Se nos Estados Unidos o fim da escravidão levou décadas para se consolidar, imagina no Brasil, onde os movimentos por ações afirmativas são torpedeados pela mídia mainstream de direita ligada à FIESP, FEBRABAM e congêneres?
Então, para lembrar a não-abolição da escravidão de 13 de maio, a mera transferência em massa das senzalas para as favelas, uma importante reflexão sobre o tema:
Mais que uma assinatura.
Foi quando “Cristóvão Colombo”, em 1492, invadiu as Américas que a escravidão passou a ser um grande negócio. Os negros eram trazidos, em sua maioria, da costa ocidental da África, entregues em trocas de quinquilharias, (como facas, espadas, armas de fogo, munições, chapéus, peças de vidro e barras de ferro) pelos próprios governantes da África.
Os primeiros negros chegaram ao Brasil por volta do ano de 1580 para trabalhar nas lavouras (cana-de-açúcar, mais comumente). Os negros eram trazidos nos desprezíveis navios negreiros, as viagens duravam meses e muitos negros não sobreviviam a elas devido às condições subumanas a que eram submetidos, falta de higiene, superlotação e alimentação precária contidas na viagem.
Não se pode pensar que os negros aceitaram pacificamente a opressão e nem que toda a população brasileira da época concordava com a situação imposta pela escravidão. Até que veio uma assinatura e pôs fim na história. Fazer isso é limitar a história da abolição, é ignorar e desrespeitar a memória dos mártires negros, heróis e heroínas, negros e brancos, anônimos que perderam suas vidas lutando pela liberdade. Bem, na historia da abolição houve muito mais sangue do que tinta.
Enfim a assinatura faz parte de um todo formado pelo movimento abolicionista e seus membros, mártires (entre eles José Carlos do Patrocínio e Zumbi dos Palmares) e a pressão internacional (em especial da Inglaterra). A queda da escravidão é muito mais que uma assinatura. Na verdade a assinatura, na minha modesta opinião, é a menor parte.
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E também, que tal lembrarmos do mais importante militante pelos direitos civis da história: Martin Luther King.
Martin Luther King, Discurso proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, a 28 de Agosto de 1963
“Estou contente por juntar-me a vós hoje, o dia que entrará para a história como o da maior manifestação pela liberdade na história da nossa nação.
Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.
Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.
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Por fim, o sermão pregado pelo rev.Luiz Carlos Ramos sobre o tema:
Cartas, algemas e promissórias – Reflexões sobre a liberdade e a libertação a partir da carta de Paulo a Filemom
No dia 13 de maio de 1888, diz-se que foi abolida a escravatura, pelo menos a oficial, legalizada pelo Estado e abençoada pela Igreja. Essa data é analisada da seguinte maneira pelo historiador Alfredo Bosi:
“o treze de maio não é uma data apenas entre outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que avança em duas direções. Para fora: [porque] o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: [porque] o mesmo homem negro [é] tangido para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo [grifo meu] e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. (…) Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor da sua pele. Entre as conseqüências dos séculos de escravidão no Brasil desenvolveu-se um quadro de exclusão dos negros. No Brasil um branco recebe mensalmente, em média, o dobro do negro.”
Justamente pelo fato de que essa libertação foi antes a do senhor do que a do escravo, é que os negros brasileiros se recusam a comemorar esta data. Como sabemos, e anualmente concelebramos, a data festejada pelos negros é a do Dia da Consciência Negra, aos 20 de novembro, relembrando o martírio de Zumbi dos Palmares, assassinado no ano de 1695. Mas esta é uma outra história.
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