Clipping – Editora processa blogueira: pode plagiar esta notícia

Uma das minhas áreas de estudo (na faculdade) e interesse pessoal é tradução. Já até postei aqui neste blog uma tradução coletiva que eu e um grupo de colegas fizemos de um conto de Katherine Mansfield: Her First Ball (Seu Primeiro Baile). Pois lendo o blog do Sérgio Rodrigues, romancista e crítico literário, topei com a seguinte notícia que beira o bizarro:

Editora processa blogueira: pode plagiar esta notícia

A tradutora e blogueira Denise Bottmann, do site Não Gosto de Plágio, precisa de ajuda. Caçadora mais ou menos solitária de picaretas editoriais, está sendo processada pela editora Landmark, que pede ao juiz indenização mais a retirada de seu blog do ar – informa Alessandro Martins, do blog Livros e Afins. Tudo por ter denunciado que a tradução de “Persuasão”, de Jane Austen, lançada pela Landmark com a assinatura de um de seus proprietários, Fábio Cyrino, seria praticamente um xerox de uma antiga – e fraca – tradução portuguesa da lavra de Isabel Sequeira, até em seus numerosos erros. A blogueira Raquel Sallaberry, do Jane Austen em Português, também está sendo processada pela editora.

Caso a denúncia seja mesmo na mosca, como os exemplos citados em seu blog indicam (tem até uma mesma gralha cômica, “átrio” virando “trio” em ambos os textos), Denise terá exposto mais uma vez o golpe de requentar traduções sem pagamento de direitos, bandeira de subdesenvolvimento cultural que infelizmente está longe de ser novidade no Brasil. Se você também não gosta de plágio, ajude a espalhar a notícia.”

Incrível, não? A blogueira Denise Bottman denuncia uma desonestidade intelectual e é ameaçada de processo pelos autores da desonestidade intelectual. O máximo, não? Ainda não. Veja o que a Denise publica hoje em seu blog:

justiça e internet

sexta-feira recebi uma carta de citação da quarta vara cível de são paulo.

numa ação movida pela editora landmark e pelo sr. fábio cyrino, estou sendo processada por pretensas calúnias contra os reclamantes, por ter publicado no nãogostodeplágio provas mostrando a prática de plágio nas traduções de persuasão, de jane austen, e o morro dos ventos uivantes, de emily brontë, ambas publicadas pela referida editora em 2007.

além de vultosa indenização por pretensos danos morais e materiais, os reclamantes solicitaram:
– “publicidade restrita”, isto é, que o processo corresse em sigilo de justiça,
– a remoção do blog nãogostodeplágio da internet, invocando o “direito de esquecimento”,
– “antecipação dos efeitos da tutela de mérito”, isto é, que a justiça determinasse a remoção imediata do blog antes da avaliação do mérito da ação impetrada.

o juiz, em seu despacho, não determinou segredo de justiça e negou a antecipação de tutela, por considerar que se trata de uma questão complexa, envolvendo discussão a respeito da liberdade de expressão e crítica na internet, sendo necessária uma análise mais apurada dos fatos para verificar a verossimilhança das alegações.

entre as variadas reações extrajudiciais e judiciais que tenho enfrentado a partir das denúncias feitas aqui no nãogostodeplágio, esta é a primeira que solicita a remoção do blog.

isso, a meu ver, extrapola o campo em que devo me defender contra acusações de pretensa denunciação caluniosa e adquire envergadura mais ampla. estamos aqui numa seara muito mais delicada e fundamental, a saber, a simples e básica necessidade de constante defesa do estado de direito, contra tentativas de amordaçamento e atropelo das garantias democráticas da sociedade.”

Ou seja, ela não estava apenas sendo processada. A editora Landmark também estava pedindo a censura do blog por ele ter denunciado um processo de desonestidade intelectual.

Renovo o pedido do Sérgio Rodrigues: podem plagiar a notícia.

13 Respostas para “Clipping – Editora processa blogueira: pode plagiar esta notícia

  1. Fábio
    muito obrigada.
    Ainda não recebi a notificação judicial mas publiquei uma nota de esclarecimento.

    • Fabio Martelozzo Mendes

      Não precisa agradecer, Raquel.

      Blogar é exercício de utilidade pública. Mantenha-me informado do desenrolar desse processo que eu publico as atualizações aqui.

      Abraços.

      Fabio M

  2. Parabéns pelo comentário, Fábio. Questão muito pertinente, assim como o trabalho de Denise Bottmann, que ao invés de censura, deveria receber estímulo!

  3. Fabio Martelozzo Mendes

    Estímulo, Victorino, ela está recebendo. Embora não atue profissionalmente como tradutor, conheço as dificuldades da profissão.

    Pagamentos pífios, prazos extremamente reduzidos, pressão por parte dos clientes e uma grande dificuldade em ver seus direitos reconhecidos.

    Abraços.

  4. Pingback: Editora Landmark processa a tradutora Denise Bottmann, do Não Gosto de Plágio « { Bibliophile }

  5. prezado fábio, agradeço o apoio e a divulgação.

    • Fabio Martelozzo Mendes

      Não precisa agradecer, Denise. Espero que o desfecho seja o mais positivo possível, com essa editora sendo desmascarada e sendo processada pelo Ministério Público, como já estão sendo investigados.

      O Juiz deu um grande passo ao não aceitar as ridículas exigências de “publicidade restrita” e de “princípio de esquecimento”.

      Abraços e sucesso.

  6. Tive conhecimento desse blog da Denise na Caros Amigos. Isso sim é respeito à profissão unido à paciência e disciplina de pesquisador.

    Já soube de alguns amigos jornalistas de resenhas sobre livros onde o ‘crítico’ faz restrições à tradução do alemão sabendo desse idioma, quando muito, apenas a escalação da fantástica seleção de 74.

    O caso em tela não é impostura jornalística, o que já é grave. É estelionato seguido de tentativa de censura.

  7. Fabio Martelozzo Mendes

    Estelionato e tentativa de censura. Excelente definição.

    O bizarro é o estelionatário pego com a boca na botija querer processar quem o pegou…

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