devem brigar pelas primeiras posições primam pela discrição. O Manchester United perdeu Ronaldo e Tevez. E não dá pistas de que deva torrar todas as libras esterlinas faturadas com a venda do paneleiro da Madeira em reforços. O tão sonhado Benzema também se bandeou para os lados do Santiago Bernabeu. E a realidade é Antonio Valencia. Um bom meia-externo. Mas nada que faça a torcida suspirar. O Liverpool, que terminou a temporada em alta, engata uma marcha-ré terrível, com a ameaça de perder Xabi Alonso, Javier Mascherano, Alvaro Arbeloa e sem a perspectiva da chegada de peças de reposição à altura. Glen Johnson? Sim. Bom lateral direito. Mas nada que os torne mais candidatos ao título. E o Chelsea, que deve ter a generosa carteira de Abramovich aberta novamente, trouxe apenas o treinador Carlo Ancelotti, ainda uma grande incógnita. Mas seu time envelhecido e desmotivado ainda não viu um único reforço digno de nome.

Parece que a desvalorização da Libra Esterlina frente ao Euro, aliada à generosidade fiscal castelhana,  faz com que a chuvosa ilha deixe de ser um destino desejado pelos futebolistas do mundo.

A Itália vê a decadência, iniciada com a falta de modernização do futebol no final dos anos 90, aprofundada com o Calcciocaos em 2005/2006, dar as caras de vez por lá. Figo, Nedved e Kaká não jogarão mais na próxima temporada. Ibrahimovich, Pato, Pirlo e Maicon demonstram querer buscar novos ares caso seus clubes não garantam a valorização que julgam merecer. E com a exceção de Diego, não há a chegada de nenhum nome de peso à península.

Somente a Espanha agita esse mercado de transferências. Mas o abismo que separa o Real e o Barça dos outros deve se aprofundar ainda mais. O Valencia está fora do mercado. O Sevilla demonstra não ter cacife financeiro para buscar reforços que o capacitem como candidatos ao título. Mesmo o Barça demonstra não mais ter a pujança financeira necessária para buscar reforços caríssimos, querendo inclusive se desfazer de Eto’o. Apenas o Real turbina o mercado com contratações hiperinflacionadas custeadas por transações financeiras pra lá de suspeitas.

E no Brasil o tradicional êxodo de jogadores no verão europeu não começou. E nada indica que ele repetirá a revoada de anos anteriores.

Crise? Impressão sua. Vamos ver como funcionará a xepa do fim da janela, lá pro fim de agosto.